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A definição de adjetivos em dicionários do PNLD: um olhar metalexicográfico
Abstract
RESUMO: Com este artigo, analisam-se, numa perspectiva descritiva, as definições de palavras lexicais que se enquadram na categoria dos adjetivos registradas em dois dicionários do PNLD - Programa Nacional do Livro Didático, quais sejam: Dicionário Escolar da academia brasileira de Letras - Bechara (2011) - tipo 3, e Dicionário da Língua Portuguesa Evanildo Bechara - Bechara (2011) - tipo 4. Para tanto, este texto é fundamentado por princípios teóricos e metodológicos da Lexicografia geral e da Lexicografia Pedagógica, considerando, especificamente, os princípios que regem a definição lexicográfica e os tipos de definição apresentados por Porto Dapena (2002). Os resultados demonstram que tais princípios evidenciam a importância de considerá-los no processo de elaboração de definições lexicográficas, sempre de acordo com os diferentes tipos de definições existentes. Tanto esses princípios como a diversidade de tipologias de definições permitem aos lexicógrafos a adoção de parâmetros organizacionais em conformidade com os objetivos da obra e seu público-alvo.
Main Text
1 Introdução
É de conhecimento comum que os dicionários sempre instigaram a curiosidade das pessoas, desde as mais atentas aos sentidos que as palavras possuem nos diferentes contextos, por exemplo, até aquelas que os consultam de maneira esporádica para verificar algum aspecto de uma palavra ou expressão que careça de melhor entendimento em alguma atividade de produção ou compreensão.
O fato é que as informações registradas em um dicionário, quando coerentes e coesas com o objetivo da obra em relação ao seu público-alvo, tendem a atender de forma satisfatória às necessidades dos consulentes, contribuindo para o desenvolvimento lexical e consequente competência comunicativa. Nesse enquadre, se elaborados em conformidade com princípios teóricos e metodológicos da Lexicografia geral e da Lexicografia Pedagógica (LEXPED)1, esses repertórios podem servir como importante material didático nos contextos de ensino e de aprendizagem, o que significa que é preciso ter, no labor lexicográfico, um olhar atento a todas as informações registradas na obra.
Nessa conjuntura, lançamos um olhar à definição lexicográfica, posto que ela costuma ser uma das informações registradas na microestrutura dos verbetes dos dicionários monolíngues que mais costumam ser objeto de consulta, como temos identificado na literatura da área e com as pesquisas que temos realizado no contexto do projeto de pesquisa Lexicografia Pedagógica: estudos teóricos e aplicados sobre o dicionário, vinculado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob a coordenação do Prof. Dr. Renato Rodrigues-Pereira, e que conta com a colaboração de colegas pesquisadores de diferentes institucionais nacionais e estrangeiras2. O estudo piloto apresentado com este artigo resulta, pois, de um estudo maior que temos realizado sobre tipologias de definições lexicográficas.
Motivados por estudar os tipos de definições existentes que são apresentados por estudiosos da Lexicografia3 e, consequentemente, ao orientarmo-nos por princípios teóricos e metodológicos da Lexicografia geral e da Lexicografia Pedagógica, é que nos propomos analisar, numa perspectiva descritiva, as definições de palavras lexicais que se enquadram na categoria dos adjetivos, registradas em dois dicionários do PNLD - Programa Nacional do Livro Didático, quais sejam: Dicionário Escolar da academia brasileira de Letras -Bechara (2011) - tipo 3, e Dicionário da Língua Portuguesa Evanildo Bechara -Bechara (2011) - tipo 4, considerando, para tanto, os princípios que regem a definição lexicográfica e os tipos de definição apresentados por Porto Dapena (2002)4.
Com os resultados apresentados neste texto, esperamos ressaltar a importância de se considerar os princípios que regem a definição lexicográfica no processo de elaboração de acepções, sempre de acordo com os diferentes tipos de definições existentes. Tanto esses princípios como a diversidade de tipologias de definições permitem aos lexicógrafos a adoção de parâmetros organizacionais em conformidade com os objetivos da obra e seu público-alvo.
2 Lexicografia Pedagógica e dicionários do PNLD
A Lexicografia, ciência que se ocupa de estudos relacionados aos diferentes tipos de dicionários, apresenta na atualidade um arcabouço teórico e metodológico bem definido, como podemos visualizar nos diferentes estudos existentes, a exemplo de Casares (1969), Fernández-Sevilla (1974), Haensch (1982), Werner (1982), Wiegand (1984), Hernández (1989), Lara (1997), Hartmann (2001), Biderman (1984; 2001), Porto Dapena (2002), Borba 2003, Seco (2003), entre outros. No cenário epistemológico da Lexicografia, podemos identificar estudos diversos sobre os diferentes tipos de dicionários e seus consulentes, assim como projetos lexicográficos com objetivos bem delimitados, com vistas a atender, cada vez mais, às necessidades dos potenciais consulentes.
