“Isso é algo que não vi em nenhum outro lugar do mundo”
as percepções de Ibn Battuta sobre o Islã no Mali (séc. XIV)
DOI:
https://doi.org/10.14393/cdhis.v38n1.2025.78058Resumo
Este artigo analisa as percepções do viajante Ibn Battuta sobre o Islã no Bilad al-Sudan (séc. XIV), registradas em sua obra Rihla. Partindo de uma perspectiva sunita do Magrebe, Battuta criticou práticas locais no Império do Mali, como a interação social entre homens e mulheres, rituais com griôs e a nudez de escravizadas durante o Ramadan, interpretando-as como desvios da ortodoxia islâmica. Contudo, o estudo evidencia que tais costumes configuravam uma ressignificação do Islã frente às tradições do Bilad al-Sudan, demonstrando que não se tratavam de manifestações pagãs, mas de expressões legítimas da própria fé islâmica em diálogo com o contexto local. A análise de trechos da Rihla e de autores como Macedo, Marques e Dunn revela que o Islã na África Ocidental não era mera importação dogmática, mas fruto de trocas transaarianas e ressignificações locais. O trabalho reforça a complexidade das práticas islâmicas na região, desconstruindo visões estereotipadas sobre a África pré-colonial e destacando sua integração ao Dar al-Islam.