Quando uma dose de veneno vale mais do que uma vida
vulnerabilidade socioambiental dos trabalhadores pulverizadores de agrotóxicos no município de Vera Cruz - RN
DOI:
https://doi.org/10.14393/RCT164016Resumo
Este estudo investigou o agravamento do contexto de vulnerabilidade socioambiental dos trabalhadores pulverizadores de agrotóxicos no município de Vera Cruz-RN. A partir da década de 1990, o modelo produtivo agrícola intensificou o uso de agrotóxicos no município gerando condições de vida e trabalho degradantes além de favorecer a comercialização indiscriminada destes produtos. Neste artigo, examinou-se esse processo à luz da concepção de desenvolvimento de Amartya Sen (2010), em especial sua abordagem das capacidades, tendo como foco às condições socioeconômicas, de saúde, de trabalho e as motivações que orientaram a “escolha” dos indivíduos por essa função. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com revisão bibliográfica e entrevistas com 14 pulverizadores. Os resultados mostraram que estes estão submetidos à condições laborais precárias: total informalidade, exposição sistemática a quantidades e diversidade de agrotóxicos, inclusive de alta toxicidade, sem qualquer forma de controle e cuidado, baixa remuneração e ausência de proteção social. Contudo, a pulverização tem rendas melhores quando comparadas às demais funções agrícolas. Por isso, as condições de precariedade são muitas vezes negadas pelos próprios trabalhadores que temem a perda de suas ocupações. Segundo Sen, essas condições impedem os indivíduos de desempenhar suas capacidades e seu papel de agente, a medida que limitam suas escolhas e privam suas liberdades instrumentais, impossibilitando-os de melhorar sua qualidade de vida. Na ótica socioambiental ampliaram-se as vulnerabilidades, alterando as condições naturais e de saúde do trabalhador. Por fim, não foi identificado qualquer atuação do poder público para coibir a comercialização clandestina dos agrotóxicos comprados facilmente nos estabelecimentos locais.