Os sentidos da política: a vida ainda pulsa?

Resumo

O ano de 2013 será lembrado, na história do Brasil, pela imagem das ruas tomadas por multidões, nos protestos que ficaram conhecidos como Jornadas de Junho. Tais movimentos provocaram acalorados debates, não apenas porque surpreenderam, ao emergirem em um cenário histórico dominado pela apatia e desengajamento político, mas também porque se fizeram acompanhar de um discurso de descrédito em relação aos partidos e sindicatos, aos políticos profissionais e à política em geral. Este momento vivo e pulsante torna relevante a problematização dos sentidos da política no tempo presente. Sendo assim, o artigo analisa, a partir de Hannah Arendt, a política em seu nascedouro e reflete sobre as modificações ocorridas no campo político ao longo do processo histórico, destacando a crescente privatização da esfera pública, impulsionada pela racionalidade do mercado; o esvaziamento do viver urbano e o arrefecimento da responsabilidade cidadã. Esse percurso analítico propicia perceber que, no horizonte das transformações sociais mais recentes - quando a presença ostensiva das tecnologias digitais configura novas relações entre as forças políticas tradicionais e as insatisfações populares, mas, ao mesmo tempo, dificulta o estabelecimento de vínculos sociais mais sólidos ou duradouros -, proliferam mecanismos de poder que minam a inventividade popular e anulam a política como espaço da pluralidade, da diferença e do convívio com o outro. Torna-se premente, pois, o empenho para se descontruir a imposição de modelos de subjetividade circunscritas ao eu e para se repensar a vida urbana como espaço público de coexistência - lugar de acolhimento dos conflitos e do convívio politizado.