Da antropofagia ao lixo lógico: os tropos da Tropicália
DOI:
https://doi.org/10.14393/artc-v24-n45-2022-68254Palavras-chave:
antropofagia, Tropicália, Tom ZéResumo
Quando o movimento multidisciplinar Tropicália surgiu no final dos anos 1960, os críticos logo detectaram suas afinidades e dívidas com a antropofagia, o movimento vanguardista dentro do modernismo associado principalmente a Oswald de Andrade e seu "Manifesto antropófago" (1928). A antropofagia é um tropo complexo que tem sido empregado para significar vingança, exploração e apropriação, mas também resistência, hibridismo e diálogo criativo. Quanto à música tropicalista, a antropofagia é mais frequentemente entendida em termos de consumo produtivo, envolvendo a "deglutição" do rock internacional e tecnologias sonoras relacionadas, a fim de produzir música localmente fundamentada e também globalmente informada. O músico Tom Zé, que muitas vezes é descrito como o tropicalista mais experimental, desenvolveu um mito alternativo sobre o movimento, que enfatiza a cultura popular do Nordeste e a disjunção temporal desta região com as áreas urbanas do litoral. Esse mito ganhou expressão musical em 2012 com o lançamento de Tropicália lixo lógico, um disco-tese que procura explicar a Tropicália como produto do choque cognitivo entre a cultura popular nordestina, enraizada na Ibéria moçárabe medieval, e uma lógica aristotélica cultivada no Brasil moderno.
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