Resenha: SILVA, Maria das Graças e.Questão Ambiental e desenvolvimento sustentável: um desafio ético-político ao serviço social. 1ª edição. São Paulo: Editora Cortez, 2010
DOI:
https://doi.org/10.14393/RCT102026642Resumo
RESENHA O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu no último quartil do século XX como uma preocupação manifestada e operacionalizada do ponto de vista normativo por organismos multilaterais a fim de repercutir em uma nova consciência e proposição de desenvolvimento que viesse a incorporar aspectos intergeracionais de uma sustentabilidade ambiental, econômica e sociopolítica no longo prazo. Fruto das transformações materiais do desenvolvimento do homem na Terra ao longo do tempo, o ideário sistêmico e inter-geracional de desenvolvimento sustentável circunscreve-se com mais precisão a uma contradição imanente do desenvolvimento global do capitalismo após a conformação de revoluções industriais e de sociedades de massa. Por um lado, o conceito tem sido amplamente difundido como um novo padrão de desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer as gerações futuras, haja vista que a noção de sustentabilidade traz uma compreensão equilibrada de que o desenvolvimento deve ser simultaneamente suportável frente as dimensões ambiental e social, equitativo frente à dinâmica socioeconômica, bem, como viável na dimensão econômica-ambiental. Por outro lado, a ampla utilização do termo, por diferentes organismos, países, atores sociais e comunidades epistêmicas, em conformidade com seus próprios interesses, acabou por inseri-lo em um debate acrítico que incorre não apenas em uma polissemia conceitual, mas também em uma operacionalização à la carte, os quais acabam esvaziando-o de sentido ou utilidade. A fim de compreender e debater com maior profundidade questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, o livro "Questão ambiental e desenvolvimento sustentável: um desafio ético-político ao serviço social" trata-se de uma obra clássica no Brasil que completa cinco anos desde a primeira edição, como leitura referencial do paradigma crítico à sustentabilidade econômica, ambiental e social. Fruto de um pesquisa de doutorado, o livro traz uma leitura marxista de como o capital se apropria da natureza, convertendo-a em mercadoria, por meio de três robustos capítulos, que entrelaçam a temática ambiental e a efetividade questionável das ações desenvolvidas no intuito de mitigar os impactos do capitalismo, destacando as ações dos profissionais do Serviço Social, na intervenção junto à sociedade a fim de disseminar educação ambiental. No primeiro capítulo, "Capitalismo e destrutividade: produção e reprodução da questão ambiental", a autora, Maria das Graças e Silva discute, tanto, a insuficiência teórica, quanto, a pluralidade ideológica das questões ambientais, as quais se manifestam em debates ecopolíticos e em avanços científicos e tecnológicos ideologizados que nem sempre são favoráveis à melhoria sistêmica da vida e do planeta. Partindo de uma leitura marxiana, do próprio Karl Max na obra "O Capital", e de destacados especialistas no marxismo, o livro demonstra que a crise ecológica não se resume aos problemas ambientais, mas, antes, reside no avanços do capitalismo como sistema global, fazendo recair sobre os trabalhadores e a natureza as mazelas de sua dinâmica exploratória de extração da mais valia, na qual trabalho e natureza são transformados em mercadoria. A saída apontada pelo paradigma ético da modernidade tem sido um discurso de superação do antropocentrismo por uma visão de mundo biocêntrico em que a politização da economia tem uma natureza tecnicista e romântica, não impactando no cerne do problema, o capitalismo, enquanto sistema de acumulação ampliada, por meio da mais valia, ou, de acumulação primitiva, por meio da espoliação ou despossessão. No segundo capítulo, intitulado, "As incômodas evidências da questão ambiental e as principais alternativas adotadas pelo Estado e pelas classes sociais", o livro aborda os principais segmentos fáticos de contenciosos ligadas ao meio ambiente em curso no Brasil e no mundo, bem como os ramos científicos da economia ecológica e da economia ambiental, os quais têm influenciado nas práticas