“[...] o negócio sempre acaba no médico”

o regime tecnobiodiscursivo do dispositivo microprotético DIU

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/HTP-v5n2-2023-69955

Palavras-chave:

Biopolítica, Dispositivos, Tecnobiodiscurso, Saúde reprodutiva das mulheres, Dispositivo microprotético DIU

Resumo

Sob a mirada da arqueogenealogia foucaultiana, estimada pelos estudos do campo discursivo e pela Linguística Aplicada (LA) Contemporânea, associada a estudos feministas e de gênero, este artigo objetiva analisar os discursos sobre as mulheres cisgênero que inseriram (ou que pretendem inserir) o Dispositivo Intrauterino (DIU) de cobre, tendo em vista os efeitos inventariados por esses discursos na relação médico-enfermeiro-paciente. O corpus é formado por excertos de duas entrevistas semiestruturadas: uma realizada com um médico ginecologista-obstetra; e outra com uma técnica em enfermagem – ambos funcionários do (microespaço) Serviço de Atendimento à Saúde da Comunidade Universitária (SASC), do Hospital Universitário (HU), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A partir dos conceitos de discurso, dispositivo e biopolítica de Foucault, em diálogo com a farmacopornografia de Preciado, as regularidades discursivas apontadas nas entrevistas analisadas possibilitam defender – tanto na construção de si que o médico faz como perito que ocupa um lugar estratégico de diferente quanto na sobrevivência de estratégias de poder pastoral nos discursos da técnica de enfermagem – o funcionamento do dispositivo microprotético DIU. Este, transitando entre discursos e práticas agonísticos/ambíguos, produz marcas de objetivação e subjetivação às mulheres que o aderem, forjando tecnobiodiscursivamente determinadas corporalidades a elas.

 

Palavras-chave: Biopolítica; Dispositivos; Tecnobiodiscurso; Saúde reprodutiva das mulheres; Dispositivo microprotético DIU.

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Biografia do Autor

Bianca Franchini da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Doutoranda e Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL), da UFSC. Bolsista de doutorado Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Membra do Grupo de Estudos no Campo Discursivo e do Laboratório Interdisciplinar de ensino, pesquisa e extensão em sexualidades – AFRODITE.

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Publicado

2023-12-29

Como Citar

FRANCHINI DA SILVA, B. “[...] o negócio sempre acaba no médico”: o regime tecnobiodiscursivo do dispositivo microprotético DIU. Revista Heterotópica, [S. l.], v. 5, n. 2, p. 46–76, 2023. DOI: 10.14393/HTP-v5n2-2023-69955. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/RevistaHeterotopica/article/view/69955. Acesso em: 22 jul. 2024.