As religiões de matriz africana e intolerância religiosa

Autores

  • Kabengele Munanga Professor Titular aposentado do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.14393/RCS-v10n1-2020-57901

Palavras-chave:

Discriminação religiosa, Racismo, Religiões de Matriz Africana

Resumo

O objetivo deste artigo é fazer alguma reflexão crítica sobre as violências que permeiam a trajetória da população negra no Brasil, desde o tráfico humano transatlântico até os dias atuais, tendo como principal enfoque a discriminação religiosa embutida no racismo à brasileira, que impacta as religiões de matriz africana, em diferentes contextos, tornando-as alvo de perseguições e campanhas de destruição. Surpreendentemente, essas religiões resistiram, sobreviveram e se tornaram religiões brasileiras aceitas e frequentadas por cidadãs e cidadãos brasileiros de todas as cores. A questão que se coloca é saber como conseguiram resistir, sobreviver para se tornarem um dos patrimônios culturais brasileiro, cubano, haitiano, colombiano, venezuelano, entre outros. Onde estaria escondido o segredo dessa resistência, que surpreende o mundo diante de tanta força opressiva e destruidora pela qual passaram os africanos escravizados e seus descendentes de hoje?  Tudo deixa crer que, apesar da violência da qual foram vítimas, eles não abriram mão da defesa de sua dignidade humana, de sua liberdade e identidade.

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Biografia do Autor

Kabengele Munanga, Professor Titular aposentado do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo

Brasileiro por naturalização desde 1985, Kabengele Munanga nasceu na República Democrática do Congo, onde se graduou em Antropologia Social e Cultural pela Universidade Oficial do Congo (1964-1969). Foi nessa Universidade que iniciou sua carreira acadêmica como Professor Assistente (1969-1975). Em 1969 recebeu uma bolsa de estudos do governo belga (OCD) para iniciar seus estudos de Pós-Graduação na Universidade Católica de Louvain, Bélgica, onde permaneceu de 1969 a 1971. Nesse tempo, foi pesquisador no Museu Real da África Central em Tervuren (Bruxelas) onde se especializou em estudo das artes africanas tradicionais. No entanto, por questões relacionadas à ditadura militar instalada em seu país, teve que voltar sem terminar o doutorado. Entre os anos de 1975 a 1977, com bolsa concedida pela Universidade de São Paulo, conclui seu doutorado na USP, em Ciências Humanas (área de concentração em Antropologia Social). Foi professor visitante na Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1977), na Universidade Candido Mendes (1977), na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal (1979-1980), na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique(1999), professor associado na Universidade de Montreal, Canadá (2005-2010), onde ministrou seminários além de orientar projetos de mestrado e teses de doutoramento na Faculdade da Ciência das religiões. Fez a maior parte de sua carreira acadêmica como professor efetivo na Universidade de São Paulo, de 1980-2012, de onde se aposentou como Professor Titular, atuando principalmente nas áreas de Antropologia da África e da População Afro-brasileira, com enfoque nos seguintes temas: racismo, políticas e discursos antirracistas, negritude, identidade negra versus identidade nacional, multiculturalismo e educação das relações étnico-raciais. Organizou o livro “Superando o racismo na escola”, que foi o primeiro a introduzir a questão racial nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, livro cujas primeira e segunda edições foram prefaciadas respectivamente pelo ministro da Educação Nacional Paulo Renato e pelo então Presidente da República, Fenando Henrique Cardoso. Ocupou cargos de Diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (1983-1989), Vice-Diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (2002-2006), Diretor do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo (2006-2010). É autor de mais de 150 publicações entre livros, capítulos de livros e artigos científicos. Recebeu vários prêmios e títulos honoríficos, entre os quais: a Comenda da Ordem do Mérito Cultural, pela Presidência da República Federativa do Brasil (2002); Grau de Oficial da Ordem do Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores, Palácio do Itamaraty (2013); Prêmio Benedito Galvão, da Ordem dos Advogados do Estado de São Paulo (2012); Troféu Raça Negra 2012, pelo Afro-Brás e Faculdade Zumbi dos Palmares (2011); Homenagem como Decano em Estudos Antropológicos, pelo Departamento de Antropologia da USP (2008); Homenagem da Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo, ADUSP, em 2012, entre outros. Foi um dos protagonistas intelectuais negros no debate nacional em defesa das cotas e políticas afirmativas. Em setembro de 2016 recebeu o título de cidadania baiana pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia. Foi professor visitante sênior da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB, através de uma bolsa da CAPES. Em 29 de junho de 2018, recebeu o Prêmio de Direitos Humanos USP/2017. Em 2020, recebeu o título de Doutor Honoris Causa na UFRJ. 

Referências

Conferência Religiões de Matriz Africana e Intolerância Religiosa, proferida na Solenidade de Inauguração da sede do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Estadual de Londrina (NEAB-UEL), nomeado Casa Dona Vilma - Yá-Mukumby, em homenagem a Vilma Santos de Oliveira, valorosa liderança do Movimento Negro e da luta por Ações Afirmativas na UEL. O evento ocorreu no dia 26 de julho de 2018 no Anfiteatro Maior do CLCH, promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e pelo Laboratório de Cultura e Estudos Afro-Brasileiros (LEAFRO), coordenados pela Prof.ª Dr.ª Maria Nilza da Silva.

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Publicado

2020-11-19