O Problema da Unidade da Cultura Europeia
Auerbach e Curtius
DOI:
https://doi.org/10.14393/cdhis.v35n2.2022.67752Resumo
A geração de filólogos alemães da primeira metade do século XX interpretou os eventos políticos, sociais e culturais de seu tempo nos termos de uma crise europeia. Tal situação evocaria uma urgência, uma tarefa que, a seu ver, poderia ser enfrentada de modo eficaz pela Filologia Românica. Naturalmente, essa crise remete aos eventos políticos imediatamente anteriores: a ascensão do Nacional-Socialismo, a Segunda Guerra Mundial, o exílio, mas não apenas. Ela traduz, também, as transformações culturais em curso, ao surgimento da estética modernista e o desaparecimento gradativo de um mundo cuja unidade era o pressuposto fundamental. A função da filologia, disciplina construída sobre os pilares do idealismo e do romantismo alemão, seria recuperar o sentido dessa totalidade para a Europa contemporânea, recolocando os clássicos em seu lugar devido e opondo aos partidarismos político-nacionais o cosmopolitismo próprio da cultura ocidental. Nos quadros da Romanística, essa tarefa restauradora teve como ideal o resgate da Idade Média latina, anteriormente desprestigiada pela sobriedade da estética iluminista e neoclássica. Dante Alighieri foi exemplar, nesse sentido: um modelo estético, político e moral para a Alemanha contemporânea. Gostaria de evidenciar, nesse artigo, a relevância que o poeta assumiu na reflexão de dois destacados romanistas – Erich Auerbach e Ernst R. Curtius – em seus escritos da década de 1930.