Resumo
As comunidades de pescadores artesanais costeiros possuem um patrimônio histórico-cultural e natural inestimável, cujas relações com seus territórios tradicionais não são evidentes. Ao serem estabelecidas de geração para geração, carregam consigo uma rica carga histórica e cultural, além de integrarem aspectos naturais importantes. Ao abordar a questão “Como o patrimônio histórico, cultural e natural expressa um senso de territorialidade para as comunidades costeiras açorianas estabelecidas no sul do Brasil?”, esta pesquisa busca relacionar o território com as pessoas que ali vivem. Desta forma, os dados foram coletados na comunidade de Ibiraquera, localizada no litoral da região centro-sul do Estado de Santa Catarina, por meio de: (i) visitas guiadas para registro de pontos de importância e histórias; (ii) entrevistas semiestruturadas e; (iii) reuniões para construção da cartografia social. A seleção dos participantes foi realizada pelo método bola de neve, utilizando o software Quantum Gis (QGIS) para criação dos mapas. Ao privilegiar a construção do conhecimento sob a perspectiva popular, simbólica e cultural, a cartografia social constitui um método de pesquisa participativa onde os atores sociais expressam suas territorialidades, desejos e ancestralidades. Os ranchos de pesca, engenhos de farinha, caminhos tradicionais, manifestações culturais e pontos de importância históricos foram destacados como patrimônios histórico-cultural e natural. Estes patrimônios demonstraram uma conexão intrínseca entre a comunidade e seus territórios tradicionais, abrangendo aspectos materiais e imateriais. O envolvimento com o espaço, ao longo das gerações e através do seu uso e apropriação, forneceu um senso de territorialidade a esta população tradicional que está intimamente vinculada aos seus patrimônios.
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