A poesia da revolução: história e dialética na lírica de Bertolt Brecht
DOI:
https://doi.org/10.14393/REPRIM-v8n16a2023-69428Palavras-chave:
Consciência, História, RevoluçãoResumo
Este trabalho almeja demonstrar a atualidade política da lírica de Bertolt Brecht (1898-1956), como também expor, a partir deste recorte temático e literário, as concepções de fundo histórico-filosóficas do autor. Para tanto, parte-se da compreensão de que a Filosofia não é um discurso autorreferencial, ou seja, uma elaboração fechada sobre si e que glosa apenas sobre sua própria tradição, mas um “discurso vazio” e, como tal, reporta-se a condições de existência que lhe são exteriores, com respeito às quais ela deve sua vitalidade. A poesia, com sua estrutural formal, igualmente pode desempenhar esse papel de implicação filosófica, sendo o caso de Brecht duplamente relevante, pois suas poesias se referem, sobremaneira, aos acontecimentos políticos decisivos do século XX, notadamente o ocaso “civilizacional” representado pelo nazifascismo, em oposição à esperança suscitada pelo comunismo. A pertinência filosófica da pesquisa se explica por Brecht ter refletido sobre questões candentes para a filosofia política contemporânea, como os impasses históricos do salto revolucionário em direção à liberdade, além do papel que os sujeitos engajados politicamente podem desempenhar nesse processo. Nesse sentido, a pesquisa se concentrará nos Poemas (1913-1956) do autor, recorrendo, ainda, a certos pensadores da filosofia moderna e contemporânea que refletiram sobre as mútuas implicações entre os homens e a História, o que nos auxiliará no esclarecimento das diretrizes filosóficas do “poeta da revolução”. Ao fim da investigação, espera-se ter apresentado os motivos pelos quais é possível sustentar que Brecht concebe, em linhas gerais e de maneira não articulada sistematicamente, uma Teoria da História, em sentido não idealista.
Palavras-chave: Consciência; História; Revolução.
The poetry of Revolution: history and dialectics in Bertolt Brecht’s lyric
Abstract: The aim of this work is to demonstrate the political relevance of Bertolt Brecht's (1898-1956) lyrics, as well as to expose, from this thematic and literary point of view, the author's basic historical-philosophical conceptions. In order to do this, we start from the understanding that philosophy is not a self-referential discourse, that is, an elaboration that is closed in on itself and only glances at its own tradition, but an “empty discourse” and, as such, refers to conditions of existence that are external to it, with respect to which it owes its vitality. Poetry, with its formal structure, can also play this role of philosophical implication, and Brecht's case is doubly relevant, since his poems refer, above all, to the decisive political events of the 20th century, notably the “civilizational” decline represented by Nazi-fascism, as opposed to the hope raised by communism. The philosophical relevance of the research is explained by the fact that Brecht reflected on burning issues for contemporary political philosophy, such as the historical impasses of the revolutionary leap towards freedom, as well as the role that politically engaged subjects can play in this process. In this sense, the research will focus on the author's Poems (1913-1956), also drawing on certain thinkers from modern and contemporary philosophy who have reflected on the mutual implications between men and history, which will help us to clarify the philosophical guidelines of the “poet of the revolution”. At the end of the research, we hope to have presented the reasons why it is possible to maintain that Brecht conceives, in general terms and in a way that is not systematically articulated, a Theory of History, in a non-idealist sense.
Keywords: Conscience; History; Revolution.
Data de registro: 17/05/2023
Data de aceite: 26/04/2024
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