Narrativas Interpretativas do Geopatrimônio: Experiências em Geoparques Franceses

Resumo

Este artigo investiga painéis interpretativos em geossítios de três geoparques franceses, com o objetivo de compreender como diferentes estratégias narrativas comunicam aspectos do geopatrimônio. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, baseada na análise crítica de 17 painéis coletados em campo. O referencial teórico fundamenta-se na tipologia patrimonial proposta por Doumit (2007), que identifica cinco dimensões narrativas — científica, histórica, simbólica, artística e sensorial —, além de um quadro analítico com quatro abordagens interpretativas: educacional, comunicacional, discursiva e integrativa. Os resultados indicam uma predominância da dimensão científica/natural nos painéis analisados, revelando uma valorização dos aspectos técnicos e geológicos. No entanto, em alguns casos, há articulação com outras dimensões, como a histórica, simbólica e sensorial, principalmente quando os conteúdos se relacionam a práticas sociais, memórias locais ou elementos culturais. Essas conexões ampliam a experiência interpretativa e favorecem uma leitura mais contextualizada do território. Quanto às abordagens interpretativas, prevalecem as orientações educativas e comunicacionais, com foco na explicação técnica e no uso de recursos visuais, o que facilita o acesso a conteúdos científicos, mas tende a restringir a participação ativa do público. Já as abordagens discursiva e integrativa, que estimulam o envolvimento dos visitantes na construção de sentidos e promovem vínculos afetivos com os lugares, são menos frequentes, apontando um potencial ainda pouco explorado. A discussão propõe uma reflexão sobre o papel dos dispositivos interpretativos como mediadores culturais do território, ressaltando sua capacidade de construir significados, promover pertencimento e fortalecer a relação entre comunidades, paisagens e patrimônios locais. Ao combinar conhecimento, memória e experiência, esses dispositivos podem contribuir para processos mais amplos de valorização, apropriação social e conservação do geopatrimônio. O estudo dialoga com experiências brasileiras e reforça a importância de estratégias interpretativas que integrem múltiplas dimensões do patrimônio, com abordagens mais sensíveis e participativas. Defende-se, assim, uma mediação cultural que promova envolvimento comunitário, sentimento de pertencimento e ações voltadas à sustentabilidade, ampliando os impactos sociais e educativos dos geoparques.