Resumen
A “arte popular” é um termo em desuso, notadamente na narrativa curatorial de exposições de arte africana ou da diáspora africana. Por muito tempo confundida com arte “naïve”, “primitiva”, “regional” ou “local”, a “arte popular” parece não ter lugar na cultura woke, uma vez que outras ideias da esquerda – como povo – foram abandonadas pela “wokeness” como demonstrou a filósofa Susan Neiman em seu último livro Left Is Not Woke (2023). A importação de tendências museológicas como a propalada descolonização dos museus pode, outrossim, impor um novo léxico que expressa melhor os novos interesses e valores de agentes e instituições que colecionam, exibem e narram. Com base no texto do catálogo da exposição África - expressões artísticas de um continente do Museu Oscar Niemeyer (MON, 2022), analisa-se a narrativa curatorial para tratar do lugar da “arte popular” também na expografia. Discute-se ainda sobre a coleção africana do MON, a deriva museológica e o afro-oportunismo.
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