Thu, 10 Nov 2022 in Domínios de Lingu@gem
A expressão variável do imperativo no português brasileiro: uma análise sob o viés construcional
RESUMO
O imperativo de 2ª pessoa do singular no português brasileiro pode ser visto como uma construção com propriedades específicas nos termos de Goldberg (1995, 2006) bem como de Traugott e Trousdale (2013). Essa construção expressa-se por meio três instâncias construcionais: o imperativo verdadeiro (indicativo + tu), o imperativo supletivo (subjuntivo + você) e o imperativo abrasileirado (indicativo + você), conforme Scherre (2007), Paredes Silva et al. (2000) e Carvalho (2020). Neste artigo, com o intuito de estabelecer relações entre a Linguística Cognitiva e a Sociolinguística, discutem-se as interações entre essas construções com base na Teoria da Mesclagem Conceptual, de Fauconnier e Turner (2002), bem como a produtividade das formas imperativas na língua à luz da Teoria Baseada no Uso, de Bybee (2013). Nesse sentido, é possível entender que o imperativo abrasileirado tenha se originado a partir de um processo de mesclagem entre o imperativo verdadeiro e o imperativo supletivo e se espraiado no território nacional ao longo do tempo como uma construção típica do português brasileiro.
Main Text
1 Considerações iniciais
O imperativo, marcado pragmaticamente pelo ato ilocutório diretivo (SEARLE, 1969apudFARIA 2006, p. 73-74), é produtivo em situações de interlocução que exprimem um pedido, uma ordem, uma súplica. Esse modo verbal manifesta-se por duas polaridades (afirmativa e negativa) com formas verdadeiras e supletivas, nos termos de Scherre (2007). Segundo a tradição gramatical (CUNHA; CINTRA, 1985; ROCHA LIMA, 2010 [1972]; BECHARA, 2009), enquanto as formas verdadeiras, advindas do presente do indicativo com perda do morfe número-pessoal [-s], são utilizadas em contextos pronominais de tu e vós do imperativo afirmativo; as formas supletivas, emprestadas do presente do subjuntivo, são usadas para os contextos de você, nós e vocês do imperativo afirmativo e para tu, você, nós, vós e vocês do imperativo negativo. Desse modo, a gramática normativa prescreve que, em contexto de 2ª pessoa do singular (doravante 2SG), o imperativo se expresse, em sua modalidade afirmativa, como imperativo verdadeiro, em contexto de tu-sujeito, ou como imperativo supletivo, em contexto de você-sujeito.
Todavia o avanço do você sobre os espaços funcionais do tu no uso da língua promoveu uma reorganização do quadro pronominal do português brasileiro (doravante PB) (LOPES, 2007; LOPES; CAVALCANTE, 2011), reconfigurando o imperativo de 2SG (PAREDES SILVA et al., 2000; SCHERRE et al., 2000, 2014; SCHERRE, 2007, 2012; RUMEU, 2016, 2019; DINIZ, 2018; CARVALHO, 2020). Em decorrência desse processo, as construções imperativas têm evidenciado um potencial variável no que se refere à realização associada às formas verdadeiras (indicativo) e supletivas (subjuntivo), uma vez que a identidade semântica entre tu e você, como formas pronominais de referência ao sujeito de 2SG, alcançou as construções imperativas associadas ao indicativo em contexto de você-sujeito. Esse fenômeno deu origem ao denominado imperativo abrasileirado, cf. Paredes Silva et al. (2000, p. 121), uma construção comum no PB, como no slogan Vem pra Caixa você também! Vem! 2.
Posto esse cenário, a manifestação de imperativo de 2SG no PB constitui um fenômeno variável que se expressa por construções compostas por uma forma verbal (indicativa ou subjuntiva) e pela referência a um sujeito de 2SG (tu ou você), marcadas basicamente pelo sentido do pedido, da ordem ou da súplica. A depender dos elementos que as compõem, essas construções podem ser abonadas pela tradição (CUNHA; CINTRA, 1985; ROCHA LIMA, 2010 [1972]; BECHARA, 2009), como no caso do imperativo verdadeiro (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai em contexto de tu-sujeito) e do imperativo supletivo (deixe/receba/abra/dê/diga/vá em contexto de você-sujeito), ou não, haja vista a existência peculiar no PB do imperativo abrasileirado (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai em contexto de você-sujeito)3. A seguir, de (01) a (03) são ilustradas ocorrências dessa variação construcional com base em dados de Carvalho (2020, p. 120-124) transcritos de cartas pessoais mineiras dos séculos XIX e XX.4
- (01) Não fôras tu, minha terna companheira e a vida para mim seria detestavel! Ah! deixa, minha Helena, deixa que nestas paginas eu fale esta linguagem cheia d. sentimento (JP. Rio de Janeiro, 14.02.1891) - imperativo verdadeiro
- (02) Caso Você não queira falar-lhe, provoque um encontro delle com o Baêta, deixando-os a sós para que o Baêta lhe fale novamente. (AR. Belo Horizonte, 06.06.1936) - imperativo supletivo
- (03) João disse que você pode repetir o remédio, que não tem inconvinete. Espero breve uma cartinha com as novidades [...] Como vai passando Alaide Lourenço e a criançada? Benedito tem dezempenhado bem o trabalho? Lembra seu Pae que no dia 28 acabou o mez della. Saudades a Uzica e familia. Abraços dos manos e sobrinhos para você e seu Pae. (MRVL. s/ local, 02.02.1946) - imperativo abrasileirado
Tendo em vista a existência da expressão variável desse fenômeno no PB, neste artigo argumenta-se a favor de uma abordagem construcional do imperativo de 2SG, tomando, como base teórico-metodológica, a Gramática de Construções (GOLDBERG, 1995; 2006; TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013), a Teoria da Mesclagem Conceptual (FAUCONNIER; TURNER, 2002) e a Teoria Baseada no Uso (BYBEE, 2013). A pesquisa, de natureza qualitativa, será feita a partir da análise e da interpretação do fenômeno à luz de dados de pesquisas sociolinguísticas sobre o tema (SCHERRE, 2007; DINIZ, 2018; CARVALHO, 2020) que ratificam a produtividade da construção imperativa de 2SG no sistema linguístico.
Essa análise do ponto de vista construcional se torna factível ao resgatar o conceito de construção proposto por Fillmore (1988) e Goldberg (1995, 2006) e aplicá-lo ao imperativo de 2SG. Segundo esses autores, uma construção consiste em um pareamento de forma e função ao qual se atribui um conjunto de funções convencionais utilizadas na língua em contextos específicos com propriedades específicas. Nesse sentido, o imperativo de 2SG poderia ser entendido como uma construção que se manifesta por uma forma verbal imperativa aliada a um sujeito de 2SG que tem como função estabelecer um pedido, uma ordem ou uma súplica por meio de uma força ilocucionária. À luz dessa visão construcional, busca-se evidenciar, portanto, as contribuições trazidas pela Linguística Cognitiva para o entendimento de processos de variação e mudança linguística labovianas (LABOV, 1972, 1994), especificamente em relação ao estatuto variável do imperativo de 2SG na língua.
