Da antropofagia ao lixo lógico: os tropos da Tropicália

Autores

  • Christopher Dunn

DOI:

https://doi.org/10.14393/artc-v24-n45-2022-68254

Palavras-chave:

antropofagia, Tropicália, Tom Zé

Resumo

Quando o movimento multidisciplinar Tropicália surgiu no final dos anos 1960, os críticos logo detectaram suas afinidades e dívidas com a antropofagia, o movimento vanguardista dentro do modernismo associado principalmente a Oswald de Andrade e seu "Manifesto antropófago" (1928). A antropofagia é um tropo complexo que tem sido empregado para significar vingança, exploração e apropriação, mas também resistência, hibridismo e diálogo criativo. Quanto à música tropicalista, a antropofagia é mais frequentemente entendida em termos de consumo produtivo, envolvendo a "deglutição" do rock internacional e tecnologias sonoras relacionadas, a fim de produzir música localmente fundamentada e também globalmente informada. O músico Tom Zé, que muitas vezes é descrito como o tropicalista mais experimental, desenvolveu um mito alternativo sobre o movimento, que enfatiza a cultura popular do Nordeste e a disjunção temporal desta região com as áreas urbanas do litoral. Esse mito ganhou expressão musical em 2012 com o lançamento de Tropicália lixo lógico, um disco-tese que procura explicar a Tropicália como produto do choque cognitivo entre a cultura popular nordestina, enraizada na Ibéria moçárabe medieval, e uma lógica aristotélica cultivada no Brasil moderno.

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Biografia do Autor

Christopher Dunn

Ph.D. em Estudos Luso-Brasileiros pela Brown University/EUA.
Professor do Departamento de Espanhol e Português da Tulane
University/EUA. Autor, entre outros livros, de Brutalidade jardim:
a Tropicália e o surgimento da contracultura brasileira. São
Paulo: Editora Unesp, 2009. 

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Publicado

2022-12-28

Como Citar

Dunn , C. (2022). Da antropofagia ao lixo lógico: os tropos da Tropicália. ArtCultura, 24(45), 66–80. https://doi.org/10.14393/artc-v24-n45-2022-68254

Edição

Seção

Dossiê – Música para além da música