Os Novos Ecossistemas do “Sertão Carioca”: Transformação da Paisagem e História de Uso da Terra na Bacia do Rio Piabas (1968-2018), Rio de Janeiro
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Palavras-chave

Ecossistemas emergentes
Cobertura vegetal
Regeneração natural
Ecologia histórica

Como Citar

NORONHA, F.; FREITAS, M. M.; SOLÓRZANO, A. Os Novos Ecossistemas do “Sertão Carioca”: Transformação da Paisagem e História de Uso da Terra na Bacia do Rio Piabas (1968-2018), Rio de Janeiro. Sociedade & Natureza, [S. l.], v. 34, n. 1, 2022. DOI: 10.14393/SN-v34-2022-64183. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza/article/view/64183. Acesso em: 22 jul. 2024.

Resumo

As transformações na paisagem são produto histórico das relações sociais com o ambiente. Os ecossistemas modificados por essas agências respondem a estas transformações com novidades ecológicas, sobretudo na estrutura e composição. Atualmente podemos entender estas paisagens culturais como sistemas socioecológicos compostos por novos ecossistemas. As áreas distantes do centro urbano do Rio de Janeiro, conhecidas como “Sertão Carioca”, foram destinadas à agricultura e vêm sendo atingidas pelo processo de expansão urbana. Os ecossistemas remanescentes guardam as marcas da história de uso do solo. A bacia do rio Piabas, parte integrante do “Sertão Carioca”, foi analisada com objetivo de compreender a transformação da paisagem e identificar as mudanças na cobertura vegetal e uso das terras ocorridas no período de 1968 a 2018. Foram usadas fotografias aéreas de 1968 e imagens de satélite de 2018 a fim de comparar os mapeamentos da cobertura vegetal e uso das terras na escala 1:10.000. A bacia do rio Piabas em 1968 apresentava predominância de plantios agrícolas (63%), onde viam-se lavouras perenes ou temporárias e plantios de banana. Nas serras, encontravam-se fragmentos florestais remanescentes (25%) e árvores frutíferas plantadas ao redor das casas (4,3%). No ano 2018, predominam novos ecossistemas florestais em estágio médio de regeneração (47%). O avanço dessa classe contou com o recuo dos bananais e com o decreto do Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB). Das lavouras temporárias e permanentes, restam somente 10%. Comparando a variação das transformações nesses 50 anos, o crescimento da área urbana se destaca (539%), registrando a chegada da cidade ao “Sertão”. Essa expansão urbana ocorreu principalmente sobre ecossistemas de baixada. A falta de planejamento territorial que concilie a conservação da biodiversidade e atividades agroecológicas no processo de urbanização dessa região afetará as condições de qualidade de vida de seus residentes.

https://doi.org/10.14393/SN-v34-2022-64183
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