De Estigma a Emblema
Cabelo, autorreconhecimento e resistência entre jovens universitárias negras
DOI:
https://doi.org/10.14393/RCS-v9n2-2019-56657Palabras clave:
Jovens universitárias. Cabelo. Autorreconhecimento. Racismo. Resistência.Resumen
Partindo de relatos e imagens de jovens negras da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), situada em Sobral (CE), analisamos, neste trabalho, os processos sociais e individuais que levaram essas jovens a assumir seus cabelos crespos ou cacheados, transformando-os em emblema de resistência e luta por reconhecimento. Ancoradas em discussões teóricas que tematizam juventudes, racismo, processos identitários e condição da mulher negra no Brasil e numa metodologia de pesquisa qualitativa que privilegiou os relatos escritos e a recolha de fotografias do antes e do depois da “transição capilar”, percebemos que a relação das jovens com seus cabelos possui um antes e um depois da entrada na universidade. Nos relatos, o contato com as teorias sociais, com outras jovens negras e com o movimento estudantil, possibilitado pela entrada na Instituição, é apontado como responsável por desencadear o processo de autorreconhecimento como mulheres negras que as fez ressignificar a relação com seus cabelos, consigo próprias e com a sociedade.
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