Autoficção, filosofia e cultura literária: intervenções do Ecce homo, de Friedrich Nietzsche, e do Testo junkie, de Paul B. Preciado

Autores

  • Gabriel Herkenhoff Coelho Moura

DOI:

https://doi.org/10.14393/artc-v25-n47-2023-73163

Palavras-chave:

autoficção, cultura, filosofia

Resumo

Este artigo objetiva discutir o tema da autoficção e apresentar a possibilidade de utilizá-lo para a interpretação de obras filosóficas, destacadamente o livro Ecce homo de Friedrich Nietzsche e, secundariamente, Testo junkie de Paul B. Preciado. Para tanto, primeiro, abordarei a relação entre filosofia e literatura no contexto que alguns pensadores contemporâneos têm nomeado cultura literária. Em um segundo momento, traçarei uma breve história da formação da noção de autoficção e da consolidação do termo para demarcar um subgênero literário. Em seguida, apresentarei elementos de Ecce homo que me parecem permitir enquadrá- lo no campo da autoficção. Na última parte, serão retomadas as articulações entre literatura e filosofia, analisando- se brevemente um exemplar de autoficção no pensamento contemporâneo, Testo junkie, para sugerir que a aproximação de tal subgênero contribui para a compreensão tanto do lugar da filosofia na cultura literária quanto aspectos de nosso tempo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Gabriel Herkenhoff Coelho Moura

Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pós-doutorando em Filosofia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Autor, entre outros livros, de Arte humana, demasiado humana: considerações sobre a fisiologia da estética em Nietzsche. Vitória: Editora da Universidade Federal do Espírito Santo, 2019. 

Referências

COLONNA, Vincent. Tipologias da autoficção. In: NORONHA, Jovita (org.). Ensaios sobre autoficção. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.

DINIZ, Ligia. Nobel para Annie Ernaux desacredita o romance por ‘trair’ a literatura. Folha de S. Paulo, Análise, Livros, 2022. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2022/10/nobel-para-annie-ernaux-desacredita-o-romance-por-trair-a-literatura.shtml>. Acesso em 10 abr. 2023

DIX, Hywel. Autofiction and cultural memory. Nova York: Routledge, 2022.

DOUBROVSKY, Serge. Fils. Paris: Éditions Galilée, 1977.

FORNAZARI, Sandro. Sobre o suposto autor da autobiografia de Nietzsche: reflexões sobre Ecce Homo. Ijuí: Unijuí, 2004.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I. Petrópolis: Vozes, 1999.

GERHARDT, Volker. A metafísica e sua crítica. Cadernos de Filosofia Alemã, n. 21, São Paulo, jun. 2013.

GRONEMANN, Claudia. Autofiction. In: WAGNER-ENGELHAAF, Martina. (ed.). Handbook of autobiography/autofiction. Berlim: De Gruyter, 2019.

HABERMAS, Jürgen. Pensamento pós-metafísico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.

HABERMAS, Jürgen. Discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

HADDOCK-LOBO, Rafael. Que ‘corpo’ é esse de Preciado? (Ou que corpos depreciados são esses?). Concinnitas, v. 1, n. 32, Rio de Janeiro, 2018.

HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. In: Caminhos da floresta. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002.

HEIDEGGER, Martin. Nietzsche, volume IV: Nihilism. Nova York: Harper & Row, 1991.

LAHUSEN, Christiane. Memoirs. In: WAGNER-ENGELHAAF, Martina (org.). Handbook of autobiography/autofiction. Berlim: De Gruyter, 2019.

LANGER, Daniela. Wie man wird, was man schreibt: Sprache, Subjekt und Autobiographie bei Nietzsche und Barthes. Munique: Fink, 2005.

LEJEUNE, Philippe. Le pacte autobiographique. Paris: Seuil, 1975.

LEJEUNE, Philippe Autoficções & cia: peça em cinco atos. In: NORONHA, Jovita (org.). Ensaios sobre autoficção. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.

MERLEAU-PONTY, Maurice. A linguagem indireta e as vozes do silêncio. In: O olho e o espírito. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

MISSINNE, Lut. Autobiographical novel. In: ENGELHAAF, Martina (org.). Handbook of autobiography/autofiction. Berlim: De Gruyter, 2019.

MOURA, Gabriel Herkenhoff Coelho. Aspectos filosóficos da narrativa do Ecce homo de Nietzsche: uma perspectiva em autoencenação. Griot: Revista de Filosofia, v. 20, n. 3, Amargosa, 2020.

NEGRI, Antonio. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001.

NEHAMAS, Alexander. Nietzsche: life as literature. Cambridge: Harvard University Press, 1985.

NIETZSCHE, Friedrich. A transvaloração de todos os valores. São Paulo: Moderna, 1993.

NIETZSCHE, Friedrich. Digitale Kritische Gesamtausgabe Werke und Briefe. Paris: Nietzsche Source, 2009, BVN-1888 1139. Disponível em <http://www.nietzschesource.org/#eKGWB>. Acesso em 27 abr. 2023.

NIETZSCHE, Friedrich. Ecce homo: como alguém se torna o que é. São Paulo: Companhia de Bolso, 2015.

NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos. São Paulo: Companhia de Bolso, 2017.

NIETZSCHE, Friedrich. O anticristo. São Paulo: Lafonte, 2019.

NORONHA, Jovita. Apresentação. In: NORONHA, Jovita (org.). Ensaios sobre autoficção. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.

PRECIADO, Paul B. Manifesto contrassexual. São Paulo: n-1 edições, 2014.

PRECIADO, Paul B. Testo junkie: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. São Paulo: n-1 edições, 2018.

PRECIADO, Paul B. Ser “trans” é cruzar uma fronteira política. El País, Cultura, Ideias, Madri, 10 abr. 2019. Disponível em <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/09/cultura/1554804743_132497.html>. Acesso em 12 maio 2023.

RORTY, Richard. Philosophy as cultural politics. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

SCHWALM, Helga. Autobiography. In: WAGNER-ENGELHAAF, Martina (org.). Handbook of autobiography/autofiction. Berlim: De Gruyter, 2019.

Downloads

Publicado

2023-12-30

Como Citar

Herkenhoff Coelho Moura, G. (2023). Autoficção, filosofia e cultura literária: intervenções do Ecce homo, de Friedrich Nietzsche, e do Testo junkie, de Paul B. Preciado. ArtCultura, 25(47), 7–25. https://doi.org/10.14393/artc-v25-n47-2023-73163

Edição

Seção

Minidossiê: Entre a História e a Literatura