Dossiê: Intervenções Grupais como recurso do cuidado em saúde
Na contemporaneidade, o imediatismo, o individualismo, a competitividade desenfreada e a fragmentação dos laços sociais têm levado cientistas a refletirem sobre a complexidade que envolve a dimensão coletiva do homem, o encontro inter-humano, as relações interpessoais e os modos de se relacionar que favoreçam uma vida em sociedade mais empática, solidária e promotora de saúde.
Essa reflexão inicial nos leva a uma questão interessante do ponto de vista científico: como promover espaços para a experiência da dimensão coletiva da humanidade a partir de processos grupais? Como nos ensina Edgar Morin, os processos da vida em grupo dão ao sujeito a possibilidade da auto-exo-referência, ou seja, a capacidade de referir-se a si, ao mesmo tempo em que se refere ao que lhe é exterior. Em outras palavras, não basta apenas, como cientistas, sabermos que o ser humano é um ser social, mas compreender que viver assim em sociedade requer um sair de si para encontrar o outro e voltar a si sem se perder no outro, em um contínuo processo dialógico.
Nessa perspectiva, consideramos que os processos grupais são altamente complexos e têm importância crucial para pesquisas em educação, nas ciências humanas, sociais e da saúde, pois envolvem uma multidimensionalidade de fatores que exigem métodos mais próximos da realidade sócio-histórico-cultural dos sujeitos. Assim, acreditamos que a abordagem a partir de grupo se torna um dispositivo valioso para promover interação social, resolução de conflitos, aprendizagem e desenvolvimento pessoal/coletivo.
Intervenções grupais a partir de diferentes abordagens têm sido amplamente utilizadas em diversas áreas de aplicação da Psicologia. No entanto, independentemente da contextualização da abordagem teórico-prática e da área da Psicologia, a literatura aponta que o grupo é um dispositivo socioeducativo e dialógico e que forças grupais promovem apoio terapêutico, desde que hajam facilitadores que viabilizem interação emocional livre e espontânea. O que nos leva a refletir sobre o papel e a formação dos facilitadores envolvidos nesses processos e sobre o contexto onde eles ocorrem.
Nos âmbitos institucionais diversos (família, escolas, universidades, organizações e comunidades), as intervenções grupais têm promovido compartilhamento de experiências, a partir do qual, quando os integrantes percebem que não as únicas pessoas a viverem uma realidade sofrida ou uma crise, passam a valorizar diversos saberes e dialogar sobre diferentes formas de enfrentamento, o que favorece, por exemplo, ressignificação do sofrimento, mudanças pessoais, reeducação, suporte mútuo e ampliação de vínculos para além do próprio processo grupal.
Nesse sentido, a proposta do Dossiê Intervenções Grupais como recurso do cuidado em saúde foi pensada levando em consideração que há necessidade, no âmbito científico, de fomentar mais publicações sobre intervenções grupais, tendo em vista que diversas práticas têm sido realizadas/estudadas e podem ajudar na produção de conhecimento sobre o tema. Convidamos pesquisadores e profissionais das áreas de ciências humanas, sociais e aplicadas, e da saúde a submeterem, até o dia 15 de junho de 2023, manuscrito relacionado ao tema proposto, respeitando as normas de edição da revista Perspectivas em Psicologia, na qual o Dossiê comporá o volume número 2 de 2023.
Os editores do referido dossiê são a Profª Drª Marciana Gonçalves Farinha (UFU), a Profª. Drª. Shirley Macêdo (UNIVASF) e o Prof. Dr. Darlindo Ferreira de Lima (UFPE).
As submissões poderão ser realizadas online através do endereço: https://seer.ufu.br/index.php/perspectivasempsicologia/about/submissions
Em caso de dificuldades técnicas, por favor, entre em contato conosco através do e-mail: perspectivasempsicologia@gmail.com
Por fim, solicitamos a ampla divulgação desta mensagem e agradecemos o apoio a este importante dossiê.
Profª Drª Marciana Gonçalves Farinha
Profª. Drª. Shirley Macêdo
Prof. Dr. Darlindo Ferreira de Lima