Crítica à panaceia pedagógico-desportiva

Autores/as

  • Murilo Mariano Vilaça Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
  • Bruno Gawryszewski Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
  • Alexandre Palma Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

DOI:

https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.issn.0102-6801.v28n55a2014-p169-198

Palabras clave:

Esporte. Educação. Juventude marginalizada. Cidadania. Violência.

Resumen

Crítica à panaceia pedagógico-desportiva

Resumo: A ideia de que a prática desportiva é um eficaz instrumento para educar, incluir e transformar os jovens marginalizados, promovendo a paz, ordem e cidadania, tem sido reiterada constantemente. Educadores, mídia e a literatura científica sugestionam as pessoas a crerem em um 'real poder' de transformá-los em 'cidadãos de bem'. Neste artigo, desenvolvemos os seguintes objetivos: (1) identificar uma possível relação entre os valores concernentes ao conceito de capital social e os objetivos daquela prática no que concerne à  juventude marginalizada; (2) refletir sobre a violência enquanto um conceito e um fenômeno político, problematizando a sua negativização absoluta; e (3) apontar os limites daquela ideia, salientando as suas imprecisões conceituais e criticando seus objetivos. Nossa conclusão é que ela está envolta de um discurso prenhe de imprecisões e é basicamente uma tecnologia social de pacificação que não altera substantivamente as condições de vida da população-alvo.

Palavras-chave: Esporte; Educação; Juventude marginalizada; Cidadania; Violência.

Abstract: The idea that sports are effectively useful for changing, including and changing the life of marginalized youth by promoting peace, order and citizenship has been constantly reiterated. Educators, the mass media and the scientific literature have suggested people to believe sports can successfully change them into "good citizens". This article aims to: (1) identify a possible relation with the values concerning the idea of social capital and the objectives to be achieved concerning the marginalized youth; (2) think of violence as a concept and a political phenomenon by discussing that violence is not necessarily seen as something always negative; and (3) indicate the limits of that idea by explaining its misconceptions and criticizing its aims. We conclude that such idea is involved in a speech full of inaccuracies and it is basically a social technology for pacification which does not substantially modify the life of the marginalized youth.

Keywords: Sports; Education; Marginalized youth; Citizenship; Violence.

Data de registro: 11/05/2012

Data de aceite: 19/06/2013

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Murilo Mariano Vilaça, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Doutor em Filosofia (UFRJ) e em Educação (UERJ). Professor da Pós-Graduação em Pedagogia Crítica da Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bolsista CAPES. E-mail: contatoacademico@hotmail.com

Bruno Gawryszewski, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor da Escola Nacional de Circo (RJ). E-mail: brunog81@yahoo.com.br

Alexandre Palma, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ. Professor da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEFD-UFRJ). Docente da Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física (EEFD-UFRJ). Bolsista CNPq PQ2. E-mail: palma_alexandre@yahoo.com.br

Citas

ABRAMOVAY, M. et al. Juventude, violência e vulnerabilidade social: desafios para as políticas públicas. Brasília: UNESCO/BID, 2002.

AGAMBEN, G. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo, 2003.

AGUIAR, O. A. A questão social em Hannah Arendt. Trans/Form/Ação, v. 27, n. 2, p. 7-20, 2004. https://doi.org/10.1590/S0101-31732004000200001

________. A dimensão constituinte do poder em Hannah Arendt. Trans/Form/Ação, v. 34, n. 1, p. 115-130, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-31732011000100007

AMES, J. L. Lei e violência ou a legitimação política em Maquiavel. Trans/Form/Ação, v. 34, n. 1, p. 21-42, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-31732011000100003

AREIAS, K. T. V.; BORGES, C. N. F. As políticas públicas de lazer na mediação entre estado e sociedade: possibilidades e limitações. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 3, p. 573-588, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000300004

ARENDT, H. Da revolução. São Paulo: Ática/UNB, 1990.

________. Sobre violência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

AZEVEDO, M. A. O.; GOMES FILHO, A. Competitividade e inclusão social por meio do esporte. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 3, p. 589-603, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-32892011000300005

BAILEY, R. Evaluating the relationship between physical education, sport and social inclusion. Educational Review, v. 57, n. 1, p. 71-90, 2005. https://doi.org/10.1080/0013191042000274196

BAQUERO, R.; HAMMES, L. J. Educação de jovens e construção de capital social: que saberes são necessários? In: BAQUERO, M.; CREMONESE, D. (Org.). Capital social: teoria e prática. Ijuí: Unijuí, 2006, p. 227-250.

BEUTLER, I. Sport serving development and peace: achieving the goals of the United Nations through sport. Sport in Society, v. 11, n. 4, p. 359-69, 2008. https://doi.org/10.1080/17430430802019227

BOBBIO, N. O problema da guerra e as vias da paz. São Paulo: Editora UNESP, 2003.

CASTRO, S. B. E.; SOUZA, D. L. Significados de um projeto social esportivo: um estudo a partir das perspectivas de profissionais, pais, crianças e adolescentes. Movimento (UFRGS), v. 17, n. 04, p. 145-163, 2011. https://doi.org/10.22456/1982-8918.22268

CORREIA, M. M. Projetos sociais em educação física, esporte e lazer: reflexões preliminares para uma gestão social. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 29, n. 3, p. 91-105, 2008.

D'ARAUJO, M. C. Capital social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

DOMINGUES, E. P. et al. Quanto vale o show? Impactos econômicos dos investimentos da Copa do Mundo 2014 no Brasil. Estudos Econômicos, v. 41, n. 2, p. 409-439, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-41612011000200008

ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Lisboa: DIFEL, 1992.

