A Covid-19 e as perturbações no presentismo
DOI:
https://doi.org/10.14393/artc-v22-n41-2020-58640Palabras clave:
crise, temporalidades, pandemiaResumen
Como e se a pandemia do coronavírus provocou uma mudança nas temporalidades que atravessam nosso cotidiano é o que este artigo se propõe analisar. Colocada sob o signo de uma urgência, que nos levou em poucos dias até o "estado de emergência sanitária”, a suspensão das atitudes corporais ordinárias (perigosas) e sua substituição por outras (todas, por sua vez, defensivas e protetivas) deveriam operar, como é normal no regime presentista, instantaneamente ou quase. Desde Hipócrates, cabe à medicina reconhecer que a doença tem, ela também, uma temporalidade própria. Sob a desordem aparente da doença, há de fato uma ordem que identifica o olho treinado do médico: uma ordem do tempo. O tempo da pandemia conduziu à instauração de um tempo novo, aquele do confinamento: tempo sanitário, já que o confinamento é o único instrumento à nossa disposição, diz a medicina, para retardar, frear a progressão do vírus, para que a curva exponencial cesse sua implacável ascensão. Nesse ponto, surgem inevitáveis conflitos de temporalidades que pedem arbitragens. A questão da nomeação do acontecimento é central. Epidemia, pandemia, sim, mas nós ficamos na esfera da medicina. A questão é saber se a grande crise que atravessa o mundo é uma oportunidade, um kairos, que, interrompendo as temporalidades habituais do tempo chronos, poderia abrirse sobre um novo tempo.
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HARTOG, François. Chronos, l’Occident aux prises avec le temps. Paris : Gallimard, 2020.
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