SOFRIMENTO PATOGÊNICO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE EM UMA UBSF
DOI:
https://doi.org/10.14393/Hygeia153246883Palavras-chave:
Saúde do Trabalhador, Sofrimento Patogênico, Agente Comunitário de Saúde, Organização do trabalhoResumo
O presente estudo busca compreender como o desenvolvimento do sofrimento patogênico de ACS se relaciona a organização do trabalho na Estratégia Saúde da Família em decorrência disto os objetivos específicos são: caracterizar o perfil sociodemográfico dos ACS participantes do estudo; analisar a organização do processo de trabalho sob o olhar do ACS e investigar as possíveis situações geradoras de sofrimento no trabalho do ACS. Para tanto se propõe uma abordagem qualitativa, conduzida por meio da observação participante e entrevistas individuais semiestruturadas com agentes comunitários da Estratégia Saúde da Família do Município de Uberlândia - MG. O material selecionado foi submetido à Análise de Conteúdo Temático e interpretado segundo o referencial teórico de Christophe Dejours sobre o sofrimento patogênico, a partir das seguintes categorias temáticas: a) Cotidiano de Trabalho dos ACS; b) Fontes de Prazer no Trabalho, c) Frustrações diante da incapacidade de resolver os problemas; d) Questões que interferem no processo de trabalho. O perfil sócio demográfico na pesquisa evidenciou um predomínio de ACS do sexo feminino, casadas, com ensino superior incompleto, adultos jovens e tempo de atuação entre 25 a 36 meses. A análise do cotidiano de trabalho dos ACS destacou que a principal atividade realizada dentre as que executa é a Visita Domiciliar e que outras determinadas pelo serviço divergem das prescritas pelo Ministério da Saúde. Ficou demonstrado que a satisfação profissional está intrinsicamente ligada a resolutividade de suas ações; a impotência e a incapacidade decorrente da ausência de suporte ou inexistência de ferramentas para atender as demandas da comunidade podem gerar no ACS o sofrimento. Na análise das questões que interferem no processo de trabalho dos ACS e que provocam angústia e insatisfação ficou demonstrado que a culpabilização de um agente externo pela não realização efetiva de seu trabalho é utilizada como estratégia de defesa. Apesar disso, os ACS estão afetivamente ligados ao seu trabalho, o que o torna fonte de sublimação e promotora de saúde. Diante disso propõe-se a reavaliação da organização do processo de trabalho.
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