A Inteligência Artificial na Educação e a formação da consciência: uma análise Leontieviana sobre o risco do “sentido pessoal” delegado ao algoritmo

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Elisiane Spencer Quevedo Goethel
Débora Cristina Fonseca

Resumo

Este artigo é um ensaio teórico-crítico que explora as implicações da crescente inserção de sistemas de Inteligência Artificial (IA) na educação, sob a ótica da Teoria da Atividade de A. N. Leontiev. O estudo discute o paradoxo de que, embora a IA prometa otimizar a aquisição de conhecimento, ela pode simultaneamente esvaziar o sentido pessoal do estudo, elemento fundamental para a formação da consciência. Argumenta-se que a delegação da organização da aprendizagem ou de etapas cruciais das tarefas ao algoritmo pode transformar a atividade do estudante de uma busca motivada por propósito em uma sequência de ações operacionais focadas na validação algorítmica. Analisam-se as consequências dessa transformação para a subjetividade de estudantes e educadores, bem como para a relação pedagógica. O artigo conclui com um apelo pela construção de uma pedagogia e um letramento críticos em IA, visando à construção de uma educação verdadeiramente humanizadora, na qual a tecnologia sirva à formação da consciência e não o inverso.

Detalhes do artigo

Seção

DOSSIÊ - Tecnologias Digitais e Teoria Histórico-Cultural: Tecendo Contribuições para a Formação de Professores e os Processos de Ensino-Aprendizagem

Como Citar

Goethel, E. S. Q., & Fonseca, D. C. (2025). A Inteligência Artificial na Educação e a formação da consciência: uma análise Leontieviana sobre o risco do “sentido pessoal” delegado ao algoritmo . Obutchénie. Revista De Didática E Psicologia Pedagógica, 9(Contínua), e2025-20. https://doi.org/10.14393/OBv9.e2025-20

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