Quem são os “moleques” e os “pivetes” nos dicionários de língua portuguesa?

Um estudo discursivo, linguístico e histórico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/HTP-v5n1-2023-68040

Palavras-chave:

Moleque, Pivete, Dicionário, Análise do Discurso, História das Ideias Linguísticas

Resumo

Este trabalho é uma análise discursiva do funcionamento dos discursos racializados a partir de entradas dos verbetes "moleque" e “pivete” em dicionários de língua portuguesa produzidos entre o séc. XVIII e o séc. XXI. O embasamento teórico está sustentado nos pressupostos da Análise do Discurso de perspectiva materialista e da História das Ideias Linguísticas. Nesse sentido, pretendeu-se analisar os deslizamentos de sentido dos verbetes tendo em vista os desdobramentos históricos da sociedade brasileira no tempo. O trabalho foi feito ao considerar dicionários como instrumentos linguísticos hegemônicos da colonização, e o racismo como componente estrutural da sociedade brasileira na história. Por fim, concluiu-se que a memória discursiva que atravessa os verbetes em questão permite a associação, ainda hoje, de discursos racializados e efeitos de sentido pejorativos associados às designações “moleque” e “pivete”.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Samille Jarallah Midlej, Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Licencianda em Letras - Português e Inglês pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Membro do grupo de pesquisa Discurso e Tensões Raciais (dTer).

Pedro Arão das Mercês Carvalho, Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Licenciando em Letras - Português e Inglês pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Membro do grupo de pesquisa Discurso e Tensões Raciais (dTer).

Rogério Modesto, Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

Doutor e Mestre em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Graduado em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia - UFBA. É Professor Adjunto do Departamento de Letras e Artes da UESC, além de líder do grupo de pesquisa Discurso e Tensões Raciais (dTer).

Referências

A situação de rua para crianças e adolescentes no Brasil de hoje. Àwúre, 2021. Disponível em: https://www.awure.com.br/a-situacao-de-rua-para-criancas-e-adolescentes-no-brasil-de-hoje/. Acesso em: 2 ago. 2022.

ALMEIDA, Sílvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2019.

ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

AULETE, Francisco Júlio de Caldas; VALENTE, Antonio Lopes dos Santos. Diccionario Contemporaneo da Lingua Portugueza. Imprensa Nacional: Lisboa, 1881.

AUROUX, Sylvain. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas: Editora da Unicamp, 1992.

AZEVEDO, Célia Marinho de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites no século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

BARBOSA FILHO, Fábio Ramos. Ler o arquivo em análise de discurso: observações sobre o alienismo brasileiro. Caderno de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 64, p. 1-22, e022007, 2022. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v64i00.8664658

BLUTEAU, Rafael; SILVA, Antonio Moraes. Diccionario da Lingua Portugueza. Lisboa, Portugal: Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1789.

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 03 set. 2022.

CAPELLANI, Ana Paula Lemos; MEGID, Cristiane Maria. Mas... O que não é possível? Efeitos das posições dos sujeitos em A Vida é Bela. In: BOLOGNINI, C. Z. (Org.). Discurso e Ensino: o cinema na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2007, p. 29-35.

ERNST-PEREIRA, Aracy. A falta, o excesso e o estranhamento na constituição/Interpretação do corpus discursivo. In: Anais do IV SEAD - Seminário de Estudos em Análise do Discurso [recurso eletrônico]. Porto Alegre: UFRGS, 2009. Disponível em: http://www.analisedodiscurso.ufrgs.br/anaisdosead/sead4.html. Acesso em: 17 jul. 2022.

FIGUEIREDO, Carolina. População em situação de rua no Brasil cresce 16% de dezembro a maio, diz pesquisa. CNN Brasil, São Paulo, 10 de jun. de 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/populacao-em-situacao-de-rua-no-brasil-cresce-16-de-dezembro-a-maio-diz-pesquisa/#:~:text=Os%20dados%20s%C3%A3o%20do%20Observat%C3%B3rio,vivendo%20nas%20ruas%20do%20Brasil. Acesso em: 2 ago. 2022.