A LEXPED, uma vertente da Lexicografia, se ocupa de estudos teóricos e aplicados sobre os repertórios lexicográficos destinados a estudantes dos diferentes níveis de ensino. Duran e Xatara (2007), sobre o assunto, explicam que a LEXPED é uma especialização da Lexicografia, focada em oferecer melhoramentos aos dicionários, de modo a auxiliar satisfatoriamente o potencial consulente em suas necessidades linguísticas, o que demanda “conhecimento mais aprofundado sobre os aprendizes e suas dificuldades” (Duran, 2008, p. 83).
Molina García (2006, p. 09), por sua vez, afirma ser a LEXPED o fruto da ideia de junção da forma de tratamento do léxico e sua gramática com o modo de apresentação das UL e toda sua informação semântica e gramatical. O autor traz à LEXPED a ideia de ela ser a interação da Lexicografia e da metodologia de ensino.
Welker (2008), ao discorrer sobre os campos de abrangência da LEXPED, entende que a área se divide em: i) teórica, ocupando-se de todo estudo voltado a dicionários pedagógicos; ii) prática, responsável pela produção desses dicionários.
Krieger (2011, p. 106), em seu tempo, ressalta que os princípios que direcionam a LEXPED são especialmente dois: i) busca de adequação do dicionário; e ii) uso produtivo para os diferentes projetos de ensino e de aprendizagem de línguas.
A pesquisadora explica ainda que resulta salutar agregar a esses dois princípios: i) a compreensão de que o dicionário é um texto, com regras próprias de organização, que sistematiza inúmeras informações de caráter linguístico, cultural e pragmático, o que coloca em destaque o seu exponencial papel pedagógico; ii) o princípio de que assim como há livros didáticos adequados aos diferentes níveis de ensino, de igual modo, deve-se proceder à escolha do dicionário adequado às necessidades de aprendizagem dos alunos (Krieger, 2011, p. 106).
Nesse contexto, Rodrigues-Pereira (2020, p. 139) enfatiza que “[...] os dicionários pensados e elaborados no âmbito dos estudos teóricos e práticos da LEXPED permitem que professores e estudantes usufruam de instrumentos pedagógicos que muito podem contribuir no ensino de uma língua [...]”.
Em conformidade com as perspectivas dos autores supracitados, ao analisarmos definições de adjetivos em dicionários do PNLD, objeto de estudo deste trabalho, realizamos um estudo metalexicográfico que acreditamos possibilitar novas práticas lexicográficas mais em concordância com as necessidades dos estudantes.
O PNLD, criado pelo Ministério da Educação (MEC) no ano de 1985, contempla obras lexicográficas de diferentes tipologias desde 2001, quando incorporou em suas avaliações dicionários para o ensino de língua materna, passando, após rigorosas avaliações por parte de professores pesquisadores de diversas universidades brasileiras, a distribuir dicionários específicos para cada segmento da Educação Básica: anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Em 2006, houve a criação de novos acervos lexicográficos específicos para sala de aula a partir de alguns critérios que, de acordo com Krieger (2011, p. 237), são os seguintes: i) a definição de tipos de dicionários específicos para a educação; ii) adequação do tipo das obras destinada para cada nível de aprendizagem do aluno; iii) criação de acervos lexicográficos para sala de aula; iv) elaboração de manual do professor; e vi) exigência da explicitação da proposta lexicográfica. Esses fatores aperfeiçoaram sobremaneira a escolha das obras bem como seu uso em sala de aula onde sabemos hoje que foram em sua totalidade, revolucionárias.
Em 2012, após nova iniciativa do governo federal, houve nova avaliação de dicionários com base em nova tipologia, agora com quatro tipos de obras destinadas aos diferentes níveis de ensino da Educação Básica. Os Dicionários do PNLD, como bem tornaram-se conhecidos, passam a ter o propósito de serem utilizados com mais atenção em sala de aula, a partir de trabalho direto mediado pelos professores. Tanto que junto com os acervos lexicográficos disponibilizados nas escolas públicas brasileiras, há um livro de apoio ao professor, intitulado Com direito à palavra: dicionários em sala de aula, elaborado por Marcos Bagno, Egon Rangel e Orlene de Sabóia (2012). Esta produção traz informações sobre os dicionários, atividades a serem aplicadas em sala de aula, o modo com que as obras foram avaliadas, quem são os avaliadores e as características gerais do acervo.
Krieger (2006) e Rangel (2011) afirmam que os impactos dessas mudanças contribuíram para que nas esferas acadêmica, editorial e escolar, houvesse um interesse maior pela Lexicografia Pedagógica no Brasil, tanto que podemos identificar um importante avanço dos estudos da área, em especial, a partir de 2006.
O que se percebe é que a preocupação governamental para com os dicionários evidenciou o quão importante é o letramento lexicográfico5 por parte de alunos e professores, assim como estimulou inúmeras pesquisas neste âmbito da Linguística pois, em concordância com Krieger (2006 p. 251),
[...] a nova política de seleção e aquisição de dicionários, deve repercutir positivamente sobre a produção lexicográfica brasileira voltada à escola, já que o mercado editorial é altamente interessado em responder às exigências do Ministério da Educação (Krieger, 2006, p. 251).
Para além das necessidades do mercado editorial, que desde sempre esteve presente no processo de elaboração de dicionários, as pesquisas sobre a qualidade das obras lexicográficas ganharam força nos diferentes meios acadêmicos, como demonstra Pereira (2018). Nesse contexto, surgem pesquisas metalexicográficas com vistas a identificar modelos a serem seguidos e/ou adaptados, ou mesmo propostas lexicográficas inovadoras.
