A histeria como materialidade e subversão

uma cartografia do sofrimento gendrado e um convite à inversão conotativa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/HTP-v5n2-2023-70224

Palavras-chave:

Discurso, Fibromialgia, Histeria, Gênero, Performatividade

Resumo

A partir da interlocução entre textos de Michel Foucault, teorias de desconstrução do sujeito que problematizam as teorias clássicas da Psicanálise e a discussão de gênero e performatividade estabelecida por Judith Butler, este ensaio tem por objetivo produzir uma tentativa de cartografia do sofrimento corpóreo e psíquico nomeado por Fibromialgia, síndrome considerada uma histeria contemporânea que predominantemente acomete mulheres na atualidade, de modo a mapear agenciamentos e produções discursivas relativos a um tipo de manifestação que muito tem a dizer sobre as expectativas sociais aplicadas a um determinado tipo de feminilidade. Os processos de subjetivação podem ter sua enunciação inscrita no corpo – seja por processos psíquicos ou de medicalização –, por isso se faz necessário tentar abarcar nesta discussão a inextrincável relação entre poder, discurso e materialidade. O texto sugere uma revisão subversiva da expressão histeria e seus termos derivados, para, enfim, propor uma nova conotação de uso e sentido ao vocábulo que possa indexicalizar para formações discursivas e subjetividades em devir.

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Biografia do Autor

Kamila Caetano Almeida, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Kamila Caetano Almeida é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e revisora de textos no Instituto Federal Catarinense (IFC).

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Publicado

2023-12-29

Como Citar

CAETANO ALMEIDA, K. A histeria como materialidade e subversão: uma cartografia do sofrimento gendrado e um convite à inversão conotativa. Revista Heterotópica, [S. l.], v. 5, n. 2, p. 190–211, 2023. DOI: 10.14393/HTP-v5n2-2023-70224. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/RevistaHeterotopica/article/view/70224. Acesso em: 22 jul. 2024.