Resumo
O espaço praiano brasileiro resulta de diferentes práticas sociais, algumas das quais surgidas mediante absorção de comportamentos e estilos de vida advindos da moderno ocidentalidade. A apropriação social das praias no litoral do Nordeste se deu em meados do século XIX, quando as elites locais se voltaram para o mar, no contexto de incorporação das chamadas “práticas marítimas modernas" (banhos terapêuticos, vilegiatura etc.), colonizando um ambiente antes destinado apenas para às “práticas marítimas tradicionais” (pesca, defesa e atividade portuária). A valorização e o consumo desses espaços foram calcados no estabelecimento de segundas residências e de infraestruturas voltadas ao desenvolvimento da atividade turística. O presente trabalho buscou apresentar alguns apontamentos teóricos a propósito da produção do espaço praiano no Nordeste do Brasil, baseando-se em pesquisa bibliográfica e geo-histórica. O artigo está dividido em três partes. Na primeira, caracteriza-se geoambiental e socialmente o litoral Nordestino, afim de demonstrar a predominância do ambiente das praias e o seu valor social e econômico. Em seguida, procura-se discorrer sobre a produção do espaço praiano no Nordeste, apontando os fatores geo-históricos ligados à sua valorização. Por fim, apresenta-se sumariamente o processo de produção do espaço praiano em uma grande cidade nordestina, o Recife, destacando o histórico processo de apropriação e valorização de suas praias.
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