Resumo
As mudanças estruturais ocorridas no capitalismo contemporâneo trouxeram novas condicionantes para os usos do território no Brasil. Nesse sentido, observa-se a inserção de novos agentes da esfera financeira, notadamente fundos de investimentos diversos, investidores corporativos e indivíduos de alta renda, que passam a participar, e em grande medida controlar, direta ou indiretamente, processos produtivos dos mais diferentes setores no território brasileiro. Este processo foi por nós avaliado, tomando como situação empírica o Grupo Cosan S.A., principal controlador do setor sucroenergético brasileiro (produção de cana-de-açúcar e derivados), analisada a partir de dados secundários sobre a produção agrícola e agroindustrial do referido grupo, bem como estratégias e características ligadas à financeirização da empresa (abertura de capital, comportamento dos investidores, dentre outras), a partir de informações obtidas em bancos de dados públicos e privados. A análise do uso do território pelo Grupo Cosan permite identificarmos transformações associadas a inserção do referido agente no atual contexto de financeirização da economia global e as implicações territoriais que lhe são inerentes. As estratégias de uso do território praticadas pelo Grupo Cosan, no atual contexto de acumulação financeira, foram pautadas principalmente pela necessidade de valorização financeira, o que ocorreu fundamentalmente pelo acionamento de fundos públicos e pela expansão territorial das atividades produtivas.
Referências
AMARAL, M. S. Breves considerações acerca das teorias do imperialismo e da dependência ante a financeirização do capitalismo contemporâneo. Pensata., v. 3, p. 80-96, 2013.
ARRIGUI, G. A lógica territorial do capitalismo histórico. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008.
ARROYO, M A vulnerabilidade dos territórios nacionais Latino-americanos: o papel das finanças. In: LEMOS, A. I. G.; SILVEIRA, M. L.; ARROYO, M. (org). Questões territoriais na América Latina. Buenos Aires: Clacso/São Paulo:USP, 2006. p.177-190.
BENKO, G. Economia, espaço e globalização na aurora do século XXI. São Paulo: Hucitec, 1999.
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social. Consulta operações. 2021. Disponível em https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/consulta-operacoes-bndes. Acesso em: 7 ago. 2021.
BOECHAT, C. A.; PITTA, F. T. Flex crops e a mobilidade do capital da Cosan/Raízen. In: BOECHAT, C. A. (Org). Geografia da crise no agronegócio sucroenergético: land grabbing e flex crops na financeirização recente do campo brasileiro. Rio de Janeiro: Consequência, 2020. p. 83-125.
CARNEIRO, R. M. Commodities, choques externos e crescimento: reflexões sobre América Latina. CEPAL – Serie Macroeconomía del Desarrollo. N. 117. Santiago, Chile: Nações Unidas, 2012. Disponível em: https://repositorio.cepal.org/handle/11362/5349. Acesso em: 05 mai. 2020.
CASTILLO, R. Dinâmicas recentes do setor sucroenergético no Brasil: competitividade regional e expansão para o bioma cerrado. Geographia, Niterói, v. 17, n. 35, 2015, p. 95-119. https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2015.v17i35.a13730
CHESNAIS, F. A finança mundializada: raízes sociais e políticas, configuração, consequências. São Paulo: Boitempo, 2005.
CHESNAIS, F. A proeminência da finança no seio do “capital em geral”, o capital fictício e o movimento contemporâneo de mundialização do capital. In: BRUNHOFF, S., et al. (org.). A finança capitalista. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2010. p. 95-183.
CHRISTOPHERS, B. The limits of financialization. Dialogues in human geography. 2015, n.5 v.2, 183-200. https://doi.org/10.1177/2043820615588153
CONTEL, F. B. The financialization of the Brazilian territory: from global forces to local dynamisms. Springer, 2020. https://doi.org/10.1007/978-3-030-40293-8
COSAN. Avisos, comunicados e fatos relevantes. Página na internet. 2021. Disponível em: https://www.cosan.com.br/publicacoes-cvm-e-sec/avisos-comunicados-e-fatos-relevantes/. Acesso em: 10 dez. 2021.
COSAN. Serviço aos investidores. 2022. Página na internet. Disponível em: https://www.cosan.com.br/servicos-aos-investidores/dividendos/. Acesso em: 25 set. 2022.
COSAN. Prêmios e reconhecimentos. Página na internet. 2023. Disponível em:
https://www.cosan.com.br/comunicacao-e-imprensa/premios-e-reconhecimentos/. Acesso em: 13 abr. 2023.
DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
DELGADO, G. C. Do capital financeiro na agricultura à economia do agronegócio: mudanças cíclicas em meio século (1965-2012). Porto Alegre: UFRGS, 2012.
DOWBOR, L. A era do capital improdutivo. São Paulo: Outras Palavras, 2017.
ECONOMATICA. Página na internet. Disponível em: https://economatica.com/. Acesso em: 10 fev. 2020.
ECONOMATICA. Página na internet. Disponível em: https://economatica.com/. Acesso em: 16 mar. 2021.
GUEDES, S. et. al. Trajetórias e indicadores econômico-financeiros na agroindústria canavieira: o caso do grupo Cosan. In: SANTOS, G. R. Quarenta anos de etanol em larga escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas. Brasília: IPEA, 2016. p. 83-112.
HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1989.
IBGE. Geociências. 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/downloads-geociencias.html. Acesso em 28 mar. 2020.
IBGE/SIDRA. Sistema de Recuperação Automática do IBGE. 2018. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/. Acesso em 26 mar. 2020
LAPAVITSAS, C. Financialised Capitalism: crisis and financial expropriation. Historical Materialism, 17(2):114-148, 2009. https://doi.org/10.1163/156920609X436153
LAPAVITSAS, C. Theorizing financialization. Work Employment Society. 25:611, 2011. https://doi.org/10.1177/0950017011419708
MENDONÇA, M. L.; PITTA, Fábio T.; XAVIER, Carlos Vinicius. A agroindústria canavieira e a crise econômica mundial. São Paulo: Outras Expressões, 2012.
OLIVEIRA, A. U. A Mundialização da Agricultura Brasileira. São Paulo: Iánde Editorial, 2016. v. 1. 545p.
OLIVEIRA, S. C.; ANDRADE, A. G.. Significant factors in the stock prices of the main companies in the sugar-energy sector in Brazil. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 9, p. e241997117, 2020. https://doi.org/10.33448/rsd-v9i9.7117
PAULANI, L. A crise do regime de acumulação com dominância da valorização financeira e a situação do Brasil. Estudos avançados. n. 23, v. 66, 2009. https://doi.org/10.1590/S0103-40142009000200003
PESSANHA, R. M. A “indústria” dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Consequência, 2019.
PIKE, A; POLLARD, J. Economic Geographies of Financialization. Economic Geography. Clark University, v. 86, n. 1, 2010. p. 29-52. https://doi.org/10.1111/j.1944-8287.2009.01057.x
PINTO, M. J. A. Investimentos diretos estrangeiros no setor sucroenergético. 2011. 174 f. Tese (Doutorado) - Curso de Administração, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2011. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/96/96132/tde-17012012-152314/publico/MairunJAPinto_Original.pdf. Acesso em: 25 nov. 2019.
RAÍZEN. Sobre a Raízen. Página na internet. 2020. Disponível em: https://www.raizen.com.br/sobre-a-raizen. Acesso em 14 mar. 2020.
REUTERS. Brazil Cosan IPO raises $1 bln, less than planned. Reuters. 2007.Página na internet. Disponível em: https://www.reuters.com/article/brazil-cosan-ipo/brazil-cosan-ipo-raises-1-bln-less-than-planned-idUSN1636429620070816. Acesso em: 9 jun. 2021.
SANTOS, M. Natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012 [1996].
SANTOS, M. Espaço e método. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014[1985].
SANTOS, M; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2016 [2001].
SASSEN, S. Territory, authority, rights: from Medieval to Global Assemblages. Princeton University Press. 2017.
SILVA, L. R. Agronegócio globalizado e uso do território no contexto de financeirização: o Grupo Cosan e o setor sucroenergético brasileiro. 2022. 252 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2022. http://doi.org/10.14393/ufu.te.2022.5313.
SOUZA, J. G. Local-global: território, finanças e acumulação na agricultura. In: LAMOSO, L. P. (ORG). Temas do desenvolvimento econômico brasileiro. Curitiba: Íthala, 2016. p. 55 – 97.
SVAMPA, M. Consenso de los commodities, giro ecoterritorial y pensamiento crítico en América Latina. Revista del Observatorio Social de la América Latina, Buenos Aires, ano XVIII, n. 32, p. 15-38, 2012.
VERDI, A. R; AOUN, S. O agronegócio brasileiro na globalização financeira: estratégia e dinâmica dos principais grupos. Revista de economia agrícola. São Paulo, v. 56, n. 1, p. 103-118, jan./jun. 2009. Disponível em: ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/rea/rea7-n1-09.pdf. Acesso em: 18 set. 2016.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2022 Laís Ribeiro Silva, Mirlei Fachini Vicente Pereira