A invenção da Paulistanidade: a emergência de uma cultura histórica, política e escolar/educativa paulista (Século XX)

Conteúdo do artigo principal

Felipe Tavares de Moraes

Resumo

Vinte e três de maio e nove de julho de 1932 são duas datas importantes na história política de São Paulo. Ambas representam manifestações de descontentamento da elite paulista com os rumos centralizadores que a Aliança Liberal tomara, sob a liderança de Getúlio Vargas, após a chamada “Revolução de 1930”. Desferiu-se, a um só tempo, um duro golpe contra a autonomia estadual e a interrupção da hegemonia paulista no governo federal durante a Primeira República (1889-1930). Em 23 de maio, em meio a uma manifestação na Praça da República, que pedia uma nova constituição ao país, houve a repressão de tropas getulistas e foram mortos quatro jovens – Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo –, transformados instantaneamente em mártires, cujas iniciais deram nome ao movimento clandestino MMDC. No acirramento dos ânimos políticos, em 9 de julho a elite paulista sublevou-se em armas contra a “tirania” de Getúlio Vargas, ocasionando uma grande mobilização econômica, militar e cultural para o esforço de guerra, vindo a encerrar, com a derrota paulista, em outubro de 1932 (ABREU, 2010; CAPELATO, 1981; HILTON, 1982; SKIDMORE, 1982). Atualmente, em São Paulo, em 23 de maio é comemorado o Dia do Soldado Constitucionalista; e em 9 de julho, por sua vez, é celebrada a Revolução Constitucionalista. Daquela derrota político-militar ficaram as efemérides cívicas e uma persistente memória e ideologia política, a Paulistanidade, que foi particularmente articulada e mobilizada durante a guerra civil de 1932. Nesse sentido, esta publicação se faz profundamente relevante ao despontar como uma História Social de São Paulo, com importantes apontamentos para a História da Educação Brasileira e competentes contribuições para a História Regional no Brasil. Ressalto, sobretudo, pensar São Paulo do ponto de vista regional, de modo similar aos estudos realizados por Neide Gondim (2007), Durval Muniz Albuquerque Jr. (2009), e Jocelito Zalla e Carla Menegat (2011), que, em relação a formação e consolidação do Estado Nacional Brasileiro, estabeleceram, respectivamente, a invenção da Amazônia, a invenção do Nordeste e a invenção do Gaúcho. Assim, a presente publicação também assinala para a invenção da Paulistanidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Detalhes do artigo

Como Citar
Moraes, F. T. de . (2020). A invenção da Paulistanidade: a emergência de uma cultura histórica, política e escolar/educativa paulista (Século XX). Cadernos De História Da Educação, 19(3), 1096–1102. https://doi.org/10.14393/che-v19n3-2020-26
Seção
Resenha
Biografia do Autor

Referências

ABREU, Marcelo Santos de. Os Mártires da Causa Paulista: culto aos mortos e usos políticos da Revolução Constitucionalista de 1932 (1932-1957). 2010. 312f. Tese (Doutorado em História Social). Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro.

ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. 4ª ed. Recife: FJN; Ed. Massangana; São Paulo: Cortez, 2009.

BONTEMPI JR., Bruno; CAMPOS, Raquel Discini de (Org.). Paulistanidade e Educação: práticas e simbologias. Campinas/SP: Pontes Editores, 2018. 333p.

CAPELATO, Maria Helena. O movimento de 1932: a causa paulista. São Paulo: Brasiliense, 1981.

FARIA FILHO, Luciano Mendes; VIDAL, Diana Gonçalves. A cultura escolar como categoria de análise e como campo de investigação na história da educação brasileira. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p.139-159, jan./abr. 2004. https://doi.org/10.1590/S1517-97022004000100008

HILTON, Stanley. A guerra civil brasileira: história da Revolução Constitucionalista de 1932. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

NEIDE, Gondim. A invenção da Amazônia. 2º ed. Manaus: Editora Valer, 2007.

RÜSEN, Jörn. A razão histórica: teoria da História – os fundamentos da ciência histórica (v.1). Brasília: Editora da UnB, 2010.

SIRINELLI, Jean-François; RIOUX, Jean-Pierre (Orgs.). Para uma história cultural. Tradução de Ana Moura. Lisboa: Estampa, 1998.

SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

ZALLA, Jocelito; MENEGAT, Carla. História e memória da Revolução Farroupilha: breve genealogia do mito. Revista Brasileira de História da Educação, v.31, n.62, p.49-70. 2011. https://doi.org/10.1590/S0102-01882011000200005