V3 N2 (2o. sem/2022) - DOSSIÊ: Eu estava aqui o tempo todo e você não me viu: desafios e conquistas da arte indígena contemporânea brasileira.

CHAMADA ABERTA

>>>>PRAZO  PARA ENVIO DAS CONTRIBUIÇÕES: 31/01/2022

DOSSIÊ: Eu estava aqui o tempo todo e você não me viu: desafios e conquistas da arte indígena contemporânea brasileira.

Organização/ Editoras convidadas: Kássia Borges  e Naine Terena

 

Poderia ser um verso ou uma poesia literária, mas a sentença “eu estava aqui o tempo todo e você não viu” é uma provocação do novo visível. A arte sempre esteve num lugar eurocêntrico dominante que nos levou a acreditar que o caminho seria o apagamento de outros modos de ver o mundo e de nossa origem. Essa sentença também pode ser um possível hiato para refletir sobre algo que se manifesta nas principais instituições no atual universo da arte.

Se algum dia lembrarmos deste fatídico momento que estamos vivendo, lembraremos da pandemia, da desestruturação da política e do confinamento. A única coisa de que teremos certeza é que nada será como antes... nem pedregulhos, cores, curvas, linhas ou volumes. Portanto, é neste momento que se faz necessário tratarmos da história dos vencidos, esta que está por ser escrita. Me refiro aos povos indígenas. Não podemos simplesmente aceitar a história que continua a arruinar a vida dos indígenas, nem o apagamento de suas culturas. Desde o início do processo de colonização, o Brasil vive sob a dominação ocidental europeia, branca e masculina, para não dizer machista. Uma realidade da qual a arte não escapou.

 No universo acadêmico e artístico, o que seria o processo de compreensão sobre a obra de arte e do ato criativo? Seria um ponto de vista sobre o mundo ou seria uma reflexão de onde viemos e quem somos? Penso ser importante se ter um certo saber de onde partimos, e de onde somos parte.  À beira da fogueira, durante o ritual Karajá "Hetohokā", todos dançam em volta dela, em círculo. É um ritual de passagem. Todo ritual é cíclico, circular, em espiral; é também um turbilhão no rio que vai e vem, mas que nunca para no mesmo lugar. O tempo passa e o que fica é o fluxo, a correnteza do rio; uma pororoca que também tem oca, maloca, locus, local. Qual é a nossa topofilia na história do Brasil colonizado? (...)

Os artistas indígenas de várias etnias que resistem e sobrevivem hoje se apresentam e estão presentes nas grandes galerias, museus e lugares antes colonizados e eurocêntricos, mostrando suas artes potentes e reveladoras. A porta de entrada deste momento, que espero ser preciso e assertivo, abre-se para um novo tempo de descoberta de quem realmente somos; isso é urgente e intransferível. Estamos assim reescrevendo uma outra história brasileira, onde o lugar de fala se faz presente. Essa reescrita suscita discussões e provocações a respeito desse terreno fértil da arte indígena contemporânea. Portanto, a revista Estado da Arte, do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), abre seu espaço para um dossiê com artigos e outras proposições sobre arte contemporânea e a diversidade das expressões artístico-culturais que tenham, especificamente, enfoque e discussão sobre a arte contemporânea dos povos originários do Brasil.

Desse modo resgatamos a expressão “Eu estava aqui o tempo todo e você não me viu” como mote para reflexão e recorte temático sobre desafios e conquistas da arte indígena contemporânea brasileira. Convidamos pesquisadores e artistas a produzirem trabalhos em torno de questões como:

  1. Aestesis provocativas;
  2. Práticas curatoriais de artistas e curadores indígenas;
  3.  Proposições de outros modos de produzir arte contemporânea;
  4.  Poéticas indígenas nos tristes trópicos.

Esta chamada está aberta para publicação no volume 3 do segundo semestre de 2022.

As colaborações podem ser em português, espanhol, inglês, francês ou língua nativa dos povos originários e devem ser enviadas até 31 de janeiro de 2022 pelo site:

 http://www.seer.ufu.br/index.php/revistaestadodaarte/about/submissions

Os textos devem ter de 25.000 a 35.000 caracteres com espaços, incluindo todas as informações adicionais (resumo, palavras-chave, dados do autor, legendas etc.). Também são aceitas submissões de traduções, curadorias, entrevistas, autorias, resenhas de livros, de exposições.

Artigos de temática livre, entrevistas e resenhas, dentro do campo das Artes Visuais, podem ser submetidos em fluxo contínuo. As normas para elaboração dos artigos estão disponíveis em um template no site:

http://www.seer.ufu.br/index.php/revistaestadodaarte/index