Assim, tendo em mente essas considerações em busca de uma abordagem construcional do imperativo de 2SG, questiona-se: de que maneira o surgimento do imperativo abrasileirado (forma imperativa indicativa em contexto de você-sujeito, cf. PAREDES SILVA et al., 2000, p. 121) pode ser vinculada à existência das construções do imperativo verdadeiro (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai em contexto de tu-sujeito) e do imperativo supletivo (deixe/receba/abra/dê/diga/vá em contexto de você-sujeito) no PB?
A hipótese é a de que a construção do imperativo abrasileirado (indicativo + você) tenha sido gerada conceptualmente a partir da conjugação das construções do imperativo verdadeiro (indicativo + tu) e do imperativo supletivo (subjuntivo + você). Essa emergência provavelmente aconteceu em decorrência do processo de mesclagem conceptual, de Fauconnier e Turner (2002), que se fundamenta na Teoria dos Espaços Mentais, de Fauconnier (1994, 1997). Assim, tendo em vista a Teoria Baseada no Uso, à luz de Bybee (2013), o imperativo abrasileirado passou a ser empregado continuamente ao longo do tempo em distribuição diatópica no PB. A fim de atestar o espraiamento do imperativo abrasileirado no PB, são utilizados dados oriundos de pesquisas quantitativas de natureza sociolinguística realizadas Scherre (2007) sobre a expressão variável.
Dadas a questão e a hipótese que nortearão a análise, a partir das considerações iniciais sobre as formas imperativas de 2SG e suas inter-relações com a Linguística Cognitiva, abordam-se, na seção 2, os fundamentos teórico-metodológicos que norteiam este artigo. Em seguida, na seção 3, analisa-se o imperativo de 2SG em uma perspectiva construcional tendo em vista o surgimento e a difusão das formas imperativas em variação no PB. Por fim, nas considerações finais, tecem-se observações sobre a interface entre a Linguística Cognitiva e a Sociolinguística para o entendimento dos processos de variação e mudança linguística.
2 Fundamentação teórico-metodológica
Esta seção é dedicada à abordagem dos princípios metodológicos que fundamentam a análise do imperativo sob um viés cognitivo. Assim, discutem-se o conceito de construção (FILLMORE, 1988; GOLBERG, 1995) e suas propriedades (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013), bem como a Teoria dos Espaços Mentais (FAUCONNIER, 1994, 1997) e da Mesclagem Conceptual (FAUCONNIER; TURNER, 2002). Por fim, também são abordados alguns conceitos da Teoria Baseada no Uso (BYBEE, 2013) considerados relevantes para a análise do imperativo de 2SG.
2.1 A construção e suas propriedades
A tradição gerativa, segundo Salomão (2002), considera que o significado é construído de maneira composicional (o significado do todo advém da soma do significado das partes), delegando ao plano das irregularidades determinadas expressões cujo significado se dá de maneira indissociável ao todo5. Na visão de Fillmore (1988), entretanto, muitas expressões, comumente empregadas nas línguas, escapam dessa visão composicional do significado. Idiomatismos, como os em (04), (05) e (06), retirados Dicionário de expressões idiomáticas proposto por Riva (2008), são alguns dos vastos exemplos de termos cujo significado não ocorre a partir das partes e sim a partir do todo.
- (04) jogado às traças (RIVA, 2008, p. 110)
- (05) dançar conforme a música (RIVA, 2008, p. 111)
- (06) aparar as arestas (RIVA, 2008, p. 116)
Nesse contexto, a fim de abarcar essas ocorrências muito comuns, mas até então relegadas a um papel coadjuvante pela Linguística, surge o conceito de construção. Segundo Fillmore (1988), construção gramatical é qualquer padrão sintático ao qual se atribui um conjunto de funções na língua, utilizadas em determinados contextos com propriedades específicas. Esse conceito fica evidente em sua análise da expressão let alone, em inglês, que, embora tradicionalmente tratada como uma conjunção coordenativa, funciona como um idiomatismo que evoca uma construção com propriedades funcionais singulares.
Embora Fillmore (1988) pareça ter limitado o conceito de construção às expressões idiomáticas, Goldberg (1995) tende a dilatar essa concepção, considerando construção qualquer unidade de pareamento entre forma e sentido. Em termos formais, Goldberg (1995, p. 4) entende que
C é uma construção se C é um par forma-significado <Fi, Si> de tal forma que algum aspecto de Fi, ou algum aspecto de Si não é estritamente previsível das partes componentes de C`s ou de outras construções previamente estabelecidas (GOLBERG, 1995, p. 4, tradução própria)6.
Desse modo, uma construção consistiria em um padrão linguístico em que estrutura e sentido estão imbricados de modo que o significado das partes que a compõe não possa ser destituído do sentido do todo que a integra. Nessa perspectiva, à luz de Goldberg (2006, p. 5), o sentido de uma construção não pode ser depreendido composicionalmente, uma vez que, se o pareamento entre a estrutura e a função é indissociável, o significado não adviria das partes, mas sim do todo. Goldberg (1995, 2006) salienta que uma construção apresenta aspectos do significado e da forma como componentes que não podem ser previstos externamente à estrutura linguística, na medida em que cada construção teria, portanto, sua forma e seu sentido específico manifestos internamente na estrutura da língua.
A fim de analisar a construção imperativa de 2SG proposta neste artigo, além de levar em consideração o conceito de construção proposto por Goldberg (1995, 2006), é importante ressaltar, em conformidade com Traugott e Trousdale (2013), as propriedades de esquematicidade, de produtividade e de composicionalidade relacionadas às construções. Segundo os autores, a esquematicidade consiste nos graus que apontam a generalidade, abstração e especificidade de uma construção; a produtividade refere-se às condições que permitem uma construção licenciar outras a ela vinculadas; e a composicionalidade está relacionada ao grau de transparência e de analisabilidade da construção tendo em vista seu emparelhamento entre forma e sentido. Essas propriedades são importantes na medida em que permitem analisar até que ponto uma construção se relaciona hierarquicamente a suas instanciações por meio de uma rede construcional composta por esquema, subesquemas, microconstruções e constructos (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013), como se observa no quadro (01).
A partir dessa rede esquemática, é possível perceber que, enquanto o esquema, localizado hierarquicamente no topo da rede, representa o grau máximo de abstração (e mínimo de concretude) de uma construção, o subesquema, em uma instância subordinada a ele, é mais específico e, portanto, menos abstrato do que o esquema. Já a microconstrução, que na hierarquia se encontra abaixo do subesquema, representa, por sua vez, uma instanciação deste, consistindo em um elemento ainda mais especificado e menos abstrato. Por fim, o constructo, subordinado às microconstruções, representa a realização efetiva de uma construção em uma situação de uso real da língua, sendo, assim, o item de maior grau de especificação e de concretude da construção. Neste trabalho, procura-se analisar a construção imperativa de 2SG levando em consideração o esquema e os subesquemas dessa construção. As microconstruções e os constructos serão apresentados, porém não constituirão o foco em discussão no artigo.