FRAGA FILHO, Walter. Mendigos, moleques e vadios na Bahia século XIX. Salvador: Edufba-HUCITEC, 1995.

GUIMARÃES, E. Sinopse sobre os Estudos Do Português no Brasil - Relatos, 1. Campinas. Unicamp, 1994. Disponível em: https://www.unicamp.br/iel/hil/publica/relatos_01.html. Acesso em: 06 ago. 2022.

GRIGOLETTO, M. Leitura e funcionamento discursivo do livro didático. In: CORACINI, M. J. (org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático. Campinas: Pontes, 1999.

HOUAISS, Antônio (ed.). Pequeno dicionário enciclopédico Koogan Larousse. Larousse do Brasil: Rio de Janeiro, 1979.

LAGAZZI, Suzy. Algumas considerações sobre o método discursivo. In: O desafio de dizer não. Campinas: Pontes Editores, 1998, p. 51-57.

MODESTO, Rogério. Os discursos racializados. Revista da ABRALIN, v. 20, n. 2, p. 1-19, 2021. DOI: https://doi.org/10.25189/rabralin.v20i2.1851

MODESTO, Rogério. Mulato nos dicionários de português ou sobre o que uma palavra pode contar da mestiçagem no brasil. Revista Eletrônica Interfaces, v. 13, n. 3, p. 1-15, 2022. DOI: https://doi.org/10.5935/2179-0027.20220048

NASCENTES, Antenor. Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro: Bloch Editores S/A, v. V, 1976, p. 841.

NUNES, José Horta. Dicionários: história, leitura e produção. Revista de Letras da Universidade Católica de Brasília, v. 3 n. 1, 2010

ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2000.

ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 5 ed. Campinas: Pontes, 2009.

PÊCHEUX, Michel. Ler o arquivo hoje. In. ORLANDI, E. P. (org.). Gestos de leitura: da história no discurso. Trad. Bethânia S. C. Mariani et al. Campinas: Unicamp, 1994, p. 55-66.

PÊCHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou acontecimento. Trad. Eni Puccinelli Orlandi. 5 ed. Campinas: Pontes, 2008.

PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni Puccinelli Orlandi et al. 5 ed. Campinas: Unicamp, 2014.

PIRES, Hindenburg da Silva. Minidicionário Ruth Rocha. São Paulo: Scipione, 2001, p. 412.

REDE NACIONAL CRIANÇA NÃO É DE RUA. Criança não é de rua, 2021. Disponível em: https://criancanaoederua.org.br/situacao-de-rua/. Acesso em: 2 ago. 2022.

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês. São Paulo: Brasiliense, 1986.

SCOTTINI, Alfredo. Minidicionário escolar da língua portuguesa. Blumenau: Todolivro Editora, 2017, p. 419.

SILVA, Mariza Vieira da. O dicionário e o processo de identificação do sujeito-analfabeto. In: GUIMARÃES, E.; ORLANDI, E. P. (org.). Língua e cidadania: o português no Brasil. Campinas: Pontes, 1996, p. 151-162.

XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Língua portuguesa. 2 ed. São Paulo: Ediouro Publicações S.A., 2000, p. 347.

ZOPPI-FONTANA, Mónica Graciela. O português do Brasil como língua transnacional. In. ZOPPI-FONTANA, M. G. (org.). O português do Brasil como língua transnacional. Campinas: Editora RG, p. 13-39, 2009.

Downloads

Publicado

2023-06-30

Como Citar

DRACOULAKIS MIDLEJ RAMOS, S. J.; DAS MERCÊS CARVALHO, P. A.; MODESTO DOS SANTOS, R. L. Quem são os “moleques” e os “pivetes” nos dicionários de língua portuguesa? Um estudo discursivo, linguístico e histórico. Revista Heterotópica, [S. l.], v. 5, n. 1, p. 87–110, 2023. DOI: 10.14393/HTP-v5n1-2023-68040. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/RevistaHeterotopica/article/view/68040. Acesso em: 4 dez. 2024.