A definição lexicográfica, assunto sobre o qual discorremos na próxima seção deste texto, sempre esteve presente na literatura lexicográfica, o que gerou importantes contribuições teóricas e metodológicas que têm sido utilizadas em vários projetos lexicográficos.
3 Definição lexicográfica
Devido aos sentidos que uma unidade léxica (UL) possui, a definição lexicográfica costuma receber diferentes olhares investigativos, sobretudo porque ela resulta também em um dos elementos da microestrutura que mais são pesquisados em um dicionário, como já mencionamos na introdução deste artigo. Com efeito, Bosque (1982, p. 106) relata ser a definição o aspecto central dentre os estudos em Lexicografia no que se refere à produção de dicionários monolíngues. Por isso, é comum encontrarmos inúmeras reflexões sobre as muitas questões que circundam a definição.
Weinreich (1984), em seu tempo, explica que pelo fato de as unidades de uma língua se complementarem em termos de sentido, resulta difícil exigir do lexicógrafo uma perfeita definição onde o definiendum (unidade a ser definida) possa ser substituído pelo definiens (definição). A abordagem do autor contribui para o entendimento de que a definição lexicográfica é um aspecto da Lexicografia que sempre poderá ser objeto de estudo em diferentes contextos investigativos, em decorrência de seu caráter multifacetado, pois, a depender do tipo de dicionário e público-alvo, um modelo de definição pode ser pensado, elaborado.
Barbosa (1999, p. 41), nesse contexto, aborda que a definição, assim como os outros elementos que integram o enunciado lexicográfico, tem uma metodologia que envolve sua construção pensada e organizada de acordo com a natureza da obra. Sendo assim, há uma tipologia de definição que mantem relação com a tipologia da obra. De acordo com a autora, “o tipo de obra lexicográfica condiciona a quantidade, os tipos de paradigma, a sua distribuição combinatória e as coerções no enunciado”. Logo, percebe-se que fenômenos linguísticos de diferentes naturezas podem ser abordados nos estudos metalexicográficos.
Porto Dapena (2002, p. 266-267), por sua vez, enfatiza que “o principal obstáculo dentro da redação lexicográfica e, ao mesmo tempo, o ponto sobre o qual se tem centrado em boa medida as críticas dirigidas ao dicionário monolíngue tradicional6” é, sem dúvidas, a definição lexicográfica. Como forma de contribuir para o entendimento deste elemento do dicionário, Porto Dapena (2002) organiza importante tipologia de definições, que abordaremos de forma um pouco mais detida na sequência deste texto. No campo das pesquisas metalexicográficas, quando vamos estudar especificamente o comentário semântico do lema, encontramos diversas variações terminológicas. Sabendo disso, dentre os muitos autores que abordam diferentes aspectos das taxes definitórias, as explicações que o autor traz para cada tipo de definição funciona como suporte que direciona análises lexicográficas, bem como a elaboração de definições.
Porto Dapena (2002) explica que no exercício metalinguístico aplicado ao texto lexicográfico, as definições se dividem em dois níveis:
i) Metalinguagem de conteúdo: explica, define o definiendum (lema) de forma detalhada, muitas vezes caracterizando-o. Como há mais palavras lexicais do que gramaticais na língua, são as definições mais utilizadas. Exemplo: “funil (fu.nil) sm. Utensílio com formato de cone, us para verter líquidos em recipientes de abertura estreita; infundíbulo” (Bechara, 2011b, p. 662).
ii) Metalinguagem de signo: comumente aplicada a UL de categorias gramaticais, diferem do primeiro nível, pois não apresenta o conceito do lema e sim a função da unidade em questão. Exemplo: “circunflexo (cir.cun.fle.xo) adj. Gram. Diz-se do acento gráfico que indica a sílaba tônica de uma palavra e as vogais fechadas e [ê] e o [ô]” (Bechara, 2011b, p. 416).
No processo de elaboração de definições, assim como em atividades de análise, espera-se que alguns princípios sejam considerados, posto que eles regem o ato de definir uma UL no contexto da Lexicografia.
A ampla compreensão das noções acima descritas e como elas se convergem para a construção do conhecimento lexicográfico seja para análise ou para elaboração de um significado, listaremos alguns princípios que regem as definições lexicográficas, de acordo com Porto Dapena (2002), quais sejam:
Equivalência: princípio de caráter geral, cujo texto definitório corresponde ao lema tanto em extensão quanto em compreensão. Exemplo: “Inodoro (i.no.do.ro) adj. Sem cheiro” (Bechara, 2011b, p. 736).
Comutabilidade ou substituição: emprega a metalinguagem de conteúdo e prevê que a definição pode ser substituída pelo lema no que se refere ao seu aspecto semântico, sem relativizar o contexto. Isto é, se conseguirmos substituir a lexia definida por sua definição, sem que haja perda de sentido, sabemos que o princípio foi cumprido. Exemplo: “bravo (bra.vo) adj. sm. Que ou quem é valente, corajoso” (Bechara, 2011b, p. 353).
