Por que a derrubada de estátuas não deveria incomodar os historiadores? Tempo, anacronismo e disputas pelo passado

Autores/as

  • Alexandre de Sá Avelar

DOI:

https://doi.org/10.14393/artc-v24-n44-2022-66583

Palabras clave:

estátuas, tempo, anacronismo

Resumen

Nos últimos anos, inúmeras ações iconoclastas elegeram como alvos está- tuas e monumentos que prestam homenagem a indivíduos e acontecimentos relacionados a memórias sensíveis de passados traumáticos, aqueles que parecem não passar, e que mobilizam múltiplos sentidos e afetos no presente. São momentos nos quais grupos organizados reivindicam a destituição de uma certa ordem memorial, tida como perpetuadora de desigualdades e de opressões, através de interven- ções diretas sobre o espaço público. Essas ações também provocaram fortes controvérsias que mobilizaram a comunidade de historiadores profissionais. Nessas discussões, um dos temas mais acionados foi o do anacronismo. Afinal, a derrubada das está- tuas seria uma iniciativa anacrônica? Partindo desta interrogação, este artigo busca apresentar algumas reflexões sobre tempo, memória e anacronismo, relacionando-os aos debates mais sensíveis subsequentes às iniciativas de questionamento das representações contidas em estátuas e monumentos que habitam o nosso presente.

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Biografía del autor/a

Alexandre de Sá Avelar

Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor dos cursos de graduação e pós-graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador do CNPq. Coorganizador, entre outros livros, de O futuro da história: da crise à reconstrução de teorias e abordagens. Vitó- ria: Milfontes, 2019. 

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Publicado

2022-06-13

Cómo citar

de Sá Avelar, A. (2022). Por que a derrubada de estátuas não deveria incomodar os historiadores? Tempo, anacronismo e disputas pelo passado. ArtCultura, 24(44), 134–156. https://doi.org/10.14393/artc-v24-n44-2022-66583

Número

Sección

Dosier: Historia y anacronismo – Parte II – Nacional