A relevância da fundamentação ontológica para uma psicopatologia dos transtornos ansiosos

a angústia como negatividade

Autores

  • Letícia Reis de Andrade Souza Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação
  • Guilherme Peres Messas Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.14393/PPv24n2a2020-57751

Palavras-chave:

Transtornos ansiosos., Angústia., Psicopatologia., Hermenêutica.

Resumo

A partir da constatação de que os transtornos ansiosos (CID F.40 – F.43) afetam 3,6% da população mundial e 9,3% dos brasileiros, torna-se prioridade para uma psicopatologia fenomenológica voltar-se ao fundamento ontológico que os sustenta para visar um caminho de investigação. A fenomenologia enquanto método é via fértil para o desvelamento de tais quadros e, consequentemente, para um futuro desenvolvimento de terapêuticas respectivas. Esta fertilidade se funda na força da explicitação fenomenológica das condições de possibilidade da experiência adoecida e da estrutura vivida do transtorno, respectiva ao modo como a experiência patológica pode estruturalmente se configurar. Os pensamentos hermenêutico e descritivo se dão para além das categorias universalizantes e das classificações abstratas, e, articulando-se à psicopatologia fenomenológica, suscitam o resgate do termo alemão "angst" enquanto possibilidade de fundamento ontológico dos transtornos ansiosos. “Angst”, literalmente "angústia, foi traduzido em textos psicopatológicos para "anxiety", perdendo, enquanto "ansiedade", seu caráter constitutivo e reflexivo. Reduziu-se à descrição ôntica de sinais e sintomas, carecendo da recuperação de seu sentido originário para que se possa elucidar a posição privilegiada da angústia enquanto negatividade e como fundamento ontológico comum entre os transtornos ansiosos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Aho, K. (2019). Affectivity and its disordes. In G. Stanghellini et al (Ed.), The Oxford handbook of phenomenological psychopathology. (pp.561-568). New York: Oxford University Press.

Andersch N. (2017). Toward a synthesis of psychiatry and semiotics. Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 6(2): 93-111. Recuperado de: https://www.researchgate.net/publication/322539535_Towards_a_synthesis_of_Psychiatry_and_semiotics_Para_uma_sintese_entre_Psiquiatria_e_semiotica

Andreasen N. C. (2007). DSM and the death of phenomenology in america: an example of unintended consequences. Schizophrenia bulletin, 33(1), 108–112. https://doi.org/10.1093/schbul/sbl054

Angerami, V. (org). (2014). Angústia e psicoterapia: uma visão multiteórica. 2ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Banzato, C. E. M, & Zorzanelli, R. T. (2017). Conhecimento tácito e raciocínio clínico em psiquiatria. Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 6(2): 81-92. Doi: 10.37067/rpfc.v6i2.979

Barthélemy, J. M. (2012). Origem e contexto de emergência da nação de estrutura em psicopatologia fenômeno-estrutural: evolução do conceito, seu lugar e suas implicações nas práticas clínicas contemporâneas. Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 1(1): 88-105.

Basso, E. (2009). L’apriori nella psichiatria “fenomenológica”. In L. Bisin (Ed.), Los guardo in antecipo: quatro studi sull’apriori. (pp.9-46). New York: Oxford University Press.

Binswanger, L. (1977). Três formas da existência malograda: extravagância, excentricidade, amaneiramento. Rio de Janeiro: Zahar Editores. (Originalmente publicado em 1956).

Binswanger, L. (2013). Sonho e Existência: escritos sobre fenomenologia e psicanálise. Rio de Janeiro: Via Verita. (Originalmente publicado em 1954).

Blankenburg W. (2018). Qual é o alcance da abordagem dialética na psiquiatria? (Tradução) Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 7(1): 44-67.

Boss, M. (1977). Análise Existencial - Daseinsanalyse: Como a Daseinsanalyse entrou na Psiquiatria. Daseinsanalyse - Revista da Associação Brasileira de Daseinsanalyse, 22,23-35.

Camus, A. (2019) O mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Record. (Originalmente publicado em 1942).

Fuchs, T. (2019). The interactive fenomenal field and the life space: sketch of na ecological concept of psychoptherapy. Psychopathology. doi: 10.1159/000500012

Fuchs, T. (2017). Ecology of the Brain: The Phenomenology and Biology of the Embodied Mind. OUP Oxford.

Fuchs, T. (2013). Existential Vulnerability: Toward a Psychopathology of Limit Situations. Psychopathology. doi: 10.1159/000351838

Fukuda L. (2013). A psicopatologia na formação psiquiátrica. Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 2(2): 51-65. Doi: 10.37067/rpfc.v2i2.1035

Heidegger M. (2005). Ser e tempo. (15a. ed.). Petrópolis: Vozes. (Originalmente publicado em 1927).

Kierkegaard, S. (2013). O conceito de angústia. (3a. ed.). Petrópolis, RJ: Vozes; Bragança Paulista, SP: Editora São Francisco. (Originalmente publicado em 1844).

Klein, T, & Herzog R. (2017). Inibição, sintoma e medo? Algumas notas sobre a Angst na psicanálise. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 20(4): 686-704. Doi: https://doi.org/10.1590/1415-4714.2017v20n4p686-5

Kraus A. (1994). Um encontro com Heidelberg: diagnósticos fenomenológicos e criteriológicos: diferentes ou complementares? Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 43(5): 251-257.