Identidade categorial ou também chamado de identidade funcional: decorrente do princípio anterior, para que a definição e o definido sejam comutáveis é necessário que correspondam a mesma categoria gramatical. Por este motivo, ocorre geralmente nas definições formuladas em metalinguagem de conteúdo, esta, apresenta aspectos gramaticais que coincidem com o a categoria gramatical do definiens. Exemplo: “chamuscar (cha.mus.car) v. td. int. queimar (-se) de leve” (Bechara, 2011b, p. 405).
Análise: leva em conta os sintagmas nominais e verbais na elaboração das definições. Em conformidade com o Porto Dapena (2002), uma verdadeira definição é aquela que cumpre com a análise semântica do definido. Exemplo: “livro (li.vro) s.m. Bloco de folhas de papel escritas, normalmente impressas, unidas de um lado e cobertas por uma capa [...] (Bechara, 2011a, p.792).
Transparência: princípios que objetiva garantir que as definições sejam de fácil compreensão aos consulentes. Nesse enquadre, se o público-alvo é composto, por exemplo, por estudantes de nível mais básico, as palavras utilizadas para definir devem ser simples, de uso corriqueiro, com uma explicação clara e sucinta do lema. Exemplo: “hipotensão (hi.po.ten.são) s.f. (Med.) Pressão sanguínea inferior à normal; pressão baixa” (BECHARA, 2011a, p. 668).
Autossuficiência: princípio de que todas as UL usadas para compor o texto definitório devem fazer parte da nomenclatura que compõe a macroestrutura da obra lexicográfica.
Como exposto acima, de acordo com Porto Dapena (2002), estes são alguns dos princípios indicados aos lexicógrafos para que elaborem definições adequadas, especialmente quando se trata daquelas que empregam a metalinguagem de conteúdo. Todavia, como bem sabemos, há também aquelas definições que não se atém ao conteúdo da unidade, como é o caso daquelas de natureza funcional. Dessa forma, os princípios da análise, comutabilidade, substituição e identidade categorial não se aplicam às definições que empregam a metalinguagem de signo.
De acordo com tais princípios e como forma de apresentar uma taxionomia de definições lexicográficas, Porto Dapena (2002) organiza um sistema de definições que pode ser entendido como a padronização das definições com base em suas características e tipologias. Tais taxes podem servir como fonte de consulta para análises metalexicográficas e elaboração de definições. Na sequência, apresentamos as taxes organizadas pelo autor para, na continuidade deste texto, apresentarmos nossas análises.
Definição enciclopédica/real: apresenta uma descrição exaustiva do lema. Por isso, é muito utilizada para definir termos de áreas específicas, a exemplo da medicina, da fauna e da flora. De acordo o autor, quatro são os tipos de definições enciclopédicas:
i) descritiva: além de responder “o que é”, faz também uma descrição pormenorizada, ou seja, “como é”. Exemplo:
lagarta (la.gar.ta) s.f [...] 2. Corrente ou esteira contínua dos tratores pesados e tanques para substituir-lhes as rodas e aumentar-lhes o poder de tração, permitindo-lhes mover-se em terrenos inacessíveis a viaturas comuns (Bechara, 2011a, p. 768).
ii) teleológica: descreve o objeto segundo sua finalidade. Exemplo: “arauto (a.rau.to) sm. 1 Antq. Na idade média, oficial que fazia mensagens solenes 2 P.ext. Porta-voz mensageiro” (Bechara, 2011b, p. 287).
iii) genética: caracteriza segundo a origem ou causa. Exemplo: “lúpulo (.pu.lo) sm. Bot. Planta (Humulus lupulus) originária da Europa, cujas flores são us. no fabrico de cerveja” (Bechara, 2011b, p. 795).
iv) ostensiva ou mostrativa: complementar à enciclopédica, não se trata especificamente de uma definição, de acordo com Porto Dapena (2002), ao passo que ela consiste em colocar o referente no lugar do definidor ou como componente dele. É o caso, por exemplo, de “azul (a.zul) s.m. [...] 2. Da cor azul: olhos azuis” (Bechara, 2011a, p. 185). Esse caso, como se percebe, resulta possível porque há a representação gráfica do referente. No entanto, como nem sempre isso acontece, há também o uso de imagens, fotos, como acontece muito em enciclopédias e dicionários ilustrados. Ressaltamos que este recurso resulta importante, em especial, quando se trata de dicionários pedagógicos, sobretudo quando o lema é de difícil entendimento. Ademais, nos deparamos com casos de ostensiva icônica, em que há explicações por meio de imagens verbais, como em “azul (a.zul) s.m. 1. A cor do céu sem nuvens” (Bechara, 2011a, p. 185).
