Dinâmicas culturais e econômicas frente a expansão neocolonial em quilombos da Amazônia marajoara: uma perspectiva do Quilombismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/RCT205978530

Palavras-chave:

autonomia, epistemologias quilombolas, movimentos de mulheres, Amazônia marajoara

Resumo

O presente artigo objetiva caracterizar e analisar os movimentos empregados por quilombolas em face aos projetos neocoloniais implementados no município de Salvaterra (PA). A partir de uma abordagem qualitativa, que combinou revisão bibliográfica, entrevistas semiestruturadas, observação participante e registros em diário de campo, o estudo previamente aprovado pelo comitê de ética em pesquisa, centra-se nas práticas do Núcleo de Ação e Resistência Quilombola Campina/Vila União (NARQ), da comunidade de Campina/Vila União, e do Grupo de Mulheres Sementes do Quilombo, da comunidade de Mangueiras. Os resultados demonstram que esses movimentos podem ser compreendidos como expressões contemporâneas de quilombismo, articulando práticas culturais, econômicas e políticas voltadas à construção de autonomia, fortalecimento comunitário e afirmação identitária. Iniciativas desenvolvidas por esses coletivos, como a Feira Quilombola, o ateliê de vestuário, a Casa de Sementes e atividades educativas e culturais, ressignificam o território como espaço de construção de conhecimentos, afetos e resistências. Conclui-se que, embora enfrentem desafios estruturais, como a ausência de titulação fundiária e a pressão de empreendimentos externos, tais mobilizações configuram-se como projetos políticos alternativos, que enfrentam as permanências da colonialidade e constroem futuros sustentáveis a partir dos saberes ancestrais e da coletividade.

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Biografia do Autor

  • José Felipe Rodrigues da Costa, Universidade de Brasília (UnB)

    Doutorando em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (CDS/UnB). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA/UFPA-EMBRAPA) e Bacharel em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Pará (UFPA).  Atualmente, integra o Grupo de Pesquisa Territórios Rurais Criativos e Sustentáveis, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem concentrado sua trajetória acadêmica e profissional na interface entre Povos e Comunidades Tradicionais, Projetos de Desenvolvimento na Amazônia e Mudanças Climáticas, com ênfase na análise crítica dos impactos socioambientais de grandes empreendimentos e nas estratégias de resistência e sustentabilidade protagonizadas por populações amazônidas.

  • Monique Medeiros , Universidade Federal do Pará (UFPA)

    Professora Adjunta no Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF), da UFPA. É vinculada aos Programas de Pós-graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA/UFPA Belém) e em Estudos em Etnodiversidade (UFPA/Altamira). Doutora em Agroecossistemas, na área de Desenvolvimento Rural Sustentável, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/PPGA), com Estágio de Doutorado Sanduíche na Unité Mixte de Recherche - Acteurs, ressources et territoires dans le développement (ARTDev) - Université de Montpellier 3 - França (CAPES/COFECUB). Possui mestrado pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural - PGDR da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2011) e graduação em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) Julio de Mesquita Filho (2008). Atualmente, é pesquisadora da Rede AgriTerris (que articula investigadores do Brasil, Argentina e França), da Brazil Natural Resource Governance Initiative (BNRGI), que reúne pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, Líder do Grupo de Pesquisa Desenvolvimento Rural e Inovação Sociotécnica (DRIS) e pesquisadora visitante (bolsista da Fulbright) no Departamento de Antropologia, da Universidade da Geórgia (UGA)/EUA. Os principais temas de trabalho e pesquisa são: projetos de desenvolvimento e justiça social, insegurança hídrica na Amazônia e dinâmicas de conhecimento e inovação.

  • Luciane Barbosa Lopes, Universidade Federal do Pará (UFPA)

    Mulher negra, quilombola, educadora social, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia- PPGSA/UFPA, mestra em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável (MAFDS), pelo Programa de Pós-graduação em Agriculturas Amazônicas- PPGAA/UFPA (2022-2024). Membro titular da Comissão Intersetorial de Alimentação e Nutrição Estadual - CIAN-PA representando a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará MALUNGU. Graduada em Licenciatura Integrada em Ciências, Matemática e Linguagens- UFPA (2018-2023) e em Licenciatura Plena em Ciências Naturais - Biologia, pela Universidade do Estado do Pará - UEPA (2011- 2014). Especialista em Neuropsicopedagia Institucional e Educação Especial e Inclusiva, pelo Centro de Ensino Superior de Vitória (CESV). Membro Fundadora do Núcleo de Ação e Resistência Quilombola Campina/Vila União (NARQCVU). Experiência como Mediadora pelos programas, Novo Mais Educação e Mais Alfabetização do Governo Federal, no Município de Salvaterra, Marajó/Pa. Áreas de interesse: Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), Educação Alimentar e Nutricional (EAN) e Agriculturas Familiares.

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Publicado

27.11.2025

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Seção

Artigos

Como Citar

COSTA, José Felipe Rodrigues da; MEDEIROS , Monique; LOPES, Luciane Barbosa. Dinâmicas culturais e econômicas frente a expansão neocolonial em quilombos da Amazônia marajoara: uma perspectiva do Quilombismo. Revista Campo-Território, Uberlândia, v. 20, n. 59, p. 171–194, 2025. DOI: 10.14393/RCT205978530. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/view/78530. Acesso em: 5 dez. 2025.

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