O RITUAL DO JONGO E O IMAGINÁRIO MÍTICO AFROBRASILEIRO

Autores

  • Ricardo Mattos Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.14393/TES-v4n1-2021-63380

Palavras-chave:

Jongo, Afro-brasileiro, Escravidão, Cultura Popular, Religião

Resumo

Analisa-se o imaginário mítico do ritual afrobrasileiro do jongo. Para o filósofo Eudoro de Souza, o ritual religioso reverbera na sensibilidade e na imaginação de seus protagonistas, expressas em versos, gestos e sons. Assim, investiga-se o jongo como ritual religioso, a partir do método etnográfico da observação participante e a memória oral dos jongueiros. Conclui-se que o imaginário mítico do jongo é composto por objetos de culto (fogueira, tambores e chocalhos), atos rituais (“saravar a ngoma”, “amuntar na calunga”), gestos mágicos (dançar da “pemba”, plantar e colher frutos), imagens míticas (tatu, terra afundada e correnteza marítima) e personagens espirituais (como o “cumba” ou “jongueiro velho”). Tal imaginário institui um canal de comunicação com os espíritos ancestrais e a ritualização de uma morte simbólica, expressa na condição de escravidão e na vinda para os cativeiros brasileiros. Contudo, a presença ancestral permite um renascimento ritual, com a viagem de retorno à mítica Aruanda e a experiência de prosperidade da vida em liberdade.

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Publicado

2022-01-16

Como Citar

MATTOS, R. O RITUAL DO JONGO E O IMAGINÁRIO MÍTICO AFROBRASILEIRO. Téssera, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 115–131, 2022. DOI: 10.14393/TES-v4n1-2021-63380. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/tessera/article/view/63380. Acesso em: 22 jul. 2024.