Definição linguística: também chamada de definição metalinguística, nela emprega-se a metalinguagem para definir as unidades e tem a finalidade de explicá-las de forma geral. Ela se divide em três categorias, a saber: 2.1 Conceituais; 2.2 Funcionais, cada qual com suas subcategorias; e 2.3 Híbridas. Na sequência, explicamos cada uma das categorias e suas respectivas subcategorias:
2.1 Definição conceitual: é caracterizada pelo emprego da metalinguagem de conteúdo, ou seja, as definições são registradas em forma de paráfrase explicativas ou sinônimos da palavra-entrada. Além disso, buscam explicar de forma pormenorizada aspectos singulares do definiendum. Exemplo: “camisa . (ca.mi.sa) sf. Peça tradicional do vestuário, esportiva ou social, com ou sem mangas, que vai do pescoço até os quadris [...]” (Bechara, 2011b, p. 373). As definições conceituais dividem-se em duas categorias: i. parafrásticas; e ii. sinonímicas. Vejamos a seguir as classificações e subclassificações relacionadas à primeira e à segunda, respectivamente:
i) Definição conceitual parafrástica: segundo Dapena (2012, p. 290), trata-se do tipo mais utilizado pelos lexicógrafos. Nesse caso, a definição aparece em forma de paráfrases ou sintagmas nominais e verbais, com vistas a possibilitar ao consulente explicação clara do lema. Ela ainda se subdivide em duas subcategorias: i.i parafrástica substancial e i.ii parafrástica relacional, explicadas a seguir.
i.i Definição conceitual parafrástica substancial: é constituída por um núcleo pertencente à mesma categoria gramatical do lema a ser definido, além de outros complementos adjacentes. Sua principal preocupação é responder “o que é o definido?”. Ela se classificadas ainda como:
i.i.1 Parafrástica incluente positiva ou hiperonímica: em que as UL usadas para definir pertencem ao mesmo campo semântico, de forma que deixe claro as semelhanças e as diferenças específicas. Exemplo: “mesa (me.sa) [ê] sf. Móvel com uma superfície plana, apoiado ger. Em quatro pés” (Bechara, 2011b, p.824).
i.i.2 Parafrástica incluente negativa: neste tipo, o incluente lógico expressa sentido negativo, ou seja, há uma inexistência ou privação de algo. Exemplo: “inocência (i.no.cên.ci:a) sf. 1 Falta de culpa” (Bechara, 2011b, p. 736).
i.i.3 Parafrástica excludente negativa ou antonímica: semelhante à anterior, com a diferença de que há a presença do advérbio de negação “não” para expressar o sentido negativo. Nela, há uma negação do antônimo. Exemplo: “desengajado (de.sen.ga.ja.do) adj. Sm. Que ou quem não assume compromisso político, ideológico etc” (Bechara, 2011b, p. 503, grifo nosso).
i.i.4 Parafrástica Mesonímica: nesse caso, há uma dupla exclusão de dois extremos, a fim de indicar um ponto médio. Exemplo: “mediano (me.di:a.no) adj. 2 Nem bom nem mau; medíocre” (Bechara, 2011b, p.817).
i.i.5 Parafrástica participativa ou metonímica: nesse tipo de definição, é expresso um sentido distributivo ou parte de algo. Exemplo: “órgão (ór.gão) sm. 2 Parte de um sistema organizado que desempenha funções próprias” (Bechara, 2011b, p.882).
i.i.6 Parafrástica aproximativa ou analógica: indica aproximação ou semelhança. Exemplo: “esteira1 (es.tei.ra) sf. 2 Espécie de tapete rolante us. para transportar objetos, cargas, etc. ou para exercícios de caminhada” (Bechara, 2011b, p.607).
i.i.7 Parafrástica aditiva: analisa o significado do lema por meio da soma de duas ou mais palavras, unidas por alguma coordenação copulativa. Exemplo: “charco (char.co) sm. 1 Água estagnada e enlameada formando poças; atoleiro, lameiro” (Bechara, 2011b, p. 406).
i.ii Definição conceitual parafrástica relacional: já nesse caso, não há núcleo, mas sim um transpositor representado por um pronome relativo ou uma preposição. Exemplo: “despreocupado (des.pre:o.cu.pa.do) adj. sm. Que ou quem está sem preocupação” (Bechara, 2011b, p. 515).
i.ii.1 Parafrástica relacional morfossemântica: nesse tipo de definição, pode haver uma derivação parcial ou completa entre o definido e o definidor. Exemplo: “mesquinhar (mês.qui.nhar) v. tdi. 1 negar por mesquinharia” (Bechara, 2011b, p. 825).
ii. Definição conceitual sinonímica: a característica principal dessa definição é a presença de sinônimos no ato de definir, categorizando-se nos seguintes tipos:
ii.i Sinonímica simples: com apenas um sinônimo na definição. Exemplo: Exemplo: “pirexia (pi.re.xi.a) sf. Med. Febre” (Bechara, 2011b, p. 926).
ii.ii Sinonímica completa ou acumulativa: com mais de um sinônimo: Exemplo: “barulheira (ba.ru.lhei.ra) s. f. 2. Gritaria, confusão” (Bechara, 2011a, p. 199).
ii.iii Sinonímica mista: com sinônimo e a definição parafrástica (frase explicativa). Exemplo: “caluniar (ca.lu.ni.ar) v. Difamar, fazendo falsas acusações” (Bechara, 2011a, p. 252).
ii.iv Parassinonímica: não se configura exatamente como um sinônimo, mas sim um hiperônimo, hipônimo ou cohipônimo do definido. Exemplo: “avião (a.vi:ão) s.m. (Aer) Veículo aéreo mais pesado do que o ar, de propulsão a motor e cuja suspenção se faz por meio de asas; aeroplano” (Bechara, 2011a, p. 184).
ii.v Pseudoperifrástica: definição é constituída por um sinônimo do lema mais um complemento explicativo relacionado à sua função ou característica. Exemplo: “barraco (bar.ra.co) sm. Habitação tosca, construída precariamente pela população [...]” (Bechara, 2011a, p. 198).
