Resumo
O artigo propõe uma reflexão sobre os desafios para o planejamento e as políticas públicas em termos da adaptação das cidades brasileiras à dinâmica futura da transição climática e das transições populacionais (demográfica, epidemiológica, urbana e de mobilidade). A relação recursiva entre tais transições será determinante para definir como os Sistemas Socioambientais Urbanos, que incluem as suas populações em distintos tamanhos, densidades, distribuições espaciais intraurbana e composições, e as características ambientais, socioeconômicas, morfológicas e funcionais das cidades, terão que se adaptar aos riscos e desastres nas próximas décadas. Inicialmente, o artigo discute as principais características das transições populacionais e climática, as suas relações com o processo de modernização, e o desafio que representam para a adaptação dos Sistemas Socioambientais Urbanos. É discutido, em seguida, o conceito de Transição Demo-climática como o reconhecimento da natureza endógena da relação entre as transições populacionais e as mudanças ambientais globais, especificamente as mudanças climáticas. Por fim, é proposto um modelo conceitual de adaptação de Sistemas Socioambientais Urbanos aos desafios da Transição Demo-climática, tendo como eixo os aumentos de capacidade adaptativa e resiliência urbanas, e a construção de capacidade de planejamento e políticas públicas de curto, médio e longo prazos. Nesse contexto, o planejamento, como a ponte entre um processo político (Policy) e o conhecimento científico associado aos saberes locais, é um instrumento fundamental para potencializar a resiliência e capacidade adaptativa dos Sistemas Socioambientais Urbanos como resposta à emergência climática.
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