de gestão e educação ambiental ou na ideologia do progresso técnico e da inovação. As principais manifestações da "questão ambiental" vêm a lume no capítulo a fim de mostrar que, embora, as iniciativas privadas ou públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável incorporem um discurso positivo, não raramente, elas se materializam em uma profunda e reveladora insustentabilidade social ou em processos paliativos de postergação dos problemas ambientais, tornando-se assim o desenvolvimento sustentável restrito a uma estratégia de sustentabilidade do próprio desenvolvimento econômico. A "falha metabólica" destacada por Karl Marx ao tratar da relação entre sociedade e meio ambiente é mostrada empiricamente no capítulo 2, por meio da identificação de críticas ao fetiche existente nos mecanismos de enfrentamento da problemática ambiental, os quais apresentam um fetiche de continuidade na degradação e postergação dos mecanismos de resolução efetiva dos problemas com base no enfrentamento da dialética da exploração do capital. No terceiro capítulo, "A (in)sustentabilidade do desenvolvimento sustentável", o livro traz um estudo detalhado sobre a institucionalização evolutiva dos debates da crise ambiental no mundo por parte das comunidades epistêmicas interessadas até se atingir a agenda de organismos multilaterais e a formação de regimes internacionais com a convergência normativa pelos Estados Nacionais sobre temas específicos por meio de rodadas de negociação. A força que os discursos do desenvolvimento sustentável tem apresentado em uma positiva abertura de espaços na agenda internacional aconteceu em função do sucesso do apelo ético dos paradigmas liberal e nacional-realista, motivo pelo qual se tornou em um fator extremamente preponderante na construção de políticas públicas, embora com um caráter crescentemente mercantilista, sem levar em consideração as especificidades e diferenças construídas pela lógica exploratória no capitalismo entre burgueses e proletários ou entre países centrais e periféricos. O texto explora neste capítulo a tese da insustentabilidade operacional do conceito de desenvolvimento sustentável, por meio de uma lógica dedutiva de aplicação teórica, dos marcos analíticos da crítica marxista apresentados no capítulo 1, a um estudo de casos concretos, como a abordagem de ações ligadas à sustentabilidade realizadas com baixo grau de repercussão e efetividade por instituições pertencentes à Organização das Nações Unidas (ONU). Com base nos debates apresentados ao longo de três capítulos, incluídos aqueles das seções de introdução e conclusão, o livro apresenta uma profunda incursão aos estudos ambientais sobre desenvolvimento sustentável a partir de uma leitura crítica com fundamentação teórica no marxismo, a qual é extremamente enriquecedora por possibilitar identificação da construção idealista do conceito de desenvolvimento sustentável na curta duração frente às estruturais contradições histórico-materiais da exploração do trabalho e do meio ambiente no capitalismo. Conclui-se que o estudo sobre o desenvolvimento sustentável proposto pelo livro é uma indispensável leitura recomendável para estudantes de graduação e pós-graduação em diferentes cursos de formação, bem como ao público em geral, por agregar não apenas criticidade a um tema vulgarmente romantizada pelos interesses e com ampla difusão polissêmica, mas também por desmitificar a estrutural fetichização do meio ambiente em mercadoria pelo capital. Referência SILVA, Maria das Graças e. Questão Ambiental e desenvolvimento sustentável: um desafio ético-político ao serviço social. 1ª edição. São Paulo: Editora Cortez, 2010, 256 p. ISBN 978-85-249-1621-2Downloads
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Publicado
12-08-2015
Como Citar
ROCHA, D. T. da; SENHORAS, E. M. Resenha: SILVA, Maria das Graças e.Questão Ambiental e desenvolvimento sustentável: um desafio ético-político ao serviço social. 1ª edição. São Paulo: Editora Cortez, 2010. Revista Campo-Território, Uberlândia, v. 10, n. 20 Jul., p. 558–561, 2015. DOI: 10.14393/RCT102026642. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/view/26642. Acesso em: 22 nov. 2024.
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