Quanto à segunda categoria de definição pertencente ao grupo das definições linguísticas, temos o seguinte:
2.2 Definição funcional ou explicativa: nela, há o emprego da metalinguagem de signo, isto é, essa definição se caracteriza por seu caráter informativo funcional. Ocorre normalmente com palavras gramaticais. Manuel Seco (2003) caracteriza esse tipo de definição como imprópria uma vez que são formuladas em metalinguagem de signo. Para o autor, elas não oferecem uma definição do signo, mas uma explicação de sua função gramatical, de forma que há uma explicação não sobre o que significa a palavra, mas sim o que é essa palavra, como e para que ela se emprega.
Essa categoria subdivide-se ainda em três grupos, quais sejam: i) definição funcional morfossintática; ii) contextual; e iii) pragmática.
i) Definição Funcional Morfossintática: essa categoria exprime a forma gramatical que a lexia recebe em contexto de uso, ou melhor, é o modo com que a palavra gramatical é denotada quando utilizada. Exemplo: “eu pron. pess. 1. Forma reta, tônica, da primeira pessoa do singular (Bechara, 2011a, p. 556)”.
ii) Definição Funcional Contextual: essa definição é constituída por características de inter-relação que acompanham um sentido específico do lema. Há, pois, explicação do lema dentro de um contexto. Exemplo: “entintar 2 Preencher (fôrma) com tinta para tirar provas ou imprimir” (Bechara, 2011b, p. 574).
iii) Definição funcional Pragmática: indica o propósito de utilização da palavra gramatical. Por ser uma definição organizada em metalinguagem de signo, essa definição explica para que a palavra deve ser utilizada. No caso de definições de adjetivos, por exemplo, há a indicação do objetivo da palavra em contexto de uso. Exemplo: “psiu Us. Para chamar alguém ou para impor silêncio” (Bechara, 2011b, p. 965).
2.3 Definição híbrida: utiliza-se tanto da metalinguagem de conteúdo quanto da metalinguagem de signo, ou seja, há uma mistura de informação conceitual e funcional. Ela é caracterizada pelos seguintes aspectos: junção da explicação funcional, geralmente introduzida por expressões como: “Diz-se”, “Aplica-se a”, “Nome de” etc., mais o sentido propriamente dito do lema e/ou aplicação da palavra-entrada em uma determinada realidade. Exemplo: “gripado (gri.pa.do) adj. Diz-se de pessoa acometida de gripe” (Bechara, 2011a, p. 650).
Como se percebe pelo exposto, há vários tipos de definições, o que requer do lexicógrafo e sua equipe um estudo bem apurado de aspectos conceituais, funcionais e pragmáticos, para que os sentidos e funções sejam registrados da melhor forma possível no dicionário em questão, para que os potenciais consulentes consigam sanar suas dúvidas no momento de consulta ao dicionário.
Além disso, resulta importante destacar que um mesmo lema pode abarcar mais de um tipo de definição, e cabe ao lexicógrafo eleger qual ou quais os tipos são mais adequados. Nesse enquadramento, faz-se necessário levar em conta aspetos como a categoria gramatical do lema, a proposta lexicográfica com seus objetivos, assim como público-alvo e suas necessidades.
4 Apresentação e análise dos dados
Em conformidade com os objetivos estabelecidos para este trabalho, inicialmente, escolhemos 12 UL que se enquadram na categoria de adjetivos, mais especificamente, afro-americano, alegre, articulado, azulado, formoso, inteligente, luso-brasileiro, magro, tão, triste, tristonho, vermelho7; em seguida, passamos a buscá-las na macroestrutura dos dicionários para, na sequência, inventariar as acepções e fazermos as classificações, considerando, para tanto, a tipologia apresentada por Porto Dapena (2002).
Nesse processo, dos 12 adjetivos utilizados para as análises nos dois dicionários, identificamos o registro de apenas 9 lemas na macroestrutura do Bechara (2011) - tipo 3, como demonstrado com o Quadro 1; já em Bechara (2011) - tipo 4, encontramos os 12 lemas na macroestrutura. As acepções analisadas referentes aos 12 lemas perfizeram um total de 54 definições. Explicamos, outrossim, que quando na microestrutura houve o registro de acepções para os lemas com função de substantivo, também as consideramos. Desse modo, não precisamos excluir acepções que, de algum modo, possuem relação de sentido. Desse total, 25 acepções correspondem às UL encontradas e analisadas no dicionário Bechara (2011) - tipo 3, e 29 se referem às unidades registradas no dicionário Bechara (2011) - tipo 4. Ainda que o nosso foco sejam as acepções relacionadas aos adjetivos, optamos por registrar nos quadros o uso de algumas UL como adjetivo e substantivo para
Com vistas a apresentar os dados deste estudo, com suas devidas classificações, elaboramos dois quadros, organizados em três colunas, sendo a primeira dedicada às acepções; a segunda aos princípios que regem a definição lexicográfica; e a terceira à classificação conforme o tipo de definição, a saber:
Pelo exposto nos quadros 1 e 2 e os gráficos 1 e 2 a seguir, percebe-se que em Bechara (2011) - tipo 3, das 25 acepções analisadas, 22 foram formuladas de acordo com a metalinguagem de conteúdo e 3 com a metalinguagem de signo, o que equivale a 88% e 12%, respectivamente. Já em Bechara (2011) - tipo 4, das 29 acepções analisadas, 27 foram formuladas conforme a metalinguagem de conteúdo e 2 de acordo com a metalinguagem de signo, representando 93% e 7% respectivamente.
