O meu lugar é na roda

a mulher na capoeira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/HTP-v6n2-2024-74736

Palavras-chave:

Capoeira feminina, Gênero, Estudos foucaultianos, Feminismos negros, Estudos decoloniais

Resumo

Este artigo tem por objetivo problematizar os discursos sobre o espaço ocupado pelas mulheres na capoeira, bem como os sentidos atribuídos à corporalidade feminina neste universo marcadamente masculino. Essa discussão considera as influências do vínculo social, político e de resistência da capoeira em sua relação com as culturas afro-brasileiras, como também a influência da perspectiva esportiva adotada durante o projeto nacionalista do Estado Novo. Em contrapartida à versão esportiva baseada na performance física, apresento os fundamentos da malícia e a concepção do corpo-capoeira como modo alternativo de uma performatividade oriunda das culturas afrodiaspóricas. Essa análise também demanda a compreensão das interseccionalidades de raça, gênero e classe e se apoia nos preceitos teóricos dos estudos decoloniais e dos feminismos negros. A partir dessa elaboração teórica, proponho a análise de duas notícias selecionadas da internet, veiculadas entre os anos de 2022 e 2023, sobre as construções discursivas atuais que perpassam a participação feminina na capoeira. Encerro o trabalho com a compreensão de que a análise da produção de subjetividades a partir do corpo-capoeira da mulher requer estudos aprofundados e destaco a importância de pautar essa discussão em consonância com os princípios das culturas e da herança afro-brasileiras.

Biografia do Autor

  • Kátia Linhaus de Oliveira, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

    Doutoranda do programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGL-UFSC). Mestra em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina. Servidora técnica em assuntos educacionais do Instituto Federal Catarinense (IFC).

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Publicado

2024-12-30

Como Citar

O meu lugar é na roda: a mulher na capoeira. Revista Heterotópica, [S. l.], v. 6, n. 2, p. 176–201, 2024. DOI: 10.14393/HTP-v6n2-2024-74736. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/RevistaHeterotopica/article/view/74736. Acesso em: 26 mar. 2025.