Dessa maneira, conclui-se a abordagem do conceito de construção (GOLBERG, 1995, 2006) bem como de algumas de suas propriedades (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013). Esses conceitos serão relevantes para a análise do imperativo de 2SG em uso PB sob uma perspectiva construcional, levando em consideração suas instanciações: o imperativo verdadeiro (indicativo + tu), o imperativo supletivo (subjuntivo + você) e o imperativo abrasileirado (indicativo + você). Assim, visando apresentar o aporte teórico necessário para o entendimento das relações entre essas instâncias, segue-se às considerações sobre a Teoria dos Espaços Mentais e da Mesclagem.
2.2 Os espaços mentais e a mesclagem
A Teoria dos Espaços Mentais, de Fauconnier (1994, 1997), e mais especificamente a Teoria da Integração Conceptual ou Mesclagem, de Fauconnier e Turner (2002), fornecem subsídios para entender o processamento cognitivo das de expressões na mente humana. Segundo a teoria, a mente humana é dotada de um espaço mental, denominado zona de processamento do discurso, que permite a ativação de uma rede de projeções entre domínios conceptuais para a emergência de construções.
Os espaços mentais são regidos por princípios simples e gerais que podem ser aplicados de maneira universal a todas as línguas. Nesse sentido, Fauconnier (1994, p. 18) salienta o potencial de produtividade ilimitado desses espaços na elaboração de construções em diferentes contextos pragmáticos e culturais. De fato, a Teoria dos Espaços Mentais traz contribuições significativas para a compreensão dos processamentos cognitivos na mente, comuns a todos os seres humanos, independentemente da língua ou cultura em que estão inseridos.
A noção de espaço mental tem importante aplicação no processo de integração conceptual, denominado mesclagem (blending), proposto por Fauconnier e Turner (2002, p. 20). Esse processo, também chamado de combinação conceptual, está na base das operações mentais, desde as mais simples às mais complexas, podendo ser empregado para a análise de associações metafóricas e de padrões construcionais. Na mesclagem, uma expressão é processada a partir de uma projeção entre quatro domínios do espaço mental: dois domínios-fonte, um esquema genérico e um espaço-mescla. No quadro (02), de acordo com adaptação realizada por Salomão (2002, p. 155) com base em Fauconnier e Turner (2002), pode-se verificar esse processamento.
Conforme o diagrama exposto no quadro (02), o processamento de uma expressão ocorre a partir de um espaço genérico, onde se encontram as informações gerais (a e b), que retroalimentam os domínios fonte 1 e fonte 2. Essas informações são projetadas parcialmente entre os dois domínios fonte (a1, b1, c1; a2, b2, c2) a partir das necessidades comunicativas do falante, representadas, nesse caso, pela trajetória dos traços (links) presentes no diagrama. Durante esse processo, para atender a essas necessidades, nem todas as informações de um domínio (d1) se encontram obrigatoriamente respaldadas no outro (f2). As informações interdomínios são projetadas no domínio mescla, promovendo o surgimento de uma estrutura emergente (a’’, b’, c’, f’’), que não é dada pelos domínios fonte, mas originada de suas projeções. Nesse espaço também podem ser observadas informações não relacionadas aos domínios fonte (g’, h’) que se originam de projeções aleatórias.
A mesclagem pode ser utilizada para análises tanto de processos metafóricos quanto de emergências construcionais na língua. Ferrari (2010), por exemplo, em uma análise da sentença “Paris é o coração da França” explica como a associação metafórica ocorre por meio dos espaços mentais. Nesse sentido, no espaço genérico constariam informações relacionadas a cidades e países bem como ao corpo humano, que ativam, no domínio fonte 1, as cidades francesas e, no domínio fonte 2, os órgãos do ser humano. A conjunção desses domínios leva à emergência, no domínio mescla, dos elementos Paris e coração que consolidam a metáfora de vitalidade baseada na ideia de que Paris está para França assim como o coração está para o corpo humano.
Ao recrutar a mesclagem para analisar as construções, Fauconnier e Turner (2002apudFERRARI, 2010) utilizam, para explorar esse processamento, as construções de movimento causado ([SUJ V OBJ OBL])7 propostas por Goldberg (1995). A teoria pode ser usada, por exemplo, para a concepção dessa construção na sentença “O jogador cabeceou a bola para o gol” (FERRARI, 2010, p. 163). Nesse caso, elementos relacionados à construção de movimento causado e à sequência de eventos na sentença são ativados do espaço genérico nos domínios fonte 1 e 2, respectivamente. Assim, enquanto no domínio fonte 1, se encontrariam os papéis argumentais agente ([SUJ]), tema ([OBJ]), alvo ([OBL]) e a ação (“causar-mover”), no domínio fonte 2, estariam os elementos da sentença Jogador, bola, para o gol, cabecear. Desse modo, a relação interdomínios resultaria na emergência da construção no espaço mescla com o pareamento forma/função entre jogador/agente, cabecear/“causar-mover”, bola/tema e para o gol/alvo. A aplicação da mesclagem à concepção das construções tal como proposto por Fauconnier e Turner (2002apudFERRARI, 2010) é relevante na medida em que essa análise servirá de base para o entendimento das relações estabelecidas entre as construções imperativas de 2SG em foco neste artigo.
Em síntese, a Teoria dos Espaços Mentais de Fauconnier (1994, 1997) contribui significativamente para o entendimento das projeções cognitivas realizadas durante o processamento da linguagem. De certo mordo, ao evidenciar a operação de mesclagem conceptual por meio da conjugação entre os espaços mentais - aplicada seja a associações metafóricas, seja a emergências construcionais -, Fauconnier e Turner (2002) tornam mais objetivas as abstrações que ocorrem na mente humana e trazem maior clareza para o entendimento dos processamentos que envolvem o surgimento de expressões linguísticas.
Assim, tendo apresentado o conceito de espaços mentais e o processo de mesclagem, finaliza-se esta seção. Esses conceitos são importantes, uma vez que serão utilizados para o entendimento da emergência das construções imperativas de 2SG no PB (imperativo verdadeiro, imperativo supletivo e, sobretudo, o imperativo abrasileirado), questão que norteia este artigo conforme proposto nas considerações iniciais. Desse modo, a fim de constituir uma base teórica mais sólida para essa análise, procede-se, na próxima subseção, à abordagem da Teoria Baseada no Uso.
2.3 As construções na Teoria Baseada no Uso
A Teoria Baseada no Uso, conforme Langacker (1987, 2000 apudBYBEE, 2013), está calcada na premissa de que a experiência com a linguagem cria e impacta as representações cognitivas das línguas. Nessa teoria, a gramática pode ser vista como a organização cognitiva de uma experiência com a linguagem (BYBEE, 2006, 2013), nas quais as construções são ordenadas e combinadas pela similaridade com representações construcionais existentes. Bybee (2013, p. 2) entende que nessa proposta a estrutura da língua é formada pela repetição de padrões linguísticos por meio de processos de categorização, entrincheiramento e esquematização. Nesse caso, a reincidência de uso de uma determinada expressão leva à convencionalização de categorias e associações, bem como à automação de sequências na cognição humana.