Quanto aos princípios que regem a definição apresentados por Porto Dapena (2002), constatamos que todas as acepções, em sua maioria, cumprem com tais preceitos. Conforme tabela 1, podemos visualizar, quantitativamente, os princípios identificados em nossas análises, quais sejam:
Verificamos que a maioria das definições cumprem com as condições esperadas no processo de elaboração de definições adequadas, de acordo com os apontamentos de Porto Dapena (2002). Mais especificamente, 13 ocorrências listadas no quadro 1 cumprem com o princípio de equivalência, pois trazem em sua estrutura, seja ela sintagmática ou oracional, equivalentes semânticos, a exemplo de magro e inteligente, respectivamente “ 2. Que tem pouca ou nenhuma gordura ” e “ 1. Que revela ou é feiro com inteligência ” (Bechara, 2011) - tipo 3. No dicionário Bechara (2011) - tipo 4, esse princípio apresenta-se em todas as acepções das definições dos lemas triste, vermelho, afro-americano e inteligente, os quais apresentam, entre definiendum e definiens, correspondentes tanto em sua extensão quanto na compreensão, também nesse mesmo dicionário.
Quanto aos princípios de comutação e identidade categorial, verificamos que grande parte das acepções nos dois dicionários possuem essas características. Considerando os elementos das definições do lema alegre e as acepções 1, 2, 3 e 4 do lema magro no dicionário tipo - 3, bem como as acepções 1 e 2 do lema magro e a 4ª acepção do lema alegre no dicionário tipo - 4, vemos modelos de definição comutativa total, uma vez que grande parte dos definiens analisados estabelecem relação sinonímica com o definiendum, podendo ser trocados um pelo outro em diferentes contextos e pertencendo ambos à mesma classe gramatical. Com as análises, verificamos que as acepções caracterizadas predominantemente nas duas obras pelo pronome que apresentam características de definições equivalentes comutativas parciais, posto que há um complemento junto aos sinônimos. As acepções cujo princípio se enquadra na identidade categorial correspondem à maioria das acepções analisadas contidas nos verbetes, as quais contam com palavras, no desenvolvimento da definição, correspondentes à mesma classe gramatical da palavra-entrada. A caracterização desse princípio indica a utilização pelo lexicógrafo de recurso linguístico/gramatical que facilite explicar dados de todo código linguístico formador da definição.
Os princípios de análise e de autossuficiência também se aplicam à grande parte das definições analisadas. Mais especificamente, 16 definições no dicionário tipo - 3 e 11 definições no dicionário tipo - 4 cumprem com o princípio da análise; e 23 acepções do dicionário tipo - 3 e 27 acepções do dicionário tipo - 4 se enquadram no princípio de autossuficiência. Como identificamos, ao serem formuladas com palavras comuns do vocabulário cotidiano, de fácil compreensão, as definições apresentam sintagmas nominais e verbais que as classificam como sendo do princípio de análise, a exemplo da definição do lema luso-brasileiro no dicionário tipo - 3: “que pertence ou se refere a Portugal ou ao Brasil”; e a 2ª acepção do lema vermelho no dicionário tipo - 4: “que é da cor do sangue”. O princípio de autossuficiência, por sua vez, é cumprido na maioria das definições, pois, como pudemos identificar, as lexias utilizadas na descrição do lema foram também dicionarizadas, ou seja, elas fazem parte da macroestrutura dos dicionários, em sua maioria, como cabeça de verbete.
Quanto ao princípio de transparência, ele se cumpre em 18 acepções em Bechara (2011) - tipo 3 e 11 em Bechara (2011) - tipo 4, como pode ser percebido, por exemplo, na primeira acepção do lema magro e na 3ª acepção do lema triste, ambas do dicionário Bechara (2011) - tipo 3.
Os dados sobre tais princípios evidenciam a importância de considerá-los no processo de elaboração de definições lexicográficas, de acordo com os diferentes tipos de definições existentes. Tanto esses princípios como a diversidade de tipologias de definições permitem aos lexicógrafos a adoção de parâmetros organizacionais em conformidade com os objetivos da obra e seu público-alvo.
