Apresentação - Dossiê Marion
Palavras-chave:
Marion, Metafísica, FenomenologiaResumo
Sob o patrocínio da CAPES, CNPq e FAPEMIG, esforços conjuntos de Grupos de Trabalho da ANPOF (Estudos Cartesianos, Desconstrução, Linguagem e Alteridade e Levinas) possibilitaram a realização no final de 2014 do Colóquio "O sujeito pós-metafísico: em torno do pensamento de Jean-Luc Marion" em Uberlândia. Ele reuniu boa parte dos pesquisadores brasileiros das áreas de Fenomenologia e Desconstrução e, ainda, contou com significativa participação internacional, incluindo a presença do próprio Jean-Luc Marion.
A ideia foi organizar um colóquio para discutir a questão do sujeito pós-metafísico, a partir do diálogo que Jean-Luc Marion estabeleceu com a tradição fenomenológica, em particular com o pensamento de Levinas e o de Derrida. Pretendeu-se, então, abordar o tema da subjetividade, tal como aparece na Filosofia Contemporânea, notadamente na Fenomenologia. O fio condutor foi o próprio pensamento de Jean-Luc Marion, que se mostra não somente como uma elaboração conceitual eminente, rica e complexa, mas também pronta a estabelecer diálogo, confrontação ou comparação com outros pensadores da pós-modernidade. Tratou-se, portanto, de se interrogar: em primeiro lugar, sobre a fenomenologia da doação, na medida em que ela introduz uma subjetividade que efetua a redução ao dado (Husserl, Heidegger); em seguida, sobre aquela que considera, segundo a trama do dom, o doador ou o destinatário (Derrida); enfim, sobre aquela que se constitui pela determinação do "adonné", pela qual Marion descreve um sujeito que se constitui a partir da auto-afecção (Henry), ou na medida em que responde a um chamamento (Heidegger, Levinas). Pronunciando "eis me aqui", se põe também a questão da declinação do sujeito segundo os casos (acusativo, dativo e vocativo). Se tal subjetividade originária não realiza mais nenhuma função metafísica, então ela não é mais presente a si senão sobre o modo do afeto (Henry) ou do traço (Derrida). Tais resultados levaram Jean-Luc Marion a abordar essa subjetividade num quadro intersubjetivo, o que é propriamente possível no caso do amor erótico. Considerando, entretanto, a complexidade da determinação da subjetividade por J.-L. Marion, não podemos esquecer de suas releituras fenomenológicas de duas figuras privilegiadas da tradição filosófica, a saber, aquela de Descartes e a de Santo Agostinho, nas quais toda essa problemática da subjetividade "passiva" encontra seu prolongamento e confirmação.
No âmbito do colóquio, pudemos então refletir sobre os aspectos diferentes e múltiplos do que podemos chamar de subjetividade pós-metafísica, entendida como instância originária que faz experiência de si nas condições de uma certa impossibilidade, de um excesso ou mesmo de violência como é o caso, por exemplo, da interpelação por outrem na impossibilidade de (per-) doar. Desse modo, surge uma subjetividade nova que não tem relação com o modo autárquico de um domínio de si, mas que aparece, desde então, como um "si" dotado de uma interioridade que experimenta uma passividade essencial. Uma passividade que se pode entender como submetida ao que é imprevisível, incalculável ou indecidível, em resumo, ao que concerne totalmente ao acontecimento. Sujeito assim descentrado e desapropriado, embora se descubra, originária e paradoxalmente, de uma maneira inteiramente positiva como uma força afirmativa (de um "sim" da resposta, de um "eis me aqui" etc.). Enfim, nessa perspectiva, a questão crucial posta foi: tal subjetividade nova, que "vem após o sujeito", será ela suficiente para fornecer um novo modelo para se aplicar no terreno da Ética, do Direito, da Política ou da Religião?
O material que ora publicamos consiste em boa parte em textos de muitas das suas conferências, que, posteriormente, foram aperfeiçoados e desenvolvidos, em virtude dos debates havidos no colóquio e da interlocução e colaboração intelectual iniciadas nessa ocasião. [...]
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