As construções, nessa perspectiva, podem ser vistas como unidades de processamento de forma e significado que foram usadas com frequência suficiente para serem acessadas juntas, abarcando no processo desde partes sequenciais de palavras (morfemas) até estruturas complexas (expressões). Nesse contexto, inserem-se os modelos exemplares, construções criadas por meio da experiência que contribuem para a composição da memória humana: cada experiência linguística tem um impacto na representação do armazenamento cognitivo que, quando acessado pelo falante, dependendo do uso realizado, pode causar alterações nos itens armazenados. Assim, a memória de cada indivíduo inclui informações detalhadas sobre os elementos que foram processados por meio dos modelos exemplares, delimitando seu pareamento entre forma, os elementos componentes de sua estrutura, e função, as especificidades semântico-pragmáticas de seu contexto de uso.
Bybee (2013) afirma que os modelos de exemplares e as contagens de frequência - frequência do tipo (type frequency) e frequência do dado (token frequency)8 - interferem de modo significativo nos deslocamentos de sentido para a formação novas construções. As frequentes co-ocorrências de uma inferência associada a uma construção podem levar à incorporação de uma nova nuance de sentido que passa a ser entendida, então, como parte do significado da construção, a ponto de muitas vezes o novo significado inferido substituir o antigo significado original. Por esse motivo, um modelo exemplar torna-se altamente relevante, uma vez que serve de parâmetro para que as novas inferências realizadas no eixo do tempo se atrelem a esse modelo de modo que, dependendo da frequência do uso e do potencial de ocorrência de cada inferência, a construção tenha seu sentido convencionalmente alterado. Assim, conforme Bybee (2013), os falantes mudam a língua com base no uso frequente que fazem de uma construção com incorporação de novas acepções que são continuamente registradas na representação dos modelos exemplares.
Nesse sentido, a Teoria Baseada no Uso (BYBEE, 2013) exercerá papel significativo no entendimento de como as construções imperativas de 2SG (imperativo verdadeiro, imperativo supletivo e imperativo abrasileirado) se distribuíram diacrônica e diatopicamente no PB. A fim de que essa análise possa ser adequadamente realizada, são trazidos à cena dados de pesquisas sociolinguísticas de natureza quantitativa realizadas por Scherre (2007) sobre o fenômeno variável que evidenciam a frequência de utilização das construções imperativas de 2SG no PB a partir de uma amostra de revistas em quadrinhos da Turma da Mônica. Essa análise se pretende relevante na medida em que pode permitir o estabelecimento de um vínculo entre a Teoria do Uso e da Mesclagem Conceptual abordada na seção anterior, ratificando as relações entre as construções imperativas de 2SG em foco neste artigo.
Finda-se neste ponto a abordagem do quadro teórico-metodológico para nortear a análise do imperativo de 2SG no PB sob uma perspectiva construcional. Dessa maneira, visando aplicar essas discussões teóricas à expressão variável do imperativo de 2SG, procura-se apresentar, na próxima seção, esse modo verbal como construção cujas formas, inter-relacionadas em um processo de mesclagem, possuem elevado uso e produtividade na língua. Essa análise, realizada a partir de uma pesquisa de natureza qualitativa, busca promover uma abordagem construcional do fenômeno por meio da interpretação de dados advindos de estudos sociolinguísticos sobre o estatuto variável do imperativo de 2SG (SCHERRE, 2007; DINIZ, 2018; CARVALHO, 2020).
3 O imperativo de 2ª pessoa do singular do português brasileiro em uma abordagem construcional
Nesta seção, propõe-se uma investigação analítico-interpretativa, em que se pretende estabelecer um diálogo entre as teorias cognitivas abordadas na seção anterior e o modo imperativo. Inicialmente são apresentadas as construções imperativas de 2SG (imperativo verdadeiro, imperativo supletivo e imperativo abrasileirado) para, posteriormente, analisar suas interações no espaço mescla e, finalmente, observar sua difusão diacrônica e diatópica no PB. Essa expansão será examinada por meio de dados de pesquisas sociolinguísticas realizadas por Scherre (2007) com base em revistas em quadrinhos da Turma da Mônica.
3.1 A construção imperativa de 2SG e suas instanciações
O imperativo, modo do pedido, da ordem e da súplica, pode ser considerado uma construção, nos termos de Goldberg (1995, 2006), na medida em que apresenta um pareamento entre forma e função. Em termos pragmáticos, esse modo verbal é marcado por um ato ilocucionário diretivo (SEARLE, 1969apudFARIA, 2006, p. 73-74) na interação entre falantes em uma situação comunicativa. Além disso, à luz da gramática normativa (CUNHA; CINTRA, 1985; ROCHA LIMA, 2010 [1972]; BECHARA, 2009), o imperativo apresenta basicamente formas advindas do modo indicativo e formas emprestadas do modo subjuntivo combinadas com um sujeito argumental a quem a força ilocucionária se dirige. Desse modo, o imperativo poderia ser tomado como construção, tendo em vista a existência de um emparelhamento entre forma (indicativo ou subjuntivo aliado a um sujeito argumental) e sentido (pedido, ordem ou súplica em um ato ilocucionário).
O imperativo apresenta, conforme Scherre (2007), formas verdadeiras, advindas do indicativo com apócope do morfema de número e pessoa -s, e formas supletivas, emprestadas do subjuntivo sem alteração mórfica. A tradição gramatical (CUNHA; CINTRA, 1985; ROCHA LIMA, 2010 [1972]; BECHARA, 2009) prescreve a utilização das formas verdadeiras em contexto de sujeito tu e vós na modalidade afirmativa e das formas supletivas nos demais contextos: você, nós e vocês em posição de sujeito na polaridade afirmativa; e tu, você, nós, vós, vocês em posição de sujeito na polaridade negativa. O quadro (03) sintetiza as formas verdadeiras e supletivas do imperativo do verbo cantar conforme a gramática normativa (BECHARA, 2009 [1961], p. 237).
No quadro (03), enquanto as formas supletivas (cantes, cante, cantemos, canteis, cantem) não apresentam marcações, as formas verdadeiras (canta, cantai) foram propositalmente marcadas para destacá-las entre as outras. É importante notar que não existem formas imperativas para contextos de eu-sujeito e ele/eles-sujeito, uma vez que o imperativo, por ser de natureza interlocutória, restringe suas ocorrências às 2as pessoas do singular e do plural, impedindo a existência de formas para a 1ª pessoa do singular e para as 3as pessoas do singular e do plural9. A inclusão da 1ª pessoa do plural no paradigma de formas imperativas, conforme Rocha Lima (2010 [1972]), deve-se aos contextos em que o falante se inclui entre as pessoas a quem se dirige.
Restringindo-se às formas imperativas de 2SG que representam o foco em análise neste estudo, vê-se no PB um fenômeno peculiar em decorrência da inserção do você no sistema pronominal (LOPES, 2007; LOPES; CAVALCANTE, 2011). Conforme atestam as pesquisas sociolinguísticas de Scherre et al. (2000, 2014), Scherre (2007, 2012), Rumeu (2016, 2019), Diniz (2018) e Carvalho (2020), o ingresso da antiga forma de tratamento você no paradigma dos pronomes pessoais foi responsável pela expressão variável das formas imperativas de 2SG, que deu origem, nos termos de Paredes Silva et al. (2000, p. 121), ao imperativo abrasileirado, forma imperativa advinda do indicativo em contexto de você em posição de sujeito (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você). Essa construção inovadora, não marcada socialmente, está difundida em letras de música popular, como em (07), e em poemas modernistas, como em (08), ratificando sua presença no PB.
