Resumo
As terras indígenas brasileiras, concentradas em mais de 98% na região amazônica, representam uma barreira significativa contra o avanço do desmatamento nessa área. A Amazônia, com sua vasta biodiversidade, tem sido impactada pela expansão da agricultura e por ocupações, tanto legais quanto ilegais, que negligenciam as características ambientais regionais. O presente estudo analisou as alterações na vegetação no período de 1985 a 2020, tanto no interior quanto no entorno de terras indígenas na Bacia Amazônica brasileira. Para tanto, foram utilizados a classificação de uso e cobertura da terra, o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), o Índice de Água por Diferença Normalizada (NDWI) e a Temperatura da Superfície Terrestre (LST). Os resultados demonstraram que as terras indígenas e suas áreas circundantes, localizadas distantemente de propriedades agrícolas e próximas a outras terras indígenas ou Unidades de Conservação (UCs) federais, mantiveram a conservação da vegetação, da temperatura e da umidade do solo em suas áreas internas e adjacentes. Por outro lado, as terras indígenas contíguas a áreas de expansão agrícola, embora ainda preservassem sua vegetação, apresentaram modificações em seu entorno. A substituição da floresta por plantações de soja e áreas de pastagem resultou no aumento da LST nas vizinhanças dessas terras. Evidencia-se, assim, a resiliência e a relevância das terras indígenas na proteção e preservação do bioma amazônico e de sua extensa biodiversidade.
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