A prática do feminicídio no espaço doméstico
punição masculina à resistência das mulheres ao Poder Patriarcal
DOI :
https://doi.org/10.14393/HTP-v5n1-2023-68427Mots-clés :
Estudos Discursivos Foucaultianos, Feminicídio, Relações de Poder, Desobediência/puniçãoRésumé
Neste artigo, propomo-nos analisar de que modo a prática do feminicídio no espaço doméstico se constitui como punição à resistência das mulheres aos modos de sujeição ao poder patriarcal em relações íntimas de afeto. Nosso corpus foi selecionado no arquivo discursivo que trata da violência contra a mulher no Brasil no período de 2006-2016. A partir do acervo composto por 4.034 notícias publicadas no site de notícias G1, foram escolhidas cinco que compõem uma série discursiva caracterizada por uma regularidade: a prática de feminicídio como suplício que impõe castigos e morte cruel contra a mulher acusada de desobediência ao descumprir o pacto de aliança e tentar desfazer o vínculo afetivo, perpetrado pelo marido/namorado/companheiro. Quanto à metodologia, utilizamos uma abordagem descritivo-interpretativa associada ao método arqueogenealógico foucaultiano. Além disso, empregamos como aporte teórico a História das Mulheres no Brasil (DEL PRIORE, 2010; D’INCAO, 2010; PINSKY, 2010) e os Estudos da Violência de gênero (SEGATO, 2016; SAFIOTTI, 2015; ELUF, 2010). Como resultados, verificamos o conformismo e os consentimentos social e institucional em relação a práticas masculinas tóxicas, sustentadas por uma formação discursiva machista, patriarcal, misógina que naturaliza a violência doméstica contra mulheres, objetivando-as como contraventoras do código moral e lhes impondo a morte como punição à desobediência feminina.
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