(07) Perdoa, meu amor, perdoa
Perdoa, eu bem sei que errei
Perdoa, meu amor, perdoa
Perdoa se lhe magoei
A minha vida era só melancolia
Até você me aparecer um dia
Como se fosse uma rosa fugidia
Fez dos meus sonhos esta louca fantasia10
(08) Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.11
Desse modo, tendo em vista os estudos sociolinguísticos (SCHERRE et al., 2000, 2014; SCHERRE, 2007, 2012; RUMEU, 2016, 2019; DINIZ, 2018; CARVALHO, 2020), o imperativo de 2SG no PB é uma construção de forma e função emparelhadas que pode se manifestar por meio de três instâncias construcionais diferentes: o imperativo verdadeiro, o imperativo supletivo e o imperativo abrasileirado. Essa expressão variável pode ser observada na rede construcional localizada no quadro (04), por meio da qual é possível analisar as propriedades de esquematicidade, produtividade e composicionalidade da construção imperativa de 2SG. Na rede, em conformidade com a proposta de Traugott e Trousdale (2013), observa-se a representação dessa construção por meio de seu esquema bem como de seus subesquemas, suas microconstruções e seus constructos. A partir dessas informações, é possível afirmar que a construção imperativa pode ser analisada em quatro níveis de esquematicidade, do mais genérico e mais abstrato (representado pelo topo da hierarquia), ao mais específico e mais concreto (representado pela base da rede).
O esquema da construção imperativa de 2SG ([[X]IMP ([Y])]), no maior nível de abstração da hierarquia, compõe-se de um verbo conjugado no modo imperativo que induz o sujeito de 2SG a cumprir uma ordem, pedido ou súplica tendo em vista a força ilocucionária típica desse modo verbal. Nesse ponto, é importante destacar que a construção imperativa de 2SG possui um elevado grau de composicionalidade, uma vez que, embora expresse a semântica própria do modo imperativo em todos os níveis, a transparência do seu significado está intimamente relacionada aos elementos que compõem a instância construcional analisada em cada um de seus níveis. Assim, a depender do verbo, por meio do qual se estrutura, bem como da presença de outros itens nos constructos, que fazem referência a situações comunicativas específicas, o significado da construção pode sofrer alterações dentro dos limites impostos pela semântica geral do modo imperativo (pedido, ordem ou súplica).
A construção imperativa expressa-se na 2SG do PB por meio de subesquemas que representam instanciações dessa construção, a saber, o imperativo verdadeiro ([[IND]IMP ([TU])]), o imperativo supletivo ([[SUB]IMP ([VOCÊ])]) e o imperativo abrasileirado ([[IND]IMP ([VOCÊ])]). Por esse motivo, é possível reconhecer a elevada produtividade dessa construção, haja vista a possibilidade de licenciar outras construções vinculadas a ela pelo sentido do pedido, da súplica e da ordem.
Em uma posição hierarquicamente inferior a esses subesquemas, situam-se as microconstruções, que manifestam, com maior grau especificidade, alguns exemplos de verbos - em uma lista não exaustiva - que podem ser encontrados nesse patamar da rede. A microconstrução do imperativo verdadeiro (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + tu) é formada por um verbo do indicativo (sem o morfe número-pessoal [-s]) em contexto de tu-sujeito. Já a microconstrução do imperativo supletivo (deixe/receba/abra/dê/diga/vá + você) é constituída de um verbo do subjuntivo em contexto de você-sujeito. E, por fim, a microconstrução inovadora do imperativo abrasileirado (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você) é composta por um verbo do indicativo (também sem o morfe número-pessoal [-s]) em contexto de você-sujeito. Essas microconstruções se expressam na língua por meio de constructos, que, no quadro (03), estão representados pelos exemplos arrolados neste artigo nas considerações iniciais12.
Os constructos, hierarquicamente localizados na base da rede e subordinados às microconstruções, evidenciam o grau máximo de concretude e mínimo de abstração, sendo, portanto, os elementos mais especificados dessa cadeia. Os constructos representam a expressão da construção imperativa em situações comunicativas reais da língua, ratificando sua produtividade a partir da diversidade de elementos que comportam em sua estrutura, como observado no quadro (04). Outros constructos do imperativo de 2SG podem ser vistos, por exemplo, em dados de pesquisas sociolinguísticas, como de (09) a (14), transcritos de Diniz (2018) e de Carvalho (2020), com ocorrências do PB que remontam aos séculos XIX e XX13.
- (09) “[...] Fazi com que o teu marido e Pae não me mandem o carro sem animal de montaria porque temos logo no dia seguinte precisão de que os muares estejam vigorosos para conduzir nos. [...] Já encommendei as velas bentas que me pediste. [...]” (JPCF. RJ, 05.02.1877.) - imperativo verdadeiro (DINIZ, 2018, p. 81)
- (10) Podes reformar o Dirictorio consulte o Dr Jose Pedro Araujo, consulte a quem quizer ve si o Sabino entra na rasã tudo combinado me-passe um telegramma pedindo as medidas communicando e Dirictorio criado. (JP. s/local, s/ data) - imperativo verdadeiro (CARVALHO, 2020, p. 122)
- (11) “[...] Naotenho recebido letras suas, mas como Você tem podido ser mais frequente em a estimavel correspondencia com a vossa mãe e irmã [...] Nas suas orações ao Alto recommende sempre o Pae que é tam amigo seu [...]” (JPCF. RJ, 20.05.1886.) - imperativo supletivo (DINIZ, 2018, p. 81)
- (12) Agora, não concordei, quando você assinou: - o velho Carlos. Olhe, Carlos, estou com tentação de parodiar uma carta que havia num livro manuscrito [...]. (RCAM. Belo Horizonte, 31.10.1978) - imperativo supletivo (CARVALHO, 2020, p. 121)
- (13) “[...] Mano, se voce pudesse me arranjar um d’esse aparelho de ouvir melhor como Mámãe deu a Amalia eu ficaria muito contente e nossa Madre pagaria a importancia. [...] Já emprimiram a terceira edição da beographia de Mamãe? se não ve se me arranja uns esemplares [...]” (MBPCAM. SP, 28.12.1926.) - imperativo abrasileirado (DINIZ, 2018, p. 81)
- (14) Mas, você a maior de nossas poetisas vivas, não precisa de crítica de um velho que [...] se empenhar bem na poesia... Beije em nome do Ciei e aos nossos, às irmãs de D. Sinhá e recebe abraço [...] ternalmente carinhoso de seu admirador Pedro Pinto. (PP. s/ local, 14.05.1955) - imperativo abrasileirado (CARVALHO, 2020, p. 122)
Diante desses constructos de (09) a (14) expostos anteriormente, é importante apresentar duas ressalvas em relação a análise construcional proposta neste estudo. Em primeiro lugar, não é foco deste artigo analisar de maneira pormenorizada todos os níveis constantes na rede da construção imperativa de 2SG, tendo em vista a possibilidade da manifestação dos constructos na língua com outros elementos além da forma verbal (indicativa ou subjuntiva) e da referência de sujeito de 2SG (tu ou você). Desse modo, importa neste estudo a análise dos níveis máximos de esquematicidade dessa construção, levando em consideração a associação entre a forma imperativa e seu contexto de sujeito que levam à expressão do imperativo verdadeiro (indicativo + tu), do imperativo supletivo (subjuntivo + você) e do imperativo abrasileirado (indicativo + você). Em segundo lugar, é importante observar que, embora haja uma relativa diferença entre as formas constitutivas dessas construções, não há nenhuma evidência semântica ou pragmática que as diferencie nos níveis de esquematicidade descritos neste estudo, uma vez que o imperativo verdadeiro, o imperativo supletivo e o imperativo abrasileirado parecem ser usados indiscriminadamente em contextos de pedido, de ordem e de súplica, como um ato que pressupõe uma força ilocucionária. A diferença de sentido, nesse caso, decorre da utilização dos constructos em situações de uso real da língua, em que o os elementos que os integram contribuem para alterar parcialmente o sentido dentro dos limites semânticos do modo imperativo.
