Arquiteturas do tempo
DOI:
https://doi.org/10.14393/artc-v26-n48-2024-75980Resumo
Em 1938, a pedido de André Breton, o arquiteto chileno Roberto Matta Echaurren (quem se transferiria a Nova York, a convite de Duchamp, em outubro de 1939) redige “Mathématique sensible – Architecture du temps”, texto em que rompe com o funcionalismo para pensar as camadas de tempo simultâneo e anacrônico que agem em nós mesmos. «Renversons tous les étalages de l’histoire avec leurs styles et leurs élégantes gaufrettes afin qu’en fuient des rais de poussière dont la pyrotechnie doit créer l'espace». Matta pensa então em superfícies que se desmancham flácidas, “comme des draps mouillés qui se déforment et épousent nos peurs psychologiques”1, e o homem que nesse espaço habita é agitado por espasmos e ameaçado pela vertigem. São as primeiras manifestações de um organicismo arquitetônico que podemos rastrear, recuando até o palácio de Bomarzo, mas, lançando-nos ao futuro, vindo às esculturas de Ernesto Neto. Em 1942, obras de Roberto Matta seriam incluídas nos First papers of surrealism, título ambíguo que joga com os primeiros textos que documentam essa tendência estética, mas também com os primeiros documentos de seus praticantes, todos eles europeus emigrados na América e sujeitos a expulsão. Na ocasião, Marcel Duchamp ligou, com metros e metros de fita, feito teia de aranha, todas as peças que invadiam o espaço da Whitelaw Reid Mansion, destacando a eliminação de perspectivas e a multiplicação de linhas de fuga entre as próprias imagens. A história da arte não passa de uma luta entre imagens. Nesse mesmo ano, o totem colocava-se no centro das vertigens cicládicas dos surrealistas nucleados pela revista mexicana Dyn (1942-1944).
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