A Independência em versos: Teixeira e Sousa e a história do Brasil por meio da epopeia
DOI:
https://doi.org/10.14393/artc-v26-n48-2024-75989Palavras-chave:
epopeia, escrita da história, independênciaResumo
Como seria possível entender o descompasso entre uma obra que foi concebida como monumental e sua presença limitada ao rodapé? Mobilizando essa questão como abertura para este artigo, busca-se discorrer sobre o intuito historiográfico e memorialístico expresso pela epopeia A Independência do Brasil, de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa (1812-1861), publicada em dois tomos em 1847 e 1855. De que maneira a história de um evento contemporâneo, como a emancipação política de 1822, é figurada no poema? O propósito de refletir acerca da história a partir da literatura repousa no pressuposto da interrogação mútua entre os dois saberes e fundamenta- se, por um lado, numa vigorosa tradição de histórias da literatura e, por outro, no valor creditado à matéria histórica que, de modo prescritivo, compõe o gênero épico. Para isso, procura-se contemplar a recepção do poema por alguns de seus contemporâneos a fim de identificar traços comuns na sua fortuna crítica. Além disso, pretende-se abordar como os eventos históricos são (re)construídos pelo autor com o objetivo não apenas de narrar a história pátria, mas sobretudo de celebrá-la. Por último, espera- se oferecer uma possível chave de leitura para a questão sobre o lugar secundário destinado ao monumento de Teixeira e Sousa.
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