Feitas essas ponderações e tendo exposto as construções imperativas de 2SG no PB e suas propriedades, assume-se, neste artigo, que a construção imperativa de 2SG expressa-se por meio do imperativo verdadeiro (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + tu), do imperativo supletivo (deixe/receba/abra/dê/diga/vá + você) e do imperativo abrasileirado (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você) que se aproximam quanto ao sentido, mas que se diferem quanto à forma a depender da origem mórfica (indicativo ou subjuntivo) e do contexto de sujeito (tu ou você). Assim, uma vez que o sentido de cada construção imperativa permanece inalterado a despeito da diversidade formal, é necessário analisar as relações de estabelecidas entre essas instâncias construcionais. Para tanto, procede-se à discussão das interações entre essas construções no processo de mesclagem.
3.2 As construções imperativas no espaço mescla
O processo de Integração Conceptual ou Mesclagem (FAUCONNIER; TURNER, 2002), desenvolvido a partir da Teoria dos Espaços Mentais (FAUCONNIER, 1994, 1997), pode fornecer subsídios para o entendimento do processamento cognitivo da construção imperativa de 2SG ([[X]IMP ([Y])]). Essa construção, cujo pareamento entre forma e sentido consiste em um verbo no imperativo atrelado a um sujeito de 2SG pela semântica do pedido, da ordem ou da súplica em um ato ilocucionário, expressa-se no PB por três instanciações: o imperativo verdadeiro (indicativo + tu), o imperativo supletivo (subjuntivo + você) e o imperativo abrasileirado (indicativo + você).
Essas construções, unidas pelo sentido próprio do modo imperativo, apresentam alterações visíveis em suas estruturas a depender da origem da forma imperativa (indicativa ou subjuntiva) e da referência ao sujeito de 2ª pessoa (tu ou você). Uma vez que denunciam essa relativa diversidade na manifestação formal a despeito da manutenção da expressão semântica, o imperativo verdadeiro, o imperativo supletivo e o imperativo abrasileirado apresentam relações que demandam devida investigação. Assim, a fim de elucidar a associação entre essas instâncias da construção imperativa de 2SG, que constitui a questão norteadora deste artigo presente nas considerações iniciais, toma-se, como instrumental de análise, o processo de integração entre os espaços mentais tal como proposto por Fauconnier e Turner (2002).
No quadro (05), pode-se analisar o processo de mesclagem, a partir de um exemplo com o verbo cantar, que já foi utilizado na descrição normativista (BECHARA, 2009 [1961]) do modo imperativo na seção anterior. Nesse processo, observam-se as operações cognitivas entre os espaços mentais (espaço genérico, dois domínios fonte e espaço mescla) que concorrem para dar origem às construções imperativas de 2SG.
No quadro (05), busca-se evidenciar o surgimento das construções imperativas de 2SG, sobretudo do imperativo abrasileirado ([[IND]IMP ([VOCÊ])]), a partir das necessidades comunicativas dos falantes representadas pela trajetória dos traços (links) no diagrama. No espaço genérico, encontram-se, entre elementos avulsos, formas verbais do indicativo e do subjuntivo bem como formas pronominais que desempenham função argumental de sujeito.14 No domínio fonte 1, surge a construção do imperativo verdadeiro ([[IND]IMP ([TU])]), com forma verbal do indicativo (sem o morfe número pessoal [-s]) e com tu-sujeito, advindos do espaço genérico (canta tu). No domínio fonte 2, surge a construção do imperativo supletivo ([[SUB]IMP ([VOCÊ])]), com forma verbal do subjuntivo e com você-sujeito, advindos do espaço genérico (cante você). Finalmente no domínio da mescla, emerge a construção do imperativo abrasileirado ([[IND]IMP ([VOCÊ])]) a partir da confluência entre da forma verbal do imperativo verdadeiro e a forma pronominal de sujeito do imperativo supletivo (canta você), elementos de construções anteriormente localizadas nos dois domínios-fonte.
Em uma perspectiva cognitiva, pode-se, então, associar o surgimento do imperativo abrasileirado (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você, cf. PAREDES SILVA et al., 2000, p. 121), cuja emergência está diretamente associada à inserção da forma pronominal você no quadro pronominal do PB (LOPES, 2007; LOPES et CAVALCANTE, 2011), às interações entre as construções do imperativo verdadeiro (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + tu) e do imperativo supletivo (deixe/receba/abra/dê/diga/vá + você). Embora no quadro (05) a ênfase tenha recaído sobre a emergência da construção do imperativo abrasileirado, é importante observar que nos espaços mentais há sempre informações não diretamente utilizadas para a elaboração das construções. Dessa maneira, a depender das necessidades linguísticas dos falantes representadas figurativamente pelo percurso dos traços (links), a diversidade de elementos linguísticos disponíveis no espaço genérico poderia ser usada para a emergência outras construções. Nesse caso, tendo em vista a existência de formas verbais e pronominais no espaço genérico, tanto construções imperativas de outras pessoas discursivas como diferentes construções indicativas e subjuntivas poderiam surgir no espaço mescla. Essa consideração é importante na medida em que ratifica, tal como previsto por Fauconnier (1994), o caráter abrangente da aplicação da teoria.
Desse modo, fica demonstrado o processamento de concepção da construção do imperativo abrasileirado (indicativo + você) por meio da confluência entre as construções do imperativo verdadeiro (indicativo + tu) e do imperativo supletivo (subjuntivo + você) na Teoria dos Espaços Mentais através da Mesclagem (FAUCONNIER, 1994, 1997; FAUCONNIER; TURNER, 2002). A demonstração desse processo é necessária, uma vez que auxilia a elaboração de uma resposta assertiva ao questionamento realizado nas considerações iniciais sobre as relações entre essas instanciações da construção imperativa de 2SG. Assim, com o objetivo de aprofundar a investigação dessas associações, ratificando a concepção do imperativo abrasileirado como fruto da conjunção entre o imperativo verdadeiro e do imperativo supletivo, procede-se, então, à análise da expansão dessa inovadora construção do PB nos moldes da Teoria Baseada no Uso, à luz de Bybee (2013).
