O Retrato do Cardeal Cristoforo Madruzzo, de Tiziano: o relógio e a política no Renascimento
DOI:
https://doi.org/10.14393/cdhis.v27i2.32620Resumo
O Retrato do Cardeal Cristoforo Madruzzo foi pintado por Tiziano em 1552. Madruzzo foi anfitrião do Concílio de Trento, de onde era príncipe-bispo. Atuou como embaixador e porta-voz de Carlos V, imperador do Sacro Império Romano Germânico. Como cardeal romano, serviu a mais de cinco papas ao longo de quase trinta anos. Madruzzo encontrava-se como mediador entre as forças e os interesses papais e os do imperador. Seu retrato, pintado por Tiziano, deixa transparecer aspectos desse momento da história europeia. O cardeal é representado no ato de abrir uma cortina vermelha e revelar um precioso relógio mecânico. Longe de ser a primeira vez em que um relógio mecânico aparece num retrato, este se insere numa tradição iconográfica que atribui ao mecanismo diversas conotações morais, como a virtude da temperança, a vanitas, o memento mori. Além disso, o objeto passa a ser visto como um símbolo da regularidade do mundo que, com o advento da ciência, é cada vez mais racional e preciso. O relógio mecânico foi apreciado por colecionadores, como o próprio Carlos V, cujo interesse se devia, em parte, à proliferação de textos políticos que associavam a ação do governante às engrenagens de um mecanismo como o relógio. Enfim, o mecanismo faz-se personagem central da cena, cuja teatralidade brilhantemente construída por Tiziano nos fez percorrer toda essa trajetória.
Palavras-chave: Retrato. Renascimento. Tiziano. Cardeal.