Usos do passado e o holocausto
Reflexões sobre a questão da singularidade
DOI:
https://doi.org/10.14393/cdhis.v34n2.2021.63716Resumo
Pensar sobre se o Holocausto foi um evento único ou singular é, inevitavelmente, refletir sobre os usos do passado. Certos estudiosos advogam a tese de que a Shoah é sem precedentes e sem paralelos, estando fora da razão e fora da História, sendo um evento inenarrável. Há, por outro lado, os que alegam que foi apenas um genocídio em meio a vários outros e que por trás da tese da unicidade/singularidade se escondem interesses racistas e imperialistas. O debate, muitas vezes ríspido, entre os defensores das duas teses, é esposado por grupos identitários e, muitas vezes, a contenda se torna uma disputa entre qual grupo teria sofrido mais perseguição e violência. Várias vivências são comparadas à dos judeus sob o jugo nazista na reivindicação que os holocaustos, na verdade, são muitos: judeu, armênio, africano, indígena, etc. Assim, o Holocausto assume uma dupla face, paradoxal, de ser ao mesmo tempo um evento único e universal, singular e paradigmático, posto que ao mesmo tempo em que sua singularidade é questionada, também é reivindicada como autoritativa do sofrimento de outros grupos. Neste artigo, pretendemos passar em vista as discussões conceituais sobre o que é genocídio e o lugar que a Shoah ocupa nessa conceituação, mostrando o ponto de vista de autores como Lemkin, Katz, Bauer, Moses, entre outros, e as implicações éticas e representacionais das alegações da unicidade e universalidade do evento.