3.3 O imperativo abrasileirado em uso na língua
O imperativo abrasileirado (forma imperativa advinda do indicativo em contexto de você em posição de sujeito, cf. PAREDES SILVA et al., 2000, p. 121) originou-se conceptualmente a partir da confluência entre o imperativo verdadeiro (indicativo + tu) e o imperativo supletivo (subjuntivo + você) nos espaços mentais (FAUCONNIER; TURNER, 2002). Essa construção tem mostrado alta produtividade que pode ser confirmada com base nos modelos exemplares da Teoria Baseada no Uso, cf. Bybee (2013). Essa frequência de uso vem sendo atestada em estudos de caráter sociolinguístico (LABOV, 1972, 1994) que analisam a distribuição das construções imperativas no PB (PAREDES SILVA et al., 2000; SCHERRE et al., 2000, 2014; SCHERRE, 2007, 2012; RUMEU, 2016, 2019; DINIZ, 2018; CARVALHO, 2020).
Nesse contexto, cabe destacar a pesquisa de Scherre (2007) sobre a expressão variável do imperativo de 2SG com base em revistas em quadrinhos da Turma da Mônica publicadas entre 1970 e 2005. Nesse estudo em tempo real, a autora mapeou 3645 oco de imperativo de 2SG, sendo 2308 oco (63%) com forma indicativa e 1337 oco (37%) com forma subjuntiva. Os dados obtidos foram tratados estatisticamente no pacote de programas VARBRUL (PINTZUK, 1988), que gerou informações probabilísticas, em pesos relativos, sobre as construções imperativas presentes na amostra. Os números do gráfico (01), que representam as formas imperativas advindas do indicativo (2308 oco) distribuídas ao longo do tempo nas revistas pesquisadas, podem auxiliar a análise da inserção gradual do imperativo abrasileirado (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você) no PB.
Levando em consideração que, conforme Scherre (2007), as revistas da Turma da Mônica foram produzidas em contexto de você em posição de sujeito, através do gráfico (01), é possível acompanhar a predisposição gradativa da frequência de uso (BYBEE, 2013) da construção do imperativo abrasileirado (indicativo + você) no decorrer do tempo. Na pesquisa que originou o gráfico, Scherre (2007, p. 211) apresenta alguns dados que indicam a fração de tempo pesquisada, acompanhada do total de ocorrências imperativas, bem como os pesos relativos relacionados ao imperativo abrasileirado, juntamente ao seu número de ocorrência e sua indicação percentual. Esses dados podem ser sintetizados da seguinte maneira: 1970-71 (162 oco) → 0,04 (11 oco, 7%); 1983 (84 oco) → 0,08 (15 oco, 18%); 1985-88 (490 oco) → 0,37 (279 oco, 57%); 1998-99 (637 oco) → 0,44 (361 oco, 57%) e 2001-05 (2272 oco) → 0,62 (1642 oco, 72%)15. Desse modo, mesmo não apresentando equanimidade na distribuição total das ocorrências em cada fração temporal, os pesos relativos e o número de ocorrências apresentados por Scherre (2007, p. 211), que culminaram na elaboração do gráfico (01), confirmam a alta probabilidade de uso dessa construção, sobretudo a partir de 2001 (0,62), em que o peso relativo é maior que 0,5016.
Nesse sentido, se, em sincronias passadas, o imperativo abrasileirado não parecia ser frequente tendo em vista a baixa probabilidade de sua ocorrência demonstrada por esses índices, é provável que antigamente o falante17 utilizasse, em seu lugar, o imperativo verdadeiro (indicativo + tu) ou o imperativo supletivo (subjuntivo + você). Desse modo, seria possível confirmar no eixo diacrônico, a partir da Teoria do Uso (BYBEE, 2013), que a concepção do imperativo abrasileirado parece ter decorrido da relação entre o imperativo verdadeiro e o imperativo supletivo, construções que o antecederam no sistema linguístico do PB. Essa constatação é significativa, já que permite evidenciar um diálogo com o processo de mesclagem das construções imperativas de 2SG nos espaços mentais (FAUCONNIER; TURNER, 2002), entendendo que, ao longo do tempo, gradativamente mais falantes parecem ter optado, em termos cognitivos, por essa construção inovadora na expressão do imperativo de 2SG.
Outra possível análise para a emergência do imperativo abrasileirado no sistema linguístico à luz da teoria do uso (BYBEE, 2013) consiste no processo de incorporação do você na língua ao longo do tempo. Nesse caso, a inserção do você no sistema pronominal (LOPES, 2007; LOPES; CAVALCANTE, 2011) teria alterado o modelo exemplar de referência de 2SG anteriormente baseado no tu, promovendo, como consequência, a emergência da nova construção imperativa (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você) 18. Assim, assumindo que as revistas da Turma da Mônica seriam representativas da fala dos brasileiros em geral19, é possível atestar que a produtividade do imperativo abrasileirado está relacionada à elevada frequência de uso dessa inovação no PB. Em (15) e (16), estão expostos dois exemplos obtidos por Scherre (2003, p. 178) nas revistas analisadas que manifestam essa construção inovadora do PB.
- (15) É agora, Tonicão, faz o Gol! (Almanaque do Cebolinha - 54, Maurício de Souza, Editora Globo, dez/1999:75)
- (16) Psst! Não faz escândalo, Cebolinha!! (Cebolinha - 141, Maurício de Souza, Editora Globo, ago/1998:7)
Neste ponto, uma vez analisada a inserção gradativa do imperativo abrasileirado no PB de modo geral, é relevante averiguar onde essa construção tem sido utilizada com mais vigor no território nacional. A distribuição diatópica do imperativo abrasileirado (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você) pode ser observada no gráfico (02), retirado de Scherre (2007, p. 194), que aborda a expressão variável do imperativo de 2SG (indicativo versus subjuntivo) em algumas cidades brasileiras a partir de um compilado de estudos linguísticos que se voltaram para o tema.
Através dos dados do gráfico (02), em cotejo com a utilização das formas pronominais de sujeito tu e você pelos falantes brasileiros (a serem vistas posteriormente), é possível evidenciar a frequência de uso (BYBEE, 2013) das construções imperativas nas regiões do Brasil. Enquanto nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (Florianópolis, Rio de Janeiro, Brasília, Campo Grande, Rio de Janeiro) predominam as formas imperativas do indicativo (olha/faz/diz), na região Nordeste (Fortaleza, João Pessoa, Recife, Salvador), apesar da concorrência acirrada entre as formas, prevalecem as do imperativo advindas do subjuntivo (olhe/faça/diga). A fim de compreender a frequência de utilização da construção do imperativo abrasileirado (indicativo + você) no território nacional, é importante relacionar essa expressão variável à distribuição das formas pronominais de referência à 2SG (tu versus você) no eixo diatópico. Nesse sentido, Lopes e Cavalcante (2011, p. 39), à luz Scherre (2009), evidenciam, por meio do quadro (06), que, em cada uma das regiões brasileiras, podem ser encontrados um ou mais dos três subsistemas de utilização de tu e você.