No que se refere à classificação das acepções de acordo com a tipologia adotada para este trabalho, em Bechara (2011) - tipo 3, classificamos um total de 25 acepções distribuídas em 09 entradas. Dessas 25 acepções, 16 são do tipo parafrástica que, segundo Porto Dapena (2002, p. 290), possuem caráter analítico constituída por frase e configuram uma verdadeira definição lexicográfica. As subclasses desse tipo de definição, quais sejam: substancial e relacional, quantitativamente, são usadas em mesma proporção.
Ainda em Bechara (2011) - tipo 3, identificamos que as definições elaboradas em metalinguagem de signo são menos frequentes. Quando elas ocorrem, há sempre uma ou mais acepções na microestrutura de tipo conceitual, a exemplo da definição do lema tão no dicionário do tipo 3. Assim, o autor implica à definição o caráter metalinguístico, revelando a complexidade do fazer lexicográfico. Considerando esse aspecto, vale ressaltar que de acordo com autores como Seco (1978), Bosque (1982) e Porto Dapena (2002), as definições que empregam a metalinguagem de signo são consideradas “impróprias” devido aos seguintes aspectos: 1. não cumprem com a lei da sinonímia e a condição da substituição16 em nenhum contexto sintático; 2. não oferecem uma definição, um conceito a respeito da palavra entrada, e sim explicam o emprego e a função que ela exerce na oração.
Em Bechara (2011) - tipo 4, classificamos 29 acepções, sendo 16 delas do tipo parafrástica. Das tipologias que concerne essa taxe, a mais utilizada pelo autor no dicionário de tipo 4 é a de tipo relacional, como podemos observar na segunda acepção do lema triste:que revela melancolia”. Ainda conforme as definições parafrásticas, diferente do dicionário Bechara (2011) - tipo 3, Bechara (2011) - tipo 4 traz poucas acepções do tipo parafrástica substancial. Acreditamos que, por se tratar de uma obra orientada a alunos de ensino médio, o autor optou por não elaborar as definições com um núcleo hiperonímico e sim com um “transpositor”, na maioria dos casos, utilizando, pois, a preposição que. Diante desse fato, levantamos a hipótese de que o emprego de um relativo do lema na definição fornece ao consulente possibilidades de interpretações distintas justamente pelo caráter relativo dessa denominação gramatical e pelo nível de aprendizagem que o aluno se encontra. Ressaltamos, nesse contexto, a necessidade de estudos que nos permitam fazer essa verificação.
5 Considerações finais
Em conformidade com nossas intenções investigativas, em que almejamos analisar descritivamente as definições de adjetivos em dicionários escolares do PNLD, conforme a tipologia de definições lexicográficas apresentadas por Porto Dapena (2002), pudemos visualizar de forma muito clara o rigor que se espera de uma atividade de elaboração de definições para um dicionário.
A classificação das acepções referentes aos lemas analisados neste artigo, a partir da tipologia de definições adotada, nos possibilitou reflexões metalexicográficas iniciais importantes e que muito têm servido para amadurecermos nossas inquietações referentes à elaboração de definições que venham a elucidar de forma mais objetiva as dúvidas dos potenciais consulentes desse tipo de dicionário, no caso, o escolar; da mesma forma que nos direciona para um olhar cada vez mais atento também para os dicionários destinados a aprendizes de línguas estrangeiras.
No que se refere aos princípios que regem as definições, identificamos que a maioria das definições cumprem com as condições “necessárias” para se elaborar definições adequadas. Mais especificamente, dentre todas as acepções analisadas nos dois dicionários, 33 cumprem com o princípio da equivalência; 20 com o da comutação; 40 com a da identidade categorial; 27 com o da análise; 50 com o da autossuficiência: e 28 com o da transparência.
Quanto à análise das definições de UL correspondente à categoria verbal dos adjetivos nos dicionários Bechara (2011) - tipo 3 e Bechara (2011) - tipo 4, constatamos que em relação ao emprego da metalinguagem, a maioria corresponde à metalinguagem de conteúdo e uma parcela menor à metalinguagem de signo. Em relação ao tipo de definição, verificamos haver uma sobreposição de definições parafrásticas, tanto as substanciais como as relacionais; seguidas das sinonímicas e, por fim, as funcionais, como se pode verificar com os dados registrados nos quadros 1 e 2 alhures.
As definições apresentadas nos dois dicionários de Evanildo Bechara dos tipos 3 e 4, pelo menos a partir do pequeno recorte lexical utilizado para as analises aqui apresentadas, revelam que os lexicógrafos envolvidos no processo de elaboração das duas obras foram cuidadosos ao se orientarem pelos princípios teóricos e metodológicos da Lexicografia, posto que os textos definitórios contidos nos lemas analisados são representativos de suas respectivas entradas e em grande parte fazem uso dos princípios e condicionamentos básicos necessários para que as definições sejam elaboradas de acordo com o rigor científico esperado.
Por fim, ressaltamos a importância de se considerar os princípios que regem a definição lexicográfica, assim como as diversas tipologias de definição existentes, em todo o labor lexicográfico, para que os lexicógrafos possam adotar parâmetros organizacionais cada vez mais condizentes com os objetivos da obra e seu público-alvo.
Abstract
Main Text
1 Introdução
2 Lexicografia Pedagógica e dicionários do PNLD
3 Definição lexicográfica
4 Apresentação e análise dos dados
5 Considerações finais