Resumen
Práticas narrativas baseadas na apropriação, na citação e na ficcionalização de repertórios verbo-visuais são significativas na produção artística atual. Artistas jogam com os interstícios identificados nesses recursos, que se encontram, assim, na iminência de serem reapresentados segundo formatos diversos. Dentre estes interessam os documentais, que operam como veículos da ficção, tensionando a relação entre fato e fabulação, entre realidade e imaginação. Nesse sentido, indaga-se: como construir um relato alterno, na forma de uma realidade possível, a partir de interstícios rastreados em imagens, textos e discursos? Esse entendimento é formulado por meio do estudo do processo criativo da trajetória biográfica de Elena Landkraut (2017-2019), posto em interlocução com Austerlitz (2001), obra de W. G. Sebald, com o aporte teórico de C. Ginzburg (2007) e L. Wolff (2014). Neste estudo, formas documentais, vinculadas a valores de autenticidade e de veracidade, são compreendidas como representações parcelares do passado. Depreende-se de que modo representações possíveis do passado são elaboradas por meio da dimensão imaginativa e conjectural da criação ficcional.