FOUCAULT, M. Post-scriptum. El sujeto y el poder. In. DREYFUS, H. L. e RABINOW, P. Michel Foucault: más allá del estructuralismo y la hermenéutica. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 2001. p. 241-259.

________. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

________. A hermenêutica do sujeito. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006a.

________. A tecnologia política dos indivíduos. In: Ditos e Escritos V: ética, sexualidade e política. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006b. p. 301-318.

FRASER-THOMAS, J. L. et al. Youth sport programs: an avenue to foster positive youth development. Physical Education and Sport Pedagogy, v. 10, n. 1, p. 19-40, 2005. https://doi.org/10.1080/1740898042000334890

FRIGOTTO, Gaudêncio. Juventude, trabalho e educação no Brasil: perplexidades, desafios e perspectivas. In: NOVAES, R.; VANNUCHI, P. (Org.). Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Fundação Perseu Bramo, 2004. p. 180-216.

FUKUYAMA, F. Confiança: as virtudes sociais e a criação da prosperidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

FURLANETTO, E. L. Instituições e desenvolvimento econômico: a importância do capital social. Revista de Sociologia e Política, v. 16, suppl., p. 55-67, 2008. https://doi.org/10.1590/S0104-44782008000300005

GOMES, C. A. Abrindo espaços: múltiplos olhares. Brasília: UNESCO, 2008.

KANT, I. A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 1995.

KEIL, I. M. Dos jovens contestadores aos jovens de hoje. Uma nova forma de participação na polis? In: BAQUERO, Marcello (Org.). Democracia, juventude e capital social no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, p. 17-48.

MELO, M. P. de. Lazer, esporte e cidadania: debatendo a nova moda do momento. Movimento, v. 10, n. 2, p. 105-122, 2004. https://doi.org/10.22456/1982-8918.2836

MISSE, M. Crime e violência no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

MORFINO, V. A sintaxe da violência entre Hegel e Marx. Trans/Form/Ação, v. 31, n. 2, p. 19-37, 2007. https://doi.org/10.1590/S0101-31732008000200002

NAZZARI, R. K. Capital social, cultural e socialização política: a juventude brasileira. In: BAQUERO, M.; CREMONESE, D. (Org.). Capital social: teoria e prática. Ijuí: Unijuí, 2006, p. 203-226.

NOLETO, M. J. (Coord.). Abrindo espaços: educação e cultura para a paz. Brasília: UNESCO, 2001.

PIMENTA, C. A. M. O sonho na sociedade contemporânea: juventude e futebol. Ponto-e-vírgula, v. 3, p. 112-129, 2008.

PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

RESENDE, J. P.; ANDRADE, M. V. Crime social, castigo social: desigualdade de renda e taxas de criminalidade nos grandes municípios brasileiros. Estudos Econômicos, v. 41, n. 1, p. 173-195, 2011. https://doi.org/10.1590/S0101-41612011000100007

RODRIGUES, J. Qual cidadania, qual democracia, qual educação? Trabalho, Educação e Saúde, v. 4, n. 2, p. 417-430, 2006. https://doi.org/10.1590/S1981-77462006000200012

ROLIM, M. Mais educação, menos violência: caminhos inovadores do programa de abertura das escolas no fim de semana.Brasília: UNESCO, Fundação Vale, 2008.

SANTOS, E.; BAQUERO, M. Democracia e capital social na América Latina: uma análise comparativa.Revista de Sociologia e Política, n. 28, p. 221-234, 2007. https://doi.org/10.1590/S0104-44782007000100014

SANTOS, M. L.; ROCHA, E. C. da. Capital social e democracia: a confiança realmente importa?Revista de Sociologia e Política, v. 19, n. 38, p. 43-64, 2011. https://doi.org/10.1590/S0104-44782011000100004

SOARES, C. L. Pedagogias do corpo: higiene, ginásticas, esporte. In: RAGO, M.; VEIGA-NETO, A. (Org.). Figuras de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 75-86.

SOUZA, C. A. M. et al. Difícil reconversão: futebol, projeto e destino em meninos brasileiros. Horizontes Antropológicos, v. 14, n. 30, p. 85-111, 2008. https://doi.org/10.1590/S0104-71832008000200004

TORRES, A. P. R. O sentido da política em Hannah Arendt. Trans/Form/Ação, v. 30, n. 2, p. 235-246, 2007. https://doi.org/10.1590/S0101-31732007000200015

VALLE, M. R. A violência revolucionária em Hannah Arendt e Herbert Marcuse: raízes e polarizações. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

VASQUEZ, A. S. Práxis e violência. In: ________. Filosofia da práxis. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011, p. 373-404.

VIANNA, J. A.; LOVISOLO, H. R. Projetos de inclusão social através do esporte: notas sobre a avaliação. Movimento (UFRGS), v. 15, n. 03, p. 145-162, 2009. https://doi.org/10.22456/1982-8918.5190

________. A inclusão social através do esporte: a percepção dos educadores. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, n. 2, p. 285-296, 2011. https://doi.org/10.1590/S1807-55092011000200010

VILAÇA, M. M. Vida e violência em jogo: o esporte como prática pedagógica e exercício biopolítico. 2009. 216 p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

________. Capital social, esporte e juventude: notas sobre uma nova tecnologia social de pacificação. Educação On-Line(PUC-RJ), n. 7, p. 1-11, 2010.

WOOD, E. M. Democracia contra capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2006.

Publicado

2014-09-22

Cómo citar

VILAÇA, M. M.; GAWRYSZEWSKI, B.; PALMA, A. Crítica à panaceia pedagógico-desportiva. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 28, n. 55, p. 169–198, 2014. DOI: 10.14393/REVEDFIL.issn.0102-6801.v28n55a2014-p169-198. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/15184. Acesso em: 22 jul. 2024.