De acordo com os dados do quadro (06), o subsistema I (você-exclusivo) pode ser encontrado em todas as regiões, excetuando a região Norte. Já o subsistema II (tu-exclusivo), pode ser visto apenas nas regiões Sul, Nordeste e Norte, dividindo espaço com os subsistemas de você-exclusivo e de você em alternância com tu. E, por fim, o subsistema III (tu/você) pode ser verificado em todas as regiões, coexistindo com outros subsistemas em alguns casos. Diante dessa distribuição, ao conjugar as formas imperativas (indicativo versus subjuntivo) constantes no gráfico (02) às formas pessoais de sujeito de 2SG (tu versus você) presentes no quadro (06), pode-se perceber que o imperativo abrasileirado (forma imperativa advinda do indicativo em contexto de você em posição de sujeito, cf. PAREDES SILVA et al., 2000, p. 121), embora apresente rastros nas regiões Sul e Nordeste, parece se apresentar com uma frequência de uso vigorosa nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Em síntese, à luz da Teoria Baseada no Uso, conforme Bybee (2013), pode-se entender que, mesmo convivendo com as construções imperativas verdadeiras (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + tu) e supletivas (deixe/receba/abra/dê/diga/vá + você), o imperativo abrasileirado (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você) tem se tornado gradativamente mais frequente no PB, sobretudo nas regiões Sudeste e Centro-Oeste que concentra grande parte dos brasileiros20. É razoável pensar que o falante conceba essa construção como um novo modelo exemplar que tem ocupado os espaços do imperativo verdadeiro e do imperativo supletivo no PB, evidenciando uma possível mudança em curso (LABOV, 1972, 1994). Provavelmente a construção do imperativo abrasileirado (indicativo + você) surgiu a partir de uma conjugação entre as construções do imperativo verdadeiro (indicativo + tu) e do imperativo supletivo (subjuntivo + você), conforme abordado na mesclagem entre os espaços mentais (FAUCONNIER; TURNER, 2002), e, uma vez impulsionada pela inserção do inovador você na fala do brasileiro, alastrou-se no Brasil tornando-se muitas vezes mais frequente que as suas predecessoras.
Assim, tendo apresentado a frequência de uso da construção do imperativo abrasileirado (forma indicativa em contexto de você-sujeito, cf. Paredes Silva et al., 2000, p. 121) ao longo do tempo no território brasileiro à luz da Teoria Baseada no Uso, estabelecendo o diálogo com a Teoria da Mesclagem Conceptual, passa-se, enfim, às considerações finais deste trabalho.
4 Considerações finais
O imperativo de 2SG no PB consiste em uma construção cujo pareamento forma e sentido se manifesta por um verbo conjugado no imperativo associado a um sujeito argumental de 2SG com a semântica do pedido, da ordem e da súplica, em uma ação ilocucionária. Essa construção pode se realizar através de três instanciações, denominadas imperativo verdadeiro (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + tu), com forma do indicativo com perda do morfe [-s] em contexto de tu-sujeito, imperativo supletivo (deixe/receba/abra/dê/diga/vá + você), com forma do subjuntivo em contexto de você-sujeito, e imperativo abrasileirado (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você), também com forma de indicativo com perda do morfe [-s], porém em contexto de você-sujeito. Com base em Golberg (1995, 2006) bem como em Traugott e Trousdale (2013), cada uma desses padrões consiste em uma instância da construção imperativa de 2SG na medida em que, embora apresentem relativas distinções em relação à expressão formal, mantêm seu sentindo unido pela semântica de ordem, súplica ou pedido, com uma força marcadamente ilocucionária.
Tendo em mente essas considerações sobre a construção imperativa, é possível responder assertivamente à questão proposta no início deste artigo: de que maneira o surgimento do imperativo abrasileirado (forma imperativa indicativa em contexto de você-sujeito, cf. PAREDES SILVA et al., 2000, p. 121) pode ser vinculada à existência das construções do imperativo verdadeiro (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai em contexto de tu-sujeito) e do imperativo supletivo (deixe/receba/abra/dê/diga/vá em contexto de você-sujeito) no PB?
As relações entre as construções imperativas podem ser depreendidas pelo processo de mesclagem, conforme Fauconnier e Turner (2002), com base na Teoria dos Espaços Mentais, postulada por Fauconnier (1994, 1997). As construções do imperativo verdadeiro e do imperativo supletivo são concebidas cognitivamente em domínios-fonte, dependendo da ativação de elementos linguísticos localizados no espaço genérico. Nesse sentido, infirmando a hipótese conjecturada nas considerações iniciais, o imperativo abrasileirado (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai + você) emerge, assim, a partir de um processo de integração conceptual ou mesclagem, por meio da conjugação entre a forma verbal da construção do imperativo verdadeiro (indicativo) e a forma pronominal de sujeito da construção do imperativo supletivo (você). É dessa maneira, portanto, que a emergência da construção do imperativo abrasileirado está vinculada à existência das construções do imperativo verdadeiro e do imperativo supletivo no PB. Essa constatação pôde ser confirmada por meio da análise dessas instanciações à luz da Teoria Baseada no Uso (BYBEE, 2013). Nessa perspectiva, tendo em mente a interpretação dos dados de Scherre (2007) extraídos de revistinhas da Turma da Mônica, verificou-se que o imperativo abrasileirado tem apresentado alta produtividade na língua, provocando alterações no modelo exemplar da construção imperativa de 2SG anteriormente baseado no imperativo verdadeiro e no imperativo supletivo. Essa frequência de uso parece trazer indícios, nos termos de Labov (1972, 1974), de um processo de mudança linguística que ocorre de modo mais intenso em regiões com elevado uso do você como referência de 2SG, como no caso das regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Todas essas considerações feitas, é imprescindível salientar as contribuições da Gramática de Construções, da Teoria da Mesclagem, e da Teoria Baseada no Uso para a realização da análise conceptual dos processos de variação e mudança linguística. Uma vez estabelecido o diálogo entre a Linguística Cognitiva e Sociolinguística neste trabalho, é inegável a necessidade de um maior estreitamento das relações entre as duas áreas para a compreensão de fenômenos, como o estatuto variável do imperativo de 2SG, que se impõem como fontes inesgotáveis para pesquisas linguísticas.
RESUMO
Main Text
1 Considerações iniciais
2 Fundamentação teórico-metodológica
2.1 A construção e suas propriedades
2.2 Os espaços mentais e a mesclagem
2.3 As construções na Teoria Baseada no Uso
3 O imperativo de 2ª pessoa do singular do português brasileiro em uma abordagem construcional
3.1 A construção imperativa de 2SG e suas instanciações
3.2 As construções imperativas no espaço mescla
3.3 O imperativo abrasileirado em uso na língua
4 Considerações finais