Kraus, A. (2007). Schizophrenic delusion and hallucination as the expression. And consequence of na alteration of the existencial a prioris. In M.Ch. Chung, K.W. Fulford, G. Graham (Ed.), Reconceiving schizophrenia (pp.97-111). New York: Oxford University Press.

López-Ibor, J. J. (1952). La Angustia Vital. Madrid: Paz Montalvo.

López-Ibor, J. J. (1965). “Basic Anxiety as the Core of Neurosis.” Acta Psychiatrica Scandinava 41(3): 329–332.

López-Ibor, M.J.; Zappino, J. (2019). Vital anxiety. In G. Stanghellini et al (Ed.), The Oxford handbook of phenomenological psychopathology. (pp.582-592). New York: Oxford University Press.

Mattar, C., & Sá, R. (2008). Os sentidos de “análise” e “analítica” no pensamento de Heidegger e suas implicações para a psicoterapia. Estudos e Pesquisas em Psicologia UERJ, RJ, 8(2), 191-203.

Messas G. (2010). Ensaio sobre a estrutura vivida: psicopatologia fenomenológica comparada. São Paulo: Roca.

Messas, G., Tamelini, M., Mancini, M., & Stanghellini, G. (2018). New perspectives in phenomenological psychopatology: its use in psychiatric treatment. Frontiers in Psychiatry, 9(466). Doi: 10.3389 / fpsyt.2018.00466

Messas, G., & Fukuda L. O diagnóstico psicopatológico fenomenológico da perspectiva dialético-essencialista. Revista Pesquisa Qualitativa, 2018; 6(11): 160-191. Doi: 10.33361 / RPQ.2018.v.6.n.11.189

Minkowski, E. (2019). Além do racionalismo mórbido. São Paulo: Escuta. (Originalmente publicado em 1997).

Nietzsche, F. (2009). Genealogia da moral. Rio de Janeiro: Companhia de bolso. (Originalmente publicado em 1887).

Oliveira, A. L, & Antúnez, A. E. A. (2017). A estrutura da pessoa humana em Edith Stein: indicação para a formulação de uma psicologia fundamentalmente humana. Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 6(2): 124-144.

Orengo, FV., Holanda, AF., & Goto, TA.. (2020). Phenomenology and phenomenological psychology for brazilian psychologists: an empirical understanding. Psicologia em Estudo, 25, e45065. Epub March 16, 2020.https://doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.45065

Organização Mundial da Saúde. (1997). CID-10 Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10a rev. São Paulo: Universidade de São Paulo.

Pan American Health Organization. (2018). The Burden of Mental Disorders in the Region of the Americas. Washington, D.C.

Rosfort, R. (2019). Phenomenology and hermeneutics. In G. Stanghellini et al (Ed.), The Oxford handbook of phenomenological psychopathology. (pp.298-312). New York: Oxford University Press.

Salles, A. (2019). Angústia existencial: Psicologia à luz de Kierkegaard. Curitiba: Juruá.

Sartre, J. P. (2018). O ser e o nada. (24a. ed.) Rio de Janeiro: Vozes. (Originalmente publicado em 1943).

Sass, L. (2019). Three dangers: phenomenological reflections on the psychotherapy of psychosis. Psychopathology. doi: 10.1159/000500012.

Sass, L. (1988). Hermeneutics and Psychological Theory: Interpretive Approaches to Personality, Psychopathology and Psychotherapy. New Brunswick, NJ: Rutgers University Press.

Skodlar B, Henriksen MG. (2019). Toward a phenomenological psychotherapy for schizophrenia. Psychopathology. doi: 10.1159/000500163

Souza, G. F. J. (2013). Fenomenologia e raciocínio clínico em psiquiatria: o conceito de marcadores psicopatológicos. Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 2(2): 3-31.

Stanghellini, G. (2019). The Oxford Handbook of Phenomenological Psychopathology. OUP Oxford.

Tamelini, M., & Messas, G. P. (2016). On the phenomenology of delusion: the revelation of its aprioristic structures and the consequences for clinical practice. Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 5(1), 1-21.

Tatossian, A. (2006). A fenomenologia das psicoses. São Paulo: Escuta. (Originalmente publicado em 1979).

Tavares, J. (2006). Terror, medo, pânico: manifestações da angústia no contemporâneo. Rio de Janeiro: 7Letras.

Tavares, J. (2020). Angústia e serenidade: A psicopatologia contemporânea em diálogo com Heidegger. Rio de Janeiro: Via Vertita.

Tellenbach, H. (1999). A endogeneidade como origem da melancolia e do tipo melancólico. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 2, n. 4, p. 164-175. (Originalmente publicado em 1969).

Tellenbach, H. (2014). A espacialidade do melancólico – parte I. Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 3(1): 134-156. (Originalmente publicado em 1956).

World Health Organization. (2017). Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates. Geneva.

Zegers, O. D. (2014). Los síndromes ansiosos y depressivos como timopatías. Psicopatologia Fenomenológica Contemporânea, 3(1): 1-22.

Downloads

Publicado

2021-03-10

Como Citar

Reis de Andrade Souza, L., & Peres Messas, G. . (2021). A relevância da fundamentação ontológica para uma psicopatologia dos transtornos ansiosos: a angústia como negatividade. Perspectivas Em Psicologia, 24(2), 154–169. https://doi.org/10.14393/PPv24n2a2020-57751