“Era só pizza que avuava junto com as brachola”: o samba paulista e a obliteração do negro na memória da São Paulo cosmopolita
DOI:
https://doi.org/10.14393/ArtC-V20n36-2018-1-03Resumo
A narrativa que aponta a especifi cidade do modelo regional paulista diante do samba carioca está empenhada em legitimar o gênero na capital do estado de São Paulo, forjando para ele uma história particular. Entender as razões que levam determinado grupo de sambistas a defender enfaticamente sua visão passa por tentar desvendar as tramas identitárias paulistanas e sua autoimagem pautada pela valorização de elementos culturais identifi cados com a vanguarda. Voltada à reafirmação de sua vocação cosmopolita e pouco afeita a se reconhecer como cidade mestiça, a cidade de São Paulo pouco espaço reservou para um gênero musical reiteradamente associado à mestiçagem, à brasilidade e à cultura tradicional.
Palavras-chave: samba paulista; memória; cultura afro-brasileira.
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Referências
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extraído do documentário de
MELLO, Gustavo. Samba à
paulista: fragmentos de uma
história esquecida. São Paulo,
, parte I, 32
Como acontece com os redutos
negros da tiririca no Largo da
Banana e na Barra Funda ou
com os sucessivos deslocamentos
do espaço destinado
aos desfiles carnavalescos,
que desde a ofi cialização dos
festejos de Momo, em 1968, foi
alocado em diferentes lugares
até ser defi nitivamente restringido
ao Sambódromo em 1991.
RIBEIRO, Peri apud BORELLI,
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em 7 jan. 2014.
Não vem ao caso discutir,
aqui, até que ponto tal programa
pode ser considerado como
tipicamente bossa-novista ou
não.
A TV Excelsior organizou o
I Festival Nacional de Música
Popular, em 1965. A fórmula
agradou e se consagrou no
gosto do público e da crítica,
e em 1966 a TV Record levou
ao ar o II Festival de Música
Popular Brasileira, repetindo o
feito em 1967 e 1968.
CAMPOS, Augusto de [org.].
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, p. 126.
Cf. ARRUDA, Maria Arminda
do Nascimento. Metrópole e
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Nascimento, op. cit, p. 334 e 335.
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WISNIK, José Miguel, op. cit.
WISNIK, José Miguel, op. cit.
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Idem, ibidem, p. 147.
Idem.
Idem, ibidem, p. 149.
Idem.
esforços por nós empregados
para recompor a literatura
africana em São Paulo: nas tradições
do povo transplantando
do continente negro, nada
encontramos além de ligeiras
notícias sobre os costumes dos
filhos de Angola e das quadrinhas
seguintes que, longe
de serem uma manifestação
espiritual da raça a quem tanto
deve o Brasil, não é [sic] senão
mera crítica de origem erudita
à humilde condição dos modestos
colaboradores da nossa
grandeza material
Aff onso A. de, op. cit., p. 153.
Ver ARA
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Idem.
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Idem.
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pós-abolicionista. In: PORTA,
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Código de posturas apud SANTOS,
Carlos José Ferreira dos,
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Maria Célia. São Paulo no
plural: espaço público e redes
de sociabilidade. In: PORTA,
Paula (org.), op. cit., p. 60.
Assim, por exemplo, negros
da classe média censuravam
os encontros populares na Rua
Direita como coisa de
punhado de negros sem compostura
que, infelizmente, para
nossa vergonha, fazem da Rua
Direita o seu campo de exibição
coreográfi ca
esse segmento social
um duplo deslocamento
distanciar dessas manifestações
de rua, que não condiziam com
suas aspirações de ascensão;
por outro, continuava sendo
excluída dos clubes da boa
sociedade branca. A alternativa
foi criar seus próprios clubes:
o Luva Preta, de 1904; o Kosmos,
em 1908; o Elite e o Smart
Club; o Clube dos Evoluídos,
e o Aristocrático Clube, cujos
nomes exprimem, simultaneamente,
a sua autoimagem, a
sua percepção dos
rua
integração e diferenciação
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Quando avalia o papel e a
participação dos músicos populares
na programação das
emissoras de rádio da capital
paulista dos anos 1930, José
Geraldo Vinci de Moraes nota
que, a despeito de o crescente
processo de profi ssionalização
das rádios da cidade haver
proporcionado novas oportunidades
no mercado de trabalho
para o músico paulistano,
o fi nal da década de 1930 os
negros e negras paulistanos
foram mantidos afastados do
ambiente radiofônico. A brutal
discriminação começava com
as difi culdades na participação
dos programas de calouros e de
auditório e crescia na limitação
a eventuais possibilidades de
ingressar no universo artístico
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ARA
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ARA
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v. 18, n. 50, São Paulo, 2004,
p. 246.
O início da construção da
Linha 6-Laranja, previsto para
, foi adiado para 2014.
Entretanto, em 2016, a concessionária
responsável pela obra
propôs alterações no projeto
que possibilitaram a permanência
da sede da escola de samba
no local.
Depoimento concedido a
CASTRO, Márcio Sampaio de.
Vai-Vai, não vai. Carta Capital.
maio 2013. Disponível em
br/revista/747/vai-vai-nao-vai.
Acesso em 2 set. 2013.
Idem.
Depoimento de Zé Mário
concedido a CASTRO, Márcio
Sampaio de, op. cit.
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