Os anacronismos do direito, o direito como anacronismo

Autores

  • Mariana de Moraes Silveira

DOI:

https://doi.org/10.14393/artc-v24-n44-2022-66582

Palavras-chave:

direito, anacronismo, crimes contra a humanidade

Resumo

O direito é frequentemente associado à repetibilidade e à longa duração. O universo jurídico pode, em função disso, constituir um ambiente de experimentação teórica em torno do anacronismo. É essa a aposta deste artigo, desenvolvida sobre dois eixos. Primeiramente, são retomadas as reflexões de Yan Thomas a respeito do juiz e do historiador, para avaliar as operações simbólicas sobre o tempo que ocorrem no âmbito do direito, particularmente a partir da instaura- ção da imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade no pós-Segunda Guerra Mundial. Em seguida, as possibilidades de aplicação do conceito de genocídio para momentos anteriores a essa conjuntura são avaliadas em diálogo com as reflexões de Bartolomé Clavero sobre a conquista da América. Na confluência dessas temá- ticas, busca-se sugerir que as relações com o direito, e especialmente as articulações com demandas por justiça e reparação, são fundamentais para a compreensão das historicidades contemporâneas.

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Biografia do Autor

Mariana de Moraes Silveira

Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professora dos cursos de graduação e pós-graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

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Publicado

13-06-2022

Como Citar

de Moraes Silveira, M. (2022). Os anacronismos do direito, o direito como anacronismo. ArtCultura, 24(44), 117–133. https://doi.org/10.14393/artc-v24-n44-2022-66582

Edição

Seção

Dossiê: História & anacronismo – II – Parte nacional