Abstract
O conhecimento sobre quem mora nas áreas de risco de deslizamentos ainda é incipiente no Brasil, afetando diretamente em ações de gestão de risco e resposta de desastres. O presente artigo tem como objetivo analisar o uso de dados censitários para a caracterização da população exposta em áreas de risco de desastres naturais. O município de Blumenau, no estado de Santa Catarina, foi escolhido como área de estudo pelo histórico de deslizamentos que já ocasionaram signiï¬cativos danos humanos e materiais. A base de dados utilizada neste trabalho foi composta pelos dados populacionais, disponíveis no censo demográï¬co de 2010, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geograï¬a e Estatística (IBGE), pelas áreas de risco de deslizamentos mapeadas no Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR) de Blumenau no ano de 2008 e imagens de alta resolução, disponibilizadas no Google Earth. As informações dos moradores, como idade e gênero, foram organizados para caracterização do perï¬l da população; e dos domicílios, como acesso a água e saneamento, para caracterização dos fatores que aumentam a exposição dos moradores aos deslizamentos. O maior desaï¬o metodológico consistiu em buscar a melhor associação entre os setores censitários aos polígonos de áreas de risco, devido às diferenças de geometria entre os mesmos. Essa associação foi feita por bairros e aglomerados subnormais para permitir maior aderência com as áreas de risco. Para a melhor análise ainda foi realizada a comparação entre as áreas ocupadas e de risco, por meio de análise visual de imagens de satélite. De acordo com os resultados obtidos, 13 dos 35 bairros existentes, e 11 dos 17 aglomerados subnormais em Blumenau foram identiï¬cados como viáveis para associação com áreas de risco. Na análise de distribuição por idade, identiï¬cou-se que 63% dos moradores expostos eram adultos, 15% eram crianças, 11% eram idosos e 11% eram adolescentes. As características dos domicílios expostos evidenciaram que apesar de estarem localizados em áreas de risco, possuíam boas condições quanto ao acesso a serviços básicos - apenas 6% não possuíam abastecimento de água e 1% não possuíam energia elétrica. Ainda que tenha sido possível realizar a associação de dados censitários e áreas de risco foi identiï¬cada a necessidade de se avançar para metodologias que consigam desagregar ainda mais o dado dos setores para permitir a melhor caracterização da